Carta para o amor, o tempo e a morte

Amor,

Sempre pensei ter há muito tempo te encontrado, mas a dúvida por vezes me assola.

Vejo tuas mil faces e busco em alguma, meu reflexo.

Alguém em quem você resida e que veja em mim morada .

Sei, paixões diferem do amor.

Provei algumas e no fim a sensação de vazio.

Amor , o que é?

Onde se esconde?

Amor leal e companheiro.

Tolerante diante da estética imperfeita.

Que ande de mãos dadas nas modificações que o tempo traz

Amor, só bem poucos tocas?

Em mim esquivaa ?

Ainda há tempo?

Tempo ,

Me sinto estática diante de ti, tempo.

Passa diante de meus olhos sem que possa te deter.

Nossos ponteiros não se ajustam, estou sempre atrasada.

Olho o passado, envelheço e no entanto pareço sempre a mesma.

As rugas, as dores na mesma pessoa parada no tempo, lendo livros que levam a tantos lugares sem jamais ir a lugar algum.

Dias em que desejo que tenhas pressa e outros em que te desejo quebrado, parado, porque nada muda.

Deito e observo tua pressa e então sorrio de ti.

Andas em círculo assim como eu...

Morte,

Sei que está em todo lugar a espreitar.

Não tenha pressa de chegar .

Tenho sonhos possíveis de sonhar apenas aqui.

Demora-te o mais que puder.

Espere , se possível, o meu chamado.

Quero conhecer lugares que ainda não fui.

Quero ler livros que ainda não li.

Quero apreciar belezas que ainda não vi.

Quero ver minha filha realizar seus sonhos.

Meu netos chegarem, brincar, mimar, rir com eles.

E só depois, bem velhinha, bem cansada, te seguirei de bom grado.

Até lá espere.

Combinado!