Carta do fim

Querido Caio,

Mais uma história de amor acabou. Assim como outras tantas, a nossa não alcançou o seu “felizes para sempre”. Tudo bem, sabe, acontece nas melhores famílias e nas piores também. Não diga que estou sendo fria, você sabe que eu também queria que tivesse dado certo. Enfim... vim apenas arrumar as minhas coisas. Tirar da sua vida perfeita a bagunça que eu causei com o meu caos interior. Prometo não demorar mais.

Fechei a derradeira mala. Tentei pegar tudo, para nada ficar para trás e eu não ter que voltar (e você pensar que é uma desculpa para te ver, por mais tentador que isso seja). Além disso, eu acho que, quando a gente sai da vida de alguém, tem que se esforçar para tentar deixar do jeito que encontrou. Mas é claro que o meu cheiro ainda ficará nos lençóis da cama bagunçada, a marca do copo gelado de refrigerante na sua mesinha de centro denunciará a minha presença na tua vida, o fio de cabelo louro na sua camisa onde afaguei tantas vezes o meu rosto. Talvez veja o meu reflexo no espelho da sala de jantar ou na falta do porta retrato em cima do criado mudo. Contudo, não se preocupe, uma hora a vida se encarrega de empurrar para longe das suas memórias a minha imagem desbotada. Bola pra frente, esquece essa daí.

Eu também fico com lágrimas nos olhos lembrando da gente. Divagando em recordações, em minhas insônias companheiras, vem em meus lábios um riso frouxo. Fomos felizes, eu sei. Olhando para trás, ao ver tudo o que a gente foi, o que fomos um para o outro, enxergo a perspectiva de que o que a gente teve, o que quer que tenha sido, foi bacana pra caramba. Isso é tão raro de acontecer, não é? Olhar para um relacionamento e só se lembrar das coisas boas. As pessoas nos perguntarão: “Por que acabou, então?” Bom, se sentimentos fossem remédios, eu leria a bula e descobriria como fazer durar para sempre o amor, mas não são e eu não sei explicar como deixei de te amar. Se soubesse, eu faria diferente, só para te amar para sempre.

Você acharia confuso se eu dissesse (claro que acharia, eu também acho) que uma parte de mim ainda te queria pra mim? Mas, sabe, eu não posso fazer isso. Não posso continuar com você, mesmo querendo. Não seria justo com você, uma pessoa tão incrível, arrancar o que existe de melhor sem te oferecer nem metade disso em troca. Não sou esse tipo de pessoa: se é para amar, tem que ser na mesma intensidade. Sei que possivelmente argumentaria que tem amor para nós dois, mas eu não sou sanguessuga.

Acabou. Acabou. Preciso repetir quantas vezes forem necessárias para eu e você nos acostumarmos com a ideia. Percebo, que por mais eu tente, nunca vou entender o porquê, e corro o risco de você me odiar por te oferecer as piores desculpas esfarrapadas. Relacionamentos são complicados, términos doloridos, por mais amigáveis que sejam. Nunca é fácil terminar e nunca sabemos o que devemos ou não fazer. Com algumas pessoas dá certo, se tornam até amigas. Com outras, não, e se instala um ódio mortal. Com a gente queria que ficasse tudo bem. Seria pedir demais?

Eu odeio o clichê, você sabe, mas a vida, às vezes, é bem óbvia. No entanto, enquanto eu fechava a derradeira mala, só conseguia pensar em uma coisa para te deixar nesta carta: Obrigada, foi eterno enquanto durou.

Com carinho,

Lívia

P. S.: Eu fechei a porta e deixei a chave embaixo de extintor. E se posso pedir um favor, não deixa o nosso girassol morrer.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 18/03/2017
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