O que nunca escrevi.

Queria poder dizer que não direi mais nada do que me vier, mas minha alma de poeta não me permite calar-me. Queria dizer que o sonho que outrora tive, não passava de uma ilusão causada pela noite intrépida, e que logo mais haveria de acordar. Queria poder gritar ao mundo sobre nós, mas tua alma de cigana não me permite anunciar-te, fazendo do silencio tua arte mais sublime. Queria poder dizer que não sei o que aconteceu, mas estaria mentindo a nós, queria dizer que somos um, mas teus sonhos não me querem mais como um dia quiseram. Queria teus beijos, mas tua boca rude não aceita meus lábios estranhos. O que dizer? Talvez que minha falta te faz chorar? Mas não sei se te falto a tal ponto, afinal, recentemente foi-se embora de mim. Queria poder tocar-te o rosto, mas minhas tremulas mãos não me deixam, queria te ver, mas meus cansados olhos não o querem, nem eles mais me obedecem. Quero dizer que de tudo que deixas-te, hoje o que mais me falta são teus olhos apaixonados no escondido da cidadezinha que te vi pela primeira vez. Quero te pedir desculpas, se o motivo que ter ido foi algo que fiz, algo que te disse sem minha velha atenção se aperceber. Só queria que voltasse, que me visse, que sorrisse para apreciar teu rosto. Só queria ter escrito esta carta antes de fechar os olhos, e aos poucos vê-la partir, só queria te ver sorrir, só queria que tivesse sido real, esse meu bucólico amor platônico pela vida.

Felipe Chaves
Enviado por Felipe Chaves em 23/04/2017
Reeditado em 18/06/2018
Código do texto: T5979189
Classificação de conteúdo: seguro