Uma cerveja com meu ex

Serei sincera e confessarei que eu nunca fui daquelas que se apega a relacionamentos duradouros, nem a sentimentos meia bocas e superficiais. Eu sempre gostei do que era forte e real, e nada mais real que o momento. Sempre fui uma menina que vive o momento. Se o momento era do cara de cabelos dourados e olhos verdes, ok. Agora, se o momento seguinte era do cara de olhos castanhos, bem-vindo então.

Não me entendam mal, nunca fui uma pessoa que fica com todo mundo da faculdade, mas sempre estive aberta às pessoas que queriam, realmente, algo de verdade. Que queriam fazer uma boa coleção de memórias. E acredite, consegui muitas. No entanto, minha vida foi sacudida quando um menino de um metro e setenta apareceu com seus cabelos pretos e trocou algumas das minhas certezas de lugar.

Peguei-me apaixonada. Peguei-me pensando no futuro, nada focada no momento. Eu queria mais. Queria fazer planos. Eu queria finais e finais de semanas juntos, viagens de fim de ano. Quero que saibam: foram os melhores três anos da minha vida. Eu passei a gostar da rotina e me interessei em cumpri-la só para, no final da noite, conseguir chegar em casa na hora certa e escutar ele buzinar na minha porta quando saísse do jiu-jitsu. Conheci cada amigo dele. Cada parte da infância que ajudou a construir aquela personalidade que eu tanto amava. Eu aprendi até a gostar de cheesecake de baunilha já que, Deus sabe lá porque, ele gostava – e só comia cheesecake nas festas.

Peguei-me carinhosa. Peguei-me secretamente motivada a me tornar uma pessoa melhor e a entender os outros. Toda aquela autossuficiência que eu tinha, sumiu. E não sumiu porque fiquei dependente, mas porque aprendi que a vida acontece ao lado dos outros, e que é besteira achar que a gente não precisa de alguém para se apoiar. Nós podemos sim sermos felizes sozinhos, mas não precisamos. E você me ensinou isso. Ensinou-me isso e muito mais. Inclusive, me provou por A+B que as mentiras são o pior veneno e que o para sempre não existe.

Foi uma pena, no final das contas.

Tudo acabou, mas segui uma pessoa melhor. Saí do nosso relacionamento como um ser humano mais evoluído e com a certeza de estar no caminho certo. Três anos se passaram e milagrosamente não bati contigo na faculdade. Ironicamente, no último dia de aula… lá estava você no lugar onde o vi pela primeira vez. Faculdade, no bar dos universitários. Você acenou para mim. E eu sorri, é claro. Por muito tempo você foi o amor da minha vida. Revi seus amigos, cumprimentei a todos. Você puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar. Seu cheiro era o mesmo, o uniforme também, entretanto, algo estava diferente. Você estava diferente.

A gente se encarou. Acho que depois de todo o tempo em que não nos vimos, aquele encontro me fez ter a impressão de que estava vendo você pela primeira vez. Você me ofereceu uma cerveja. Eu aceitei. Rimos das mesmas coisas, falamos sobre os mesmos assuntos, mas o tom da tua risada não era o mesmo. Você parecia mais cansado, menos convencido e, com certeza, menos revestido naquele charme exacerbado e forçado que você possuía. Agora, você parecia mais real, mais humano. Não fez diferença quando cruzei a escada e desci a rampa para o estacionamento, você não era mais meu. Deixei a mesa sabendo que ainda sou uma menina de momentos e que, feliz ou infelizmente, o seu passou.

Mariana Ravelli
Enviado por Mariana Ravelli em 22/03/2017
Código do texto: T5949109
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