4º DIA SEM ELA.

Não é de costume acordar cedo aos finais de semana, mas naquela noite coloquei o despertador para tocar ás 08:00 h da manhã porque queria resolver o problema da parede o quanto antes.

Ás 09:00 h já estava no “Econômico”, uma loja de construção e reforma para casa. Encontrei a cessão de tintas e fiquei tentando escolher uma nova cor para preencher meus olhos, a pergunta de quem seria pago para dar nomes tão peculiares as tintas me veio à cabeça. Pensei que se ela estivesse lá comigo escolheria cor cheiro de lavanda. Eu estava escolhendo uma cor que tirasse o azul dela da minha parede e substituindo por outra que ela certamente amaria.

Fiquei pensando enquanto olhava tantas cores como conseguiria arranca-la do peito se não era capaz de nem tira-la da parede do meu quarto. Sai da loja sem nenhuma tinta, nem mesmo aquela verde, que tinha o nome de esperança.

Ás 10:00 h passei pela padaria do Columbia coisa que eu nunca mais havia feito, desde que a gente resolveu trocar a padaria pela doceira “Big Nega Maluca” nos altos de uma Farmácia. Nunca mais havia me permitido esse pequeno prazer, nem mesmo quando estava sozinho, pensava que de certa forma isso poderia ser uma traição, percebi que por ela me privei de inúmeras coisas e prazeres para estar ao seu lado, e ela: Ela se privou de algumas amizades coloridas por não me merecerem-na assim disse ela. Apreciei um café, quente e forte.

Passei em uma cessão de livros e procurei algo que não me fizesse lembra-la, me senti como o Tom Cruise em Missão Impossível, tudo ali me lembrava ela e o seu jeito intelectual ao mesmo tempo espontâneo de ser. Sempre gostei de ler e escrever, ela também na verdade ela era uma poetista de alma cheia, Algo incomum entre nós que ela não foi capaz de se lembrar já que listou todas as coisas que não possuíamos em comum.

-Droga, como posso ocupar minha vida com outras coisas se ela está tão lotada e socada dela em todos os cantos e por todas as partes?

A tarde encontrei com alguns amigos que felizmente não era "nossos" amigos, algo ainda era só meu. Tomamos umas cervejas, falamos sobre trabalho, casamento, viagens, baladas, carros, motos e outros assuntos tão irrelevantes quanto os demais que já nem lembro mais. Nos despedimos com a velha frase "Vamos marcar algo".

A noite fui ao supermercado “Econômico” também, porque lembrei que minha garrafa de vodka estava próximo ao fim, era algo que já tinha desacostumado a fazer. Passei na padaria e quando ia pedir pão olhei para a atendente e logo me veio que seria constrangedor pedir apenas um pão desisti. Voltei para casa com uma vodka e pacote de salgados que estragaria antes de conseguir chegar na metade.

Tomei um banho longo e quente e pela primeira vez nesses quatro dias não pensei nela foram os quinze minutos mais silenciosos que tive durante esses dias. Coloquei um shorts e fui para o quarto, sentei na cama e ali estava eu de volta a parede azul, de volta a ela ou que me restava dela.

De repente por um instinto um tanto infantil admito peguei uma caneta e comecei a escrever na parede: odeio seu ex, odeio quando me faz espera, odeio quando não liga, odeio como você é feliz sem min, odeio a maioria de seus amigos, odeio te amar, odeio quando você fica chateada, odeio quando você diz que eu to errado. Listei pelo menos 30 coisas que odiava nela e que ela fazia. Foi como socar alguém, fez um bem danado. Quando terminei fiquei ali parado olhando a parede antes tão azuis tão dela, agora cheio de rabiscos e seus tão longos defeitos, pensei o quanto isso a deixaria puta de raiva, que se dane. Ela fez exatamente isso com meu coração, pinchou suas manias e loucuras, me rabiscou com sua intensidade por inteiro e depois como um papel de rascunho me jogou fora.

Naquela noite deitei a cabeça no travesseiro e dormi, acredita?

Esse foi o quarto dia sem ela.

Patrick Cordeiro
Enviado por Patrick Cordeiro em 17/06/2017
Reeditado em 17/06/2017
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