QUE OLHO, HEIM?
Fomos passar o dia na casa do primo Zé porque era a comemoração do primeiro aniversário da caçula dele, com a esperança da prima Zenaide de que fosse a última, mas que pela disposição do primo Zé, seria apenas mais uma.
Já eram oito filhos e tinha espaço na casa, e no coração deles, para mais tantos quantos viessem.
Adulto em festa de criança não tem muito mais o que fazer depois que os enfeites são colocados nas paredes e que os móveis foram deslocados para ganhar espaço.
Então para não ficarmos a toa, sentamos na varanda para tomar cerveja, que ainda estava quente, mas por falta de outra coisa, servia assim mesmo.
Cerveja e amendoim torrado para acompanhar e dar alguma alegria aos dentes antes do almoço que, pelo andar da carruagem iria sair lá pelas quatro da tarde.
Nisso chegaram tio Orlando, a mulher dele, tia Celeste e a enxurrada de filhos para se juntar aos da casa e mais os da vizinhança.
Tia Celeste, com a mão machucada foi proibida de ajudar na cozinha e ficou sentada na varanda, conosco, sem ter o que conversar porque conversa de homem é em tudo diferente de conversa de mulher.
Para amenizar o nada a fazer, tia Celeste sugeriu ao primo Zé que fossem dar uma volta para ver a horta que ele havia feito aproveitando aquele pedaço de terra ao lado da casa.
Antes da horta propriamente dita, havia um caramanchão onde um pé de pimenta malagueta, aproveitando-se do encosto e do monte de estrume que ficara aguardando a vez de ser colocado na horta, crescera e estava super carregada com pimentas grandes, brilhantes, vistosas, capaz de provocar admiração até nos não apreciadores do famoso tempero.
Quando tia Celeste viu o pé de pimenta, quase tem um passamento de tanta admiração.
Pegou nas folhas, nos galhos, colheu algumas pimentas, mandou que um dos filhos lhe trouxesse a vasilha para colocar as frutinhas.
Uma festa.
Ficou tão impressionada que nem quis mais ir ver o restante da horta e voltou para a varanda tecendo os maiores elogios sobre a beleza da pimenteira.
Chamados para almoçar, fomos todos para dentro de casa e eu lembrei-me de colher algumas pimentas para preparar o molho para incrementar o almoço.
A cena em minha frente era de causar horror.
O chão estava verde onde caíra a maioria das folhas que ao serem pisadas, quebravam-se, secas, tornando-se pó.
As frutinhas murchas, escuras, se desfaziam nas pontas dos dedos antes de se soltarem dos pedúnculos e os galhos mais novos retorcidos como se a planta tivesse sido colocada num forno bem quente.
Sempre se comentou na família sobre o “olho de seca pimenta” da tia Celeste, mas dessa vez ela se superou.
Diabos levem...