Olá Nicolas


Vou contar para você coisas sobre o Peru. Seu litoral desértico é banhado pelas águas geladas do Oceano Pacífico. A corrente fria de Humboldt traz nutrientes para um cardume de peixes favorecendo o fenômeno da ressurgência e consequentemente a atividade pesqueira no país. O ceviche é um prato típico peruano feito com suco de limão e picante chamado de “Leite de Tigre”. Nas ruas de Lima é comum comer essa iguaria. Em Cusco, que situa-se nos Andes, o ceviche sai de cena como comida típica. 

Em Lima está o Museu da Gastronomia que mostra em mapas, fotos, textos e receitas culinárias tudo que se come no Peru. No Peru come-se pescado, milho, batata, quinua, pimenta, banana, arroz, feijão e muitas coisas mais. O tacu tacu, um prato feito misturando arroz, feijão, farinha de mandioca, pimenta, creme de leite e carne contribui para o enriquecimento da culinária peruana.

O pacífico peruano é seco. Onde tem rio exorréico, ou seja, aquele que suas águas correm em direção ao mar, existe oásis de vegetação e se pratica agricultura comercial voltada a exportação. San Vicente de Cañete situa-se em um desses oásis agrícolas.

O povão do pacífico vive em favelas construídas no meio do deserto em condições insalubres sem nenhuma política pública. Lima é uma ilha de prosperidade em Miraflores cercada por um mar de favelas. O Peru do Pacífico é onde perversamente se concentra o dinamismo econômico e a população do país. 

A população se aglomera em cidades do pacífico como Lima, Trujillo, Chiclayo, Chimbote, Piura, Callao, Ilo e Moquegua sobrevivendo na marginalidade e na informalidade.

O Peru Andino é o Peru do passado. É o Peru mineiro. É o Peru que começou com as minas de prata de Huancavelica nos tempos coloniais. É o Peru Indígena. O Peru das montanhas mágicas dos Andes. Cusco, Arequipa e Puno são as principais cidades do Peru Andino. 

Cusco foi a capital do império foi destruída pela pólvora do colonizador espanhol. No filme Diários de Motocicleta, Che Guevara narra a decadência do Império Inca dizendo: como uma civilização que construiu Macchu Picchu e tinha conhecimentos avançados de astronomia, matemática e engenharia foi arrasada a tal ponto que hoje se encontra oprimida nas periferias peruanas mendigando emprego e política assistencialistas do governo.

José Carlos Mariátegui em seu livro “Sete ensaios da realidade peruana” diz que o problema do indío é o problema da terra. Quando se tira a terra do índio mata-se a vida e a cultura do índio. A terra é a alegria e a razão de existência do índio. O índio é oprimido pelo catolicismo e o idioma espanhol. O sistema educacional e religioso estabelecido pelo colonizador oprime os povos originários que são obrigados a serem “brancos sem mudar de cor”. São obrigados a negar sua própria cultura, sua essência e seu sentido de existência em nome de uma coisa superior vinda de fora e que deve ser padronizada no mundo inteiro. O eurocentrismo que subestima outras civilizações. 

O Peru das montanhas derruba um mar de homens em lágrimas. O Peru de Macchu Picchu (Montanha Nova) que está acompanhada pelo seu pai, a Wayna Picchu (Montanha Velha). A Montanha Nova vive em harmonia e sintonia com a montanha Velha.

O rio Urubamaba faz o seu espetáculo na natureza assistido por uma plateia formada por um amar de montanhas. A linda Cusco de Qoricancha, de Sacsayhuaman, de Moray, De Chinchero, de Ollantaytambo, dos artesanatos feitos com lã de camelídos, dos mercados de Wanchaq e San Marcos e de muitas outras atrações turísticas que não me lembro mais o nome.

Tem o distante e esquecido Peru Amazônico, o Peru da selva tropical de clima quente e úmido. O Peru do futuro. O Peru das cidades de Iquitos, Pucallpa e Ucayali. O Peru da sociodiversidade e da biodiversidade escondidas na imensidão da Floresta Amazônica.

O Peru cultural é tão maravilhoso quanto o Peru gastronômico. O Peru que baila o apoteótico som das zamponhas que ecoam nas festas do “Wiñay Qhantati Ururi”. A sicureada dos povos da montanha e a marinada do litoral norte são alguns componentes da rica cultura peruana. Mesmo oprimido nas periferias das grandes cidades os povos das montanhas do Peru mantêm sua cultura na gastronomia, na música e na construção de suas casas. Por mais que o opressor oprima ele não consegue suprimir a cultura do oprimido. Um abraço do Brasil até a França para você.


 
Bruno Valverde
Enviado por Bruno Valverde em 29/04/2017
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