Uma história

Em um dia, já perdido no fundo do tempo, tinha eu meus 9 ou 10 anos e brincava em uma praça no Bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, juntamente com um colega. Em dado momento, um senhor de mais ou menos 85 anos que se encontrava sentado em um banco próximo, dirigiu-se a mim e perguntou:

- Menino, você quer ouvir uma história?

Eu, que sempre gostei de conversar com pessoas mais velhas, imediatamente sentei-me ao lado daquele senhor e concordei em ouvir a história. De modo resumido, assim me foi contada:

Em uma determinada cidade morava um homem que vivia reclamando da vida. Para esse homem nada estava bom, tudo dava errado, ele trabalhava demais, não tinha casa própria, passava dificuldades para criar sua família, lutava contra doenças. Enfim, talvez fosse a pessoa mais sofrida do mundo. Chegou a pensar seriamente em suicídio. Um dia, estava esse homem trabalhando, como sempre reclamando da vida e da penúria do dia a dia, quando a seu lado apareceu, como do nada, uma pessoa já de idade, bem vestida e, como lhe conhecesse, dirigiu-lhe a palavra:

- Boa tarde, senhor, posso lhe falar um instante?

Assustado, pois não tinha visto aquela pessoa chegar, respondeu:

- Desde que não tome muito o meu tempo, pode falar.

- Pois bem -disse-lhe o estranho-, estou ouvindo o senhor reclamando o tempo todo da qualidade de sua vida e das dificuldades que passa para viver dignamente. Por isto, estou aqui para ajudá-lo. Poderia me acompanhar por uns minutos? Bastante desconfiado, mas pensando em resolver seus problemas, o pobre homem respondeu:

- Creio que ninguém pode me ajudar, mas quem sabe o senhor está falando a verdade? Como não tenho nada a perder, vamos, vou acompanhá-lo.

De repente, em um piscar de olhos, já estavam os dois em um lugar totalmente estranho, sem nenhuma casa, árvore, rios, sem nada. Era apenas uma imensidão de cruzes fixadas no chão. Eram cruzes de todos os tamanhos, da mais pequena a mais gigantesca, todas brancas. O descrente homem nada estava entendendo e perguntou:

- Muito bem, e daí, o que representa estas cruzes que me mostra?

O estranho com a voz mais pausada e calma do mundo falou:

- Cada cruz desta representa um ser humano que vive na terra. Quanto maior a cruz, maior o sofrimento dessa pessoa. Como você tem reclamado muito, estou autorizado a lhe ajudar. Pode escolher outra cruz para você. O homem, ainda desconfiado, saiu andando por aquela imensidão a procurar uma cruz bem pequenina para fazer a troca. Depois de muito andar, encontrou uma cruz tão pequena que quase lhe passou desapercebida, pois estava escondida em um canto. Na mesma hora, em voz alta, dirigiu-se ao estranho:

- Quero esta aqui!

O estranho, calmamente, concordando com a escolha do homem, falou:

- Tudo bem, pode ficar com ela. Apenas quero lhe dizer que você não fez troca alguma, pois esta é a sua própria cruz!

Cyro Freitas
Enviado por Cyro Freitas em 15/11/2017
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