Já morreu

Há dias eu só encosto em paredes frias, queria um abraço, mas só recebo o aperto. Parte da separação constante entre o que sou e o que não posso ter, definitivamente, não posso, ainda não mereço. E o frio das paredes ao menos alivia a dor nas costas, há males que não nos matam. É a negação, Freud explica, insustentável. Me segurem, posso me atirar a qualquer momento. Verdades não ditas me tiraram a dignidade, sou uma fraude apática no fim desse corredor, chorando no fim de uma fila, esperando do lado de fora de um hospital, sentando na calçada no fim de um grande evento e vendo todos irem embora acompanhados, eu sou aquele que está ficando para trás. Não basta explicar de onde irei me projetar, é preciso explicar o motivo, deixo escrito que o motivo é a minha incapacidade de ser melhor, mas não escrevo o que sou.

Gabriela Gois
Enviado por Gabriela Gois em 14/05/2017
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