Seu Nome...

Seu sorriso era tão brilhante quanto à cor de seu cabelo, um loiro tão vibrante que não ficava só ali, se espalhava entre os pelos de seus braços, de suas sobrancelhas, pernas e barba. Sua mão se movia freneticamente sobre as cordas do violão, a voz era quase inaudível, talvez não quisesse chamar atenção. Aquela música era suave e doce, embora eu só conseguisse entender a palavra “morena” me sentia nas nuvens com aqueles arranjos e tom de MPB.

- Com licença, preciso de dinheiro para pagar minha passagem do ônibus que sai daqui meia hora... – comecei a prestar atenção no homem com roupas coladas, que conversava com a mulher ao lado pedindo dinheiro. Ela dá algumas moedas e quando ele vem em minha direção tento disfarçar, tarde demais.

- Com licença, será que a senhorita teria al...

- Não, desculpa. – o interrompi.

O mesmo homem seguiu a fila das cadeiras e para na frente do loiro ao meu lado, nesse mesmo instante tudo a minha volta diminuiu a velocidade, queria prestar atenção em sua voz e sua expressão. Antes mesmo que o homem com a calça colada falasse algo o loiro disse:

- Foi mau, não tenho dinheiro nem pra mim direito amigo.

Seu sorriso de generosidade falha ilumina toda a rodoviária que já está ligeiramente escura por ser tão tarde da noite.

Aquela era a minha chance, já vira que ele é simpático então ser rude ele não iria ser comigo.

Apoie minha cabeça na minha mala que estava no meu colo e o observei deixar o violão de lado e pegar o celular no bolso de seu shorts xadrez branco e cinza. Ele olhou as horas e colocou em um jogo que não consegui identificar qual.

Com o celular entre suas mãos ele cruza sua perna esquerda sobre a direita, do jeito que homens fazem, eu consegui ver uma tatuagem bem grande na sua panturrilha, com uma cor verde viva como a grama saudável, infelizmente a distância não me permitiu saber qual era aquele desenho.

-Moço?- minha voz saiu um tanto relutante

-Hum? – ele virou o rosto ligeiramente pra mim esperando que eu continuasse.

-Toca de novo? –dessa vez digo mais suavemente, embora ainda muito nervosa.

-Estava legal?-Ele perguntou se virando e sorrindo pra mim pra mim, enquanto guarda o celular no bolso novamente e pega o violão.

-Sim, eu gosto de ouvir. – Presto atenção em como ele ajeita o violão sobre suas pernas, se encostando mais no banco.

O som começa suave, sua voz que nem chegava aos meus ouvidos me impediam de tentar ao menos descobrir que música era aquela. Presto atenção em seus dedos se movendo rapidamente sobre as cordas do violão, em sua pulseira bege na mão direita e em como ela se camufla junto a sua pele e seus pelos do braço.

O som começou a ficar familiar, minha cabeça trabalhava rapidamente procurando identificar aquela canção.

-...e me remete ao frio que vem lá do sul...- consigo, continuei cantando junto com ele, seu sorriso ficou mais largo e sua voz mais alta.

Todos ao nosso redor começam a prestar atenção na canção, alguns parando e olhando outros só continuando em voz baixa.

O motorista avisa que o ônibus havia chego, fazendo meu coração disparar, “será que ele vai parar de tocar? Vai ir sem nem terminar a musica?”. Porem, ele continua tocando enquanto canto junto. Quando a musica termina ele levanta e pega sua mochila dizendo:

-Vamos subir no ônibus? – Ele diz com um sorriso tão impressionantemente lindo que levo alguns segundos para responder.

-Não, esse não é o meu ônibus. – digo com tanta dor no peito que minha vontade era de ir junto com ele.

-Ah sim, então falou, tchau. – sem tirar o sorriso do rosto ele acena com a cabeça e vai.

Já no meu ônibus me mortifico por não ter ido junto com ele e por principalmente não ter tido coragem de perguntar nem ao menos seu nome.

Anna Lua
Enviado por Anna Lua em 19/01/2017
Código do texto: T5886212
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