Constelações

Eram exatas 4 horas da manhã, minha mãe me acordou aos gritos . Aquele era um dia especial pra ela e pra todo restante do reino também. Ela estava super feliz , pois iria trabalhar no palácio aquela noite, e só ótimas cozinheiras e de confiança poderiam trabalhar em um evento como esse, o Conde Vincent iria depois de longos anos visitar a família real e como isso, envolveria um grande acordo politico, o rei e seus conselheiros decidiram então dar um grande Baile de "Boas Vindas" ao Conde...ou melhor, aos novos acordos que isso presumia. E assim minha mãe foi convocada pelos responsáveis reais a prestar serviço ao seu soberano, nesse dia tão importante.Ela é muito devota ao rei e sem mais delongas, eles ofereceram uma razoável quantia. Aceitou e ainda ofereceu os serviços da sua filha mais velha, ou seja eu!

Eu não queria ir ao palácio! Ainda mais em um evento como esse... com pessoas da alta classe, garotas com seus vestidos bufantes que custam uma fortuna discutindo a importância das cores dos seus belos sapatos altos e imponentes, sem falar nas pessoas esnobes .

Mas com a minha mãe não havia meias palavras, e além do mais não tinha escolha. E não posso negar que realmente precisaríamos daquele trabalho extra, pois a colheita desse ano não foi a melhor, e o Gerald, meu irmão mais novo, precisa de sapatos novos e eu a quanto tempo não me prestava ao luxo de encomendar um belo vestido, então eu iria. Estava decretado, sem escolhas.

Então aquele era o "Grande dia", coloquei a minha melhor roupa... apesar que isso significava o vestido em que eu usava em todas as datas especiais, ele era em um tom azul escuro, com uma leve caída sobre o busto e abria cuidadosamente ate chegar as meus pés, eu ainda não sabia como ele cabia em mim, mesmo depois de tantos anos. Mas ele me deixava com a silhueta bem marcada e eu me sentia bonita.

Minha mãe estava impaciente, peguei minha bolsa que havia separado algumas coisas na noite anterior e fui ate a cozinha . Meu pai tomava o seu café olhando serenamente para o vão da janela, fiquei meio em duvida se devia ou não atrapalha-lo pois era poucos os momentos que ele reservava para si mesmo, mas percebi que era tarde demais quando ele se voltou pra mim com aquele belo sorriso que só o meu pai tinha :

__ Quando foi que aquele bebê que me acordava todas as manhãs, se tornou uma mulher tão linda? - disse ele, ainda com a xícara na mão.

___Pai - disse . Não pude evitar o sorriso. Ele me abraçou deixando a xícara sobre a mesa .

___Então... Melany, você sabe quanto isso é importante para sua mãe, ela está se sentindo especial e quanto tempo não víamos ela tão feliz , então tenha paciência com ela querida - ele disse me dando um beijo sobre a testa.

___ Eu prometo pai - eu disse, enquanto sacudia alguns farelos de pão que havia no casaco dele.

___ Obrigada querida, acho melhor você ir agora... ou se não sua mãe vai ter um ataque lá fora - disse ele.

___ Se cuida, enquanto estivermos fora - falei lhe dando mais um abraço, dessa vez mais apertado e fui em direção a porta.

___ Mel, só mais uma coisa - disse meu pai com a voz um pouco mais alto para que eu escutasse.

___ Sim, pai ... - respondi, virando para o ver melhor.

___ Tente não voltar com muitos pretendentes, - disse ele em tom de brincadeira e vi seu sorriso enquanto fechava a porta e virava em direção onde minha mãe esperava impaciente por mim .

Como "cozinheira real " ela agora era tratada com muito prestígio, se sentia importante ou pelo menos aquele sorriso e aquele orgulho era impossível de não perceber.

Os responsáveis reais providenciaram uma carruagem para que chegássemos na hora certa, e em total segurança pois havia rumores que certas coisas estranhas haviam acontecendo nas redondezas, e como não poderia dar nada errado naquele dia, pois os "Acordos" com o Conde dependiam do sucesso daquela festa, então tudo teria que ser feito com o máximo cuidado. Ao me ver, minha mãe apenas me reprovou com o olhar, pois dava pra ver que ela não queria que os "responsáveis reais " cogitassem a ideia de ela ser uma mãe sem escrúpulos.

No caminho todos permaneciam calados, apenas ouvia-se o barulho das marchas dos cavalos em contato com os cascalhos, raramente algumas pedrinhas se infiltravam debaixo das rodas o que resultavam em pequenas turbulências. O caminho era envolto de uma fauna estontante, grandes arvores de ambos lados ... em alguns lugares também podia se avistar grandes canteiros de hortaliças e vagamente se via uma choupana, e dava pra ouvir os gritinhos das crianças nas pequenas varandas. Minha mãe se mantinha firme, e nem se quer um momento olhou ou mostrou interesse em olhar para fora , ela era tão diferente de mim ...a não ser pela aparência.

Eu herdei os grandes cabelos castanhos e com grandes cachos. A boca era semelhante, o nariz talvez, os olhos amareados também ... já o porte eu herdei do meu pai, magra não tão alta, pelo contrário... poucos acreditavam que eu havia completado 18 anos a semanas atrás.

Despertei com a minha mãe anunciando a nossa chegada. Minha boca havia se aberto automaticamente e meus olhos se movimentavam pra todos os lados. Um homem de grande porte com roupas escuras ,abriu a porta da carruagem, minha mãe se recompôs passou a mão para desamassar as dobras do vestido e fez um sinal para o que eu fizesse o mesmo, eu obedeci.

Eu já havia passado perto do palácio algumas vezes, mas nunca tinha o visto tão de perto, meus olhos não puderam acreditar.

Era imenso, maior que a lavoura e as redondezas juntas, era lindo... imenso e várias pessoas e coisas saiam e entravam, havia um grande movimento, e o motivo já não era mais surpresa.

Fomos conduzidas pelo homem de roupas escuras até um corredor, ele nos mostrou uma porta e disse a minha mãe alguma coisa que eu não me preocupei em ouvir, pois os meus olhos ainda queriam ver tudo por ali, mas minha mãe me reprimiu :

___ Melany, esse é o aposento que vamos ficar nesses dois dias que prestaremos serviços para o rei, então não vamos perder tempo ... disse ela, enquanto lutava para abrir a porta.

___Mãe, tenta com essa aqui - disse, dando a chave da outra ponta.

E a porta se abriu. O quarto era bem bonito para servas ou como preferiria minha mãe "cozinheira e ajudante real" .Ajudei ela a colocar nossos pertences em uns pequenos armários, e me joguei na cama ... como aquilo era bom! minhã mãe riu por um segundo. Dava pra perceber a felicidade dela e isso me tornava feliz junto.

___ Mãeee, será que o papai... vai ficar bem sem nós esse dois dias? -disse .

___Querida, seu pai e o Gerald vão adorar ter um tempo só pra eles, longe das mulheres da casa - disse ela sorrindo, apesar da confiança que ela passava, eu sabia que ela sentiria muita falta dele .

___ Tomara que eles não botem fogo na casa- disse dando pequenos pulinhos e risadas, enquanto passeava sobre o quarto .

___ Nem fale nisso querida... Mel queria ir até a cozinha, para acertar algumas coisas sobre o cardápio pra hoje a noite. Você ficará bem aqui? e no mais vão precisar de você mais tarde, pra ajudar a servir -disse ela, já tomando o rumo da porta.

___Claro mãe, estou um pouco cansada e acho que quero dormir um pouco, pode ir - disse, já voltando para aquele sonho de cama.

___Que bom querida, então antes do por do sol você já deve estar na cozinha, o uniforme esta na segunda gaveta... Não se atrase ! - disse ele saindo. E essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes de adormecer.

Quando pisquei os olhos e olhei para a janela, percebi que já não passava luz mais por aquela fresta.

___ Não, não, não... minha mãe vai me matar ! eu não acredito burra...burra, isso já deve ser bem tarde - sussurrava sozinha enquanto vestia o uniforme as pressas.

Prendi o cabelo em um grande coque, peguei as chaves tranquei o quarto e sai desesperada.

___ Mas e agora ? como vou encontrar a cozinha nesse lugar enorme ?- sussurrava,enquanto consertava o cabelo que havia se desfeito e agora estava caído sobre os olhos.

A algumas horas atras, aqueles corredores estavam repleto de pessoas , agora estavam vazios. Todos já estavam na festa. Todos menos eu .

Entrei em um grande corredor, as suas paredes eram repleta de quadros de rostos, que pelo jeito e pelas joias escandalosas das mulheres só poderiam ser da realeza, passei por inúmeras saletas com candelabros enormes, por varias portas, subi uma escada íngreme e que dava varias voltas e nada! nem ninguém.

Então eu comei a escutar um pequeno som, resolvi subir mais uma escada com um grande carpete vermelho que a cobria, algo me dizia que eu não deveria estar ali mas onde se tinha música, tinha pessoas para escutar a música e eu precisava encontrar alguém, minha mãe iria me matar então se eu iri correr os riscos do mesmo jeito preferi seguir em frente. Agora dava pra ouvir a musica nitidamente, era uma música diferente, nunca havia escutado algo igual, era tão bonita e as batidas do meu coração estavam tão altas por causa da euforia que se misturavam a música, tudo aquilo era estranho. Avistei uma grande porta e agora sim, o som havia saído dali, então cheguei bem próximo e resolvi bater...

toc toc ... - Ninguém respondeu,

toc toc ... - Tentei novamente só que agora o som ecoou mais alto.

A musica parou, mas ninguém saiu.

Meu desespero me fez tentar novamente:

Toc, toc, toc ... Por favor tem alguém ai? é que eu precisava estar na cozinha, mas... - Dei uma pausa, e cogitei que seria em vão. Pois mesmo se houvesse alguém ali, esse alguém não queria ajudar pois as batidas ecoaram por toda a área e eram impossíveis de não serem ouvida. Então decidi que mesmo que mesmo que fosse necessário eu subir todas as escadas daquele lugar, eu subiria mas, encontraria. Me virei e sai em direção a próxima escada, confiante.

___Ei , espere! - disse, a voz vinha daquela porta que segundos atrás eu estava batendo.

Segundos depois ele estava na minha frente. Ele se apoiou no corrimão da escada, estava de calças normais e uma camiseta branca, aparentava ter 18 anos, o seu cabelo estava molhado e bagunçado o que deixava a pensar que ele acabara de sair do banho pois a camiseta trazia marcas de molhado e transparecia um pouco do seu tórax, ele parecia ser forte e trazia nas mãos umas espécime de relógio com um cordão do mesmo material.

___ Senhorita, lhe devo desculpas ... eu estava no banho e a música tocava, só logo após ouvi as batidas - disse ele erguendo minha mão onde repousou o lábio e lhe deu um beijo. Não sei quais batidas ele se referia, mas as que eu ouvia agora, com certeza não vinham da porta, mas de um lugar que eu não podia controlar.

Continua...

textosdaAne
Enviado por textosdaAne em 05/11/2014
Reeditado em 05/11/2014
Código do texto: T5024501
Classificação de conteúdo: seguro