A Primeira Carta Que Te Escrevo.

É noite, os meus cigarros me fazem falta, e a inexistência de uma bebida amarga em casa me deixa sóbrio o suficiente para que eu possa escrever mais esse texto. A minha embriaguez hoje vem de outra maneira, ela tem nome, sobrenome e endereço.

A pouco mais de um ano, para ser mais preciso no dia 10 de março de 2016, um moço com um nome um tanto quanto inusitado me manda uma mensagem por volta das 11 e 50 da noite – por algum motivo respondi e acho que foi a melhor coisa que fiz naquele dia – desde então nem que seja a cada seis meses eu consigo encontra-lo, mas vamos por partes.

Passados os primeiros clichês característicos de quando se está conhecendo uma pessoa, por algum motivo estávamos na mesma cidade e por iniciativa não lembro de quem resolvemos nos encontrar. O lugar parecia não o mais aconchegante – afinal era uma estação de trem abandonada – e aquele silencio ensurdecedor característico de quem não tem o que falar no primeiro encontro deu lugar a historias que tentariam explicar um nome desses além de abraços e beijos.

Passado o primeiro encontro, poderíamos ter parado por ali e achar que foi só mais um fica qualquer, porém resolvemos uma segunda dose pouco mais de um mês depois, adivinha o local? Na mesma estação, ao meio dia e eu quase perderia uma prova da faculdade se não fossemos interrompidos pelo cara sem noção que entrou lá – nunca vou perdoar aquele maldito.

Por algum motivo continuamos conversando até que em um dia de agosto – confesso que ainda lembrarei a data certa – consegui fazer com que ele voltasse por aqui, dessa vez não foi em um lugar velho, mas em uma calçada, parece improvável encontrarmos um lugar decente. Infelizmente ele foi embora mais uma vez e não pude segui-lo.

Tive que esperar quatro longos meses, para que o meu presente de ano novo fosse um beijo daquele moço. Eu queria poder ter amarrado ele a mim e não ter soltado mais. Colocamos o papo em dia e eu ainda o roubei o cordão com a alegação pífia de que era para lembrar dele – e de fato me lembra até hoje – mas como isso já tá parecendo uma sinopse de novela mexicana, adivinha? Dessa vez eu fui embora.

Esperei seis longos meses, e quando o vi a vontade mais eloquente que eu sentia era correr e abraça-lo, mas não pude, existia uma grade entre a gente e tive que esperar os mais longos 35 minutos da vida, passados pude conversar, abraçar e matar um pouco da saudade que se acumulou durante esses seis messes. Quer saber como terminou? O moço se foi novamente.

E nessa brincadeira de idas e vindas, já se passou mais de um ano desde a nossa primeira conversa até o ultimo beijo na noite anterior, e como eu disse no inicio , estou aqui embriagado por uma vontade louca de encontrar esse moço novamente, logo ele que me faz ter vontade de vivenciar todos aqueles clichês que envolvem as pessoas, logo ele que me faz fazer uma carta enorme e ter a petulância de me aventurar nas escritas mais pessoais, logo ele que me faz quere-lo perto sempre, acho que só ele para a essa altura do campeonato me fazer fantasiar algo.

Você me mostrou o seu amor pela dança, e eu pude conhecer o seu sorriso, o seu abraço, o seu corpo, seu beijo. E hoje escrevendo essa carta, em meio a uma crise de abstinência por estar a um dia sem encontra-lo me percebo abobalhado e bestializado como uma criança que olha um brinquedo através da vitrine na intenção de um dia tê-lo. Quem sabe se eu pedir com carinho eu consiga!

Auricio Araújo – Iguatu 19 de junho de 2017.

Auricio Araujo
Enviado por Auricio Araujo em 20/06/2017
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