Parafusos

(Carta pública àquela que merece ouvir isso, mas a falta de coragem me impede)

As coisas acontecem de forma louca em nossas vidas. Em um segundo tudo faz sentido: A sua existência é de fato entendida pelo seu ser, seus dias são vividos sem grandes expectativas e sua mente está sobre controle. Não contamos que no próximo segundo tudo vai mudar. Você entra em um espaço público em meio ao caos de um momento politico e encontra o único parafuso que está quase caindo da montanha-russa do seu ser. Tudo desmorona, claro, que de uma forma inconsciente. Sua mente segue a rotina de manter-se bem diante das provações, seu coração segue apaixonado por um proibido vagando pelos corredores e suas dores ainda permanecem sobe o controle da razão. Você nem se quer percebe aquela tal peça balançando em sua mente, sobe um fio já quase se desfazendo. Esse fio é na certa sua estrutura mental, que corre de você na velocidade da luz e quanto mais você tentar alcançá-la, mais forte o vento lhe arremessa para longe. Porém, ele não se desfez ainda, não nesse primeiro olhar.

A segunda vista é ainda mais caótica, em meio a uma multidão de corpos ébrios. O desconhecido é então ainda mais fascinante e as luzes que passeiam pelo local torna a vista mais agradável, mais intensa. Claro, o tal parafuso nem se quer consegue notar o meu olhar, que se tornou até um pouco devorador, ele nem se quer nota nada ao seu redor, além da sombra loira ao seu lado. O ecoar das letras em espanhol, os movimentos insanos de corpos e então uma palavra, uma única pergunta, que de nada adiantou.

A terceira vista, quase que impossível de acontecer, meses, longos meses depois, enfim chegou. Totalmente sem esperanças ou até entendimento do que ia acontecer. Ela estava lá, cercada de empecilhos e de mim mesma, mergulhada em inércia, medo e tremor. Nenhum passo foi dado, além de um ‘oi’ congelado no tempo.

A quarta vista, tudo mudou, ao menos para mim, só para mim. Seu olhar estava lá, seu respirar, seu toque, sua boca, seu cheiro, apagados no tempo que se passou, apagados na insegurança que se estabeleceu em meu corpo.

Finalmente, cansada de rebolar sobre um fio, o parafuso caiu no breu do meu coração fixando suas raízes, fincando sua existência ali, mesmo que tentando escalar e se livrar das amarras das minhas dores, ele está lá, inconscientemente, indesejavelmente. Agora, o que resta é esperar, que cansado de escalar, ele perfure as paredes e deixe um buraco no coração esgotado da vida e então caia sobre o fio cortando-o ao meio, tirando a sanidade dos meus braços, levando-a para longe, o mais longe que a luz possa levar.

(Perdoe qualquer erro, esse texto foi escrito no calor do momento)

Analu Stinger
Enviado por Analu Stinger em 12/09/2017
Reeditado em 12/09/2017
Código do texto: T6112079
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