amar com a força de uma Flor desbravando o asfalto

às vezes a gente quer um amor que saiba o nome de todas as cidades importantes do Panamá, mas que se não souber, não tem problema também, porque há amor

alguém que não coloque a mão na frente dos olhos quando o sol for forte demais

ou a entrega for comprida demais

ou os beijos forem extensos demais, capazes de curar mágoas e angústias antigas

alguém que volte pra casa e avise que está voltando, mas que se não avisar e fizer surpresa, tudo bem tudo bem

pois o sorriso estalado no meu rosto às sete da tarde será a melhor coisa da semana pra nós dois

que se preocupe em trazer brócolis da feira, mas que me leve aos mais indelicados festivais de coxinha

e que se atente, a pessoa que deterá meu amor, para minha agonia mais sutil num dia mais cabal

vai me olhar, serenizado, e me perguntar: "com qual das mãos posso esmigalhar as suas culpas?"

não precisa entender de poesia

mas que entenda as vezes em que precisarei me ausentar

mudar de quarto

erguer muros literários

eu quero um amor que me aponte no mapa todas as possibilidades de conforto. quando, entre um dia e outro, existe a vontade de fugir pra cidade vizinha.

alguém que arrume minhas malas sem que minha consciência perceba a tempo

e que me roube

me roube!

foge comigo pra algum lugar distante?

às vezes a gente só quer sair do mundo, entrar em outro, pular em outras águas, experimentar do amor entrando na pele de maneira distinta, com gosto de adrenalina lá no fundo do organismo, lá no fundo do organismo

um amor que me coloque sobre os ombros e corra comigo como numa fotografia antiga e velha, quando o mar desponta no peito uma vontade de infinitude

um amor, um alguém-amor, para ser esse mar profundo, que não me traga medo de me afogar

a última vez que me afoguei, quase morri.

mas não quero morrer, porque amor não mata ninguém.

um amor que não se importe de dividir o mesmo espaço-tempo, o mesmo livro de literatura mexicana, o mesmo fone de ouvido, a mesma vontade de ter um jardim em casa, o mesmo anseio de escrever nas paredes da sala, a mesma vontade louca e inóspita de correr pelas ruas da cidade e só parar quando cair, quando o joelho ralar e o corpo pedir arrego

um amor-alguém para ser louco comigo, em mim, tão dentro de mim que mundo nenhum poderia furtar

alguém para debater os limites da fronteira entre a pele e o peito

entre aquilo que grita e queima

e que fica em nós e não volta

alguém que não me ache louco ou insano por gostar demais dessa coisa vertiginosa de escorrer pelas linhas do universo e estar fadado a tudo que me tira daqui, arrebata e me leva noutra dimensão

às vezes encontro deus mas não conto a ninguém

[agora vocês sabem]

algum amor-alguém que me faça ter vontade de amar novamente

e amar sem temer

amar com a força de uma Flor desbravando o asfalto

amar com a ânsia de quem precisa muito se salvar

porque o amor salva o mundo

porque o amor é a gravidade segurando o menino-mundo na corda bamba da vida explodindo

eu encontrei esse amor

explodindo

explodindo.......

obrigada por esse amor

você é o meu amor.

Emanuele Rodrigues
Enviado por Emanuele Rodrigues em 27/06/2017
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