A você

Não sei onde começo as palavras. Relembrar pode ser pequenos cortes; secos. Nossas almas estão vagadas em espaços distintos e - no nevoeiro - às vezes esqueço que passaste por mim. Será que ainda cabe um sorriso na janela?

Há anos, eu me lembro de quando cruzamos pelos corredores cinzas. Nem nos conhecíamos bem, mas teus olhos pareciam ter vistos há mil anos. Vivíamos pelas beiras e ladeiras, cantando os céus com a nossa graça. Nosso encontro parecia tão perfeito para um último passo.

As cartas não mentem e as palavras pareciam flores nascendo; vivas. Tinha todos os motivos para contar o nosso tempo, nas gotas de chuva que caía. A paixão que brotava de um chão.

Eu me pergunto, como morremos tão cedo? Talvez nunca saíamos de fato do embrião para dizer o que houve. Quando olho tua nova vida, eu te desconheço.

A maior saudade nem seja a tua forma física. Como parecia feliz em querer quebrar os protocolos e fugir da vida óbvia.

Eu achei nesses passos uma paixão mais forte, que me exige uma certa maturidade. Naquele passado, a imaturidade; a inocência trazia a intensidade de contar uma história nova, que foi embora como confete levado pelos ventos.

Quem sabe nos conhecemos de volta, como meros estranhos em uma mesa ou melhor seguir caminhos distintos e nem volte. Estou bem aqui.

Com abraços.

Um passado.

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 25/02/2017
Código do texto: T5923946
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