De Mimi para Chechel

Querido, mon cher chéri,

confesso-te que salivei só de ver a cara de antegozo com que encaraste a picanha naquela churrascaria em Brasília. Podias bem ter-me convidado, malvado! Sabes bem do fraco que tenho pela carne bovina. Como pela ovina, bubalina, equina - menos a caprina, muito embora a buchada de bode que saboreei com Indignácio na festa de transposição do São Francisco não estava nada má. E tinha o gosto popular. Como sempre, o Lu, roubou a cena. E fique até arrepiada de tanta piada obscena. Mas era mais obscena a vida daquela gente de antes da obra.

Soube por lá que não reivindicaste a paternidade daquele empreendimento redentor. Que modéstia, darling querido, estivemos sempre juntos, desde a formação de nossa vitoriosa chapa. Será síndrome de vício de Vice? Vixe, deixa de (a)tolice. Somos todos pais, inclusive a que ora te fala.

Pois é, andam divulgando pelo zap uma fotografia em que apareço ao lado da bela Cristina e dos guapíssimos Escobar e Cerveró, numa mesa cercada, inclusive, de crianças. Festa infantil, me lembro bem. Até o whisky era novo, Johnnie Walker, red label, de apenas cinco anos. E não é montagem. A montagem, asseguro-te, foi depois. Cena digna dos sonhos de um Romero Suruba Jucá.

Mas guardemos essas coisas pessoais, aquele congresso carnal foi de ânus atrás. Já não temos mais aquele pique de outrora. Éramos então jovens e belos. Hoje, continuamos belos, e belos seremos até que em pó nos transformemos. A vida é assim, aécim...

Muito trabalho pela frente. Até o domingo, dia do repouso, foi-te tomado em razão da precipitação dos fatos, que muitas vezes não são mais que boatos. E temos a ingrata tarefa de os desfazer de forma robusta e cabal. Daí, a minha imorredoura admiração por ti, tua tenacidade e retidão de caráter diante das mais assombrosas adversidades.

E nem ao menos reclamaste da desatenção do Janot em não incluir-te na lista dos famosos, mantendo-te sereno e compenetrado com o teu incansável labor. Aplaudo-te de pé. E fá-lo-ei também no dia em que chegar - e logo chegará - a tua imortalidade através do reconhecimento da ABL. O incansável Alexandre Frota, que tem o assombroso dom de línguas já está cuidando de verter tua obra literária para algumas línguas européias, em que inclui o árabe e o farsi.

Destinatária - e de posse - de teu Opus Magnus, a carta que me escreveste ainda em novembro, incluí-la-ei na coleção alexandrina, se nada obstas. É peça seminal para qualquer missivista que almeje vôos mais altos, como um Fernão Capelo Gaivota. Ou um condor andino.

Bessias, nosso Apolo-estafeta, já está montado em sua Lambretta, ouço a estridência de sua discrição, que só sua surdez entende. Se e quando puderes, dá-lhe um aparelho. Não deixes cair no olvido.

E Trump ligou! Depois, me contas?

Bises d'un coeur en fête!

PS: Ficas sem pão-de-beijo hoje por me teres privado da picanha!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 21/03/2017
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