Olhos Verdes

Ainda não amanhecia e Jânio estava acordado pensando. Pensava em todos os acontecimentos dos últimos dias, mas principalmente naqueles olhos verdes. Aqueles olhos verdes haviam lhe fincado algo que ainda não compreendia. Desde aquele encontro de olhos que todo o verde do mundo inteiro inundou sua vida, nada mais aquietava sua alma ou afligia que a lembrança daqueles olhos verdes. Sentia uma saudade, uma angústia sem sentido, uma esperança sem razão, uma vontade sem saber do quê. O Sol entrava pela fresta da janela trazendo calor e luz para o quarto que até aquele instante era verde, verde, verde; de um salto saiu da cama como se dissesse para o próprio corpo: “desperta dessa ilusão, vai trabalhar”.

O dia transcorreu como de costume: trabalho, trabalho, trabalho, e sem tempo para pensar, só lampejos verdejantes vieram-lhe à cabeça, em todo o dia algo lhe prendia alguns segundo que durava tempo demais a ponto dos colegas de trabalho começarem a perceber os surtos de olhares para o vácuo, para o nada, que Jânio dava. Sorrisos e conversas permeavam todos, sendo o alvo das mesmas, mas não havia percebido a situação; inerte a tudo que se passava ao seu redor, vivia a ilusão de que o tempo passaria o mais rápido possível para que estivesse novamente sozinho no seu quarto, santuário da imensidão verde de sua vida.

- Que passarinho tu viu Jânio?

- Como?

-Nada. Sorrisos

- Esta sentindo alguma coisa. Uma dor de barriga, uma fadiga qualquer?

-Nada não. Nada não.

Todos riram e ele mais uma vez não entendeu nada.

O tempo restante do dia transcorreu sem novidades e logo Jânio já se achava no seu quarto, absorto em seus pensamentos. Pensamentos esses, é claro: verdes, muito verdes.

Como são seus pensamentos, suas ideias, seus sentimentos? Tem alguém especial? Gelou-lhe o corpo todo. Estremecimentos percorreu todo o seu ser e por alguns instantes se viu perdido, completamente perdido na vida e na morte.

Entendeu naquele momento a possibilidade de não ser correspondido, não compreenderem seu sentimento, e uma dor insuportável lancinou seu coração, numa aflição nunca antes sentida. Lágrimas vieram-lhes aos olhos e não sabia se chorava, sentia medo, dor ou não. Se aquilo era amor era muito dolorido. Pensar em não ter aqueles olhos verdes nos seus lhe inundava algo enorme e profundo, intenso e aflitivo.

O cansaço lhe venceu e adormeceu em meio aquele momento de incertezas. Sabes que sonhou, mas não se lembra dos sonhos. O dia vinha raiando de uma maneira muito linda! O sol brilhava incondicionalmente e a brisa suave invade todo o seu quarto ao abrir a janela. O que pode esperar daquele dia!? Verá novamente aqueles olhos verdes perturbadores? Terá coragem de dirigi-lhe a palavra? Conjecturas apenas. O banho quente refrescava lhe a mente e o corpo, lembrando-lhe que era chegada a hora do trabalho.

Como de costume: trabalho, trabalho, trabalho, com certeza era o que lhe esperava aquele dia. Por onde andará? Que coisas estarão vendo aqueles lindos olhos verdes? Quando verei novamente? Eram perguntas que vinham e iam a sua mente a caminho do trabalho.

Tudo parecia mais belo que de costume, nunca havia percebido aquelas flores, aqueles pássaros, aqueles ares. Tudo com certeza parecia mais belo... Muito mais belo, muito mais verde, muito mais... Certamente estava apaixonado.

Ao longe tocava uma antiga canção “Aqueles olhos verdes...”

CARLOS MOREIRA
Enviado por CARLOS MOREIRA em 26/04/2017
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