Biografia de JOSÉ PEREIRA DA LUZ “Professor José Neto”

José Pereira da Luz, mais conhecido como “professor José Neto”, foi um querido e respeitado educador e um dos primeiros líderes da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na cidade de Gurupi.

A biografia do professor José Neto representa a saga de pioneiros que com muita força de vontade, ousadia e fé em Deus desenvolveram relevantes ações sociais, de evangelismo e na área do ensino, ajudando a firmar Gurupi com o título de “Capital da Amizade” e uma das melhores e mais prósperas cidades do Estado do Tocantins.

Parte de sua nobre trajetória está registrada no Livro “Fragmentos da Nossa História” que foi lançado pelo Pastor João da Cruz Gomes Feitosa em 2006 pela comemoração do Jubileu de Ouro – 50 anos! - da Igreja Assembléia em Gurupi.

Nos últimos meses, eu reuni depoimentos de familiares e amigos com objetivo de ampliar o registro da biografia do querido e saudoso professor José Neto.

José Pereira da Luz (“José Neto”) pertence à Árvore Genealógica do patriarca José Bento Pereira, que nasceu em 27 de agosto de 1887 no município de Pedro Afonso, e teve 6 filhos, 51 netos, 113 bisnetos e 40 tataranetos. Os detalhes dessa grande família podem ser acessados em: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/6050499

O professor José Pereira da Luz foi criado por seu avô materno José Bento Pereira, vindo daí o seu apelido “José Neto”.

Seu avô, José Bento Pereira casou-se com Eugênia Martins em abril de 1915 em Pedro Afonso, tendo em seguida 6 filhos: (1) Raimundo Pereira Martins, (2) Vitória Pereira Martins, (3) Deuzina Pereira Martins, (4) Tadeu Pereira Martins, (5) Margarida Pereira Martins e (6) Maria Pereira Martins.

A segunda filha, Vitória Pereira Martins, nascida em 1917, casou-se com apenas 15 anos, com Petronílio da Luz (funcionário público - recenseador), com quem teve 3 filhos, sendo José Pereira da Luz (“José Neto”) o primogênito, e seus dois irmãos: Arnaldo Pereira da Luz e Valdir Pereira da Luz.

José Pereira da Luz (“José Neto”) nasceu em 29 de agosto de 1933, no município de Pedro Afonso, que era um dos mais povoados e ricos do antigo norte goiano.

Lá ele estudou na Escola Municipal na Fazenda do Sr. Raimundo Corrêa.

Em 1940, sua vida passou por grande revés. Sua jovem mãe, Vitória Bento Pereira, morreu inesperadamente após contrair uma forte febre. Aquela dura perda entristeceu toda a comunidade pedro-afonsense, pois ela tinha apenas 22 anos de idade e os três filhos eram bem pequenos.

Contudo, para espanto ainda maior de todos, o pai, Sr. Petronílio da Luz, com apenas 4 meses de viúvo, foi também acometido com a tal febre, que de tão intensa e forte levou-lhe à óbito.

Petronílio da Luz era recenseador do IBGE, com ótima renda que garantia a manutenção da família com fartura. No entanto, seu prematuro falecimento deixou os filhos em situação difícil, pois naquela época não era comum receberem nenhum tipo de benefício ou pensão no caso da perda de seus pais.

Assim, por terem ficados órfãos, os 3 filhos de Vitória e Petronílio foram criados pelo avô José Bento Pereira.

Em 1949, o Sr. José Bento Pereira deixa Pedro Afonso seguindo em direção a região dos “Gerais”, entre os povoados de Gurupi e Dueré – local onde seu filho Tadeu Pereira Martins e outros parentes já haviam se estabelecido 4 anos antes.

Ali o patriarca fundou no vale do córrego Tucum a Fazenda São José, com 57 hectares, para criação de seu rebanho de “gado curraleiro” e plantação de cultivares de subsistência (arroz, milho, feijão, mandioca etc.).

José Neto foi criado por seu avô José Bento Pereira e mantinha uma forte afinidade com todos seus tios, tias, primos e primas, como se fossem seus próprios irmãos de sangue. Mesmo tendo se tornado órfão de pai e mãe, ele cresceu cercado de amor e cuidados, o que se traduziu na sua personalidade marcante e na sua elevada autoestima.

Nas proximidades da sede, o jovem José Neto construiu uma oficina de carpintaria, onde produzia diversos trabalhos em madeira, desde móveis (mesas, cadeiras, bancos, prateleiras etc.) até materiais para construção de casas, como portas e janelas, bem como itens diversos para a fazenda: cabos para ferramentas, giral, porteira, canga para bois etc.

José Neto era muito habilidoso e detalhista e sua fama logo cresceu ao ponto que muitas pessoas vinham de longe para contratar seus serviços. O trabalho como carpinteiro lhe permitiu aplicar na prática inúmeros conhecimentos matemáticos, pois no preparo das peças de madeira, especialmente naquelas mais complexas que tinham encaixes e detalhes em relevo, ele tinha que fazer muitos cálculos para garantir a harmonia e precisão. Vale lembrar que ele não tinha à sua disposição calculadoras, nem tampouco equipamentos elétricos, como serras e furradeiras, o que tornava seu ofício ainda mais difícil e valoroso.

No começo dos anos 50, Gurupi e Dueré eram simples povoados, com poucas casas, praticamente sem nenhum comércio, entretanto alguns acontecimentos daquela década mudariam significativamente a realidade dessas localidades.

Em 10 de novembro de 1953, a Câmara Municipal de Cristalândia aprova a Lei Municipal nº 188 elevando o povoado de Dueré à categoria de Distrito, já com uma população aproximada de 4 mil habitantes, cuja denominação deve-se ao fato de situar-se às margens do Rio Dueré, afluente do Rio Javaés. A partir de então, o Distrito de Dueré passou a ter maior visibilidade perante os poderes constituídos.

Em 3 de outubro de 1955, aconteceu a eleição presidencial com três nomes disputando: Juscelino Kubitschek de Minas Gerais, Juarez Távora do Ceará e Adhemar de Barros de São Paulo. Juscelino Kubitschek saiu vitorioso com seu “Plano 50 anos em 5”, que propunha uma série de ações para alavancar o desenvolvimento do Brasil, entre as quais: a construção de Brasília e abertura de grandes rodovias para integrar a capital federal com os tradicionais centros geopolíticos (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte) e demais regiões, em especial a Norte e a Centro Oeste.

Em 27 de janeiro de 1956, aconteceu a posse do Presidente Juscelino Kubitschek, que reafirmou a implantação do seu ambicioso "Plano de Metas", composto por 31 setores que seriam o foco do investimento para modernizar o país, gerando crescimento e empregos.

O “Plano 50 anos em 5” previa a construção da Rodovia Federal Belém-Brasília (BR 153), que teria um traçado de uma linha praticamente reta ligando o Distrito federal a capital paraense. Essa grande obra mudaria de vez a realidade do interior de Goiás, transferindo nas décadas seguintes o fluxo comercial que era feito pelos barcos no Rio Tocantins para a frota de caminhões, carros e ônibus na nova rodovia.

O anúncio dessa obra gerou enorme expectativa de modo que vultoso número de pessoas migrou para os povoados e vilas que faziam parte do traçado da Rodovia Belém-Brasília.

Assim, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, com sede na Rua 07, Centro, na cidade de Ceres (Goiás), observando essa proposta de abertura da Rodovia Federal BR 153 que provocou o aumento populacional em inúmeras localidades, escolheu dentre seus membros alguns obreiros e enviou-lhes para evangelizar e desenvolver trabalhos sociais. Gurupi foi uma dessas localidades que recebeu evangelistas e missionários da Assembleia de Ceres (FEITOSA, 2006).

Em 1º de julho de 1956, o Diácono Euclides Melo de Albuquerque e sua família conduziram a inauguração do 1º salão de cultos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus (IEAD), bem como a casa pastoral da congregação na Avenida Maranhão, esquina com a Rua 4. A comunidade gurupiense já contava com a presença das Igrejas Católica, Presbiteriana e Batista. O surgimento da Assembleia de Deus ampliou a diversidade religiosa na região, bem como somou forças às ações de cunho social e educativo.

No começo de 1958, o Presidente JK faz o lançamento da construção da Rodovia Belém-Brasília, que ficou sob a responsabilidade do Engenheiro Agrônomo Bernardo Sayão Carvalho Araújo.

Em razão dessa obra, em 14 de novembro de 1958 os povoados de Dueré e Gurupi foram emancipadas, tornando-se independentes administrativa e financeiramente a partir de 1º de janeiro de 1959, com Poder Executivo com Prefeitos e Câmara Municipal com 7 vereadores.

Em janeiro 1959, o governador de Goiás José Ludovico de Almeida nomeia o Sr. Melquiades Barros dos Santos como 1º Prefeito de Gurupi e o Sr. Cabuquim Barros como 1º Prefeito de Dueré.

Assim, o Sr. José Bento Pereira conseguiu com o Prefeito de Dueré, Cabuquim Barros, a criação da 1ª escola municipal para atender as crianças e adolescentes daquela região, a ser instalada em sua Fazenda São José, e sob a responsabilidade de José Neto, que foi enviado, por determinado período, para aprimorar seus estudos na cidade de Porto Nacional – principal pólo econômico e educacional do norte goiano.

Dessa forma, José Neto deixa o ofício de carpinteiro e se torna funcionário da Prefeitura de Dueré, dedicando-se integralmente ao ensino da criançada, ministrando aulas em turmas seriadas sobre alfabetização, conhecimentos gerais, tabuada etc. Os estudantes realizavam lições com os livros da “Série de Literatura Graduada Pedrinho da Dona Clara”. O material escolar era adquirido em viagens que ele fazia às cidades de Porangatu ou Porto Nacional.

José Neto, como professor, manteve o mesmo desempenho que tinha no ofício de carpinteiro. Em pouco tempo tornou-se muito querido e respeitado por seus alunos, bem como pelos pais e mães das crianças e adolescentes que estavam sob seus cuidados. Bastante inteligente, dominava vários assuntos diferentes, sabia se expressar muito bem e todos os estudantes o enxergavam como um exemplo a ser seguido. Sua boa fama como professor logo ultrapassou os limites da Fazenda São José, chegando às vilas e cidades próximas.

Em 29 de agosto de 1960, chega à cidade de Gurupi o pastor Manoel Lemos do Prado, vindo de Nova Glória (Goiás) para dirigir os trabalhos da recém-fundada Assembleia de Deus. Era um homem muito dinâmico, gostava de fazer novas amizades e era muito voltado as causas sociais. Logo fez muitas amizades, incluindo o professor José Neto, que já era membro ativo da IEAD.

José Neto e toda sua família tinham se convertido a partir da pregação de seu tio Sr. Tadeu Pereira Martins e sua esposa Maria José Costa, que numa viagem realizada dois anos antes à cidade de Anápolis (Goiás) aceitaram à Cristo por meio da evangelização de membros locais da Assembleia de Deus.

Assim, o professor José Neto e toda a família de Tadeu Martins e Maria José Costa fizeram parte do rol de pioneiros da Igreja Assembleia de Deus em Gurupi. Outros irmãos em Cristo daquela época que partilhavam a mesma fé pentecostal, doutrinas e costumes foram: evangelista José de Sousa Castro, diácono Carlindo Barros da Rocha, diácono Salomão Barbosa Cruz, o casal José Pinto de Araújo e Cícera Dias de Araújo, evangelista Euclides Melo de Albuquerque, auxiliar Elisvaldo Xavier de Jesus (“Ica”), auxiliar Pedro José de Souza (“Pedrinho”), missionária Luiza Martins Salviano, evangelista Elpídio Pereira de Sousa e evangelista Pedro Barbosa Cruz, entre outros.

No segundo semestre de 1962, o Pastor Manoel Lemos do Prado convidou o professor José Neto para fundar a 1ª Escola da Igreja Assembleia de Deus, o Educandário Evangélico Gurupiense, que funcionou regularmente na Avenida Maranhão nº 948, de fevereiro de 1963 até o 1º semestre de 1970.

O Educandário Evangélico ficava atrás da igreja, com as aulas ministradas nos turnos da manhã e tarde, enquanto que o período noturno era reservado aos cultos e reuniões da membresia cristã.

José Neto conduziu uma geração de professores pioneiros que influenciaram a comunidade gurupiense. Alguns educadores que marcaram presença nos primeiros anos do Educandário Evangélico foram: professoras Domingas Pereira Gomes, Isabel Pereira da Costa (in memorian), Eunice Reis de Hungria, Madalena Dias Gomes, Terezinha Pimentel, Deuzina dos Reis Aguiar, Edna Barros e Aldenora Pereira da Costa e professores Joel Ferreira Soares (in memorian) e Juarez José da Fonseca.

A escola e a igreja funcionavam como duas instituições irmãs, com estreita ligação em suas atividades. Havia enorme afinidade entre seus membros que partilhavam princípios, crenças e a forma amorosa com que ensinavam. Isso refletia no bom comportamento dos estudantes e conseqüentemente no aprendizado que apresentava ótimos índices.

Além de dedicado nas funções educacionais, José Neto prestou um grande serviço ao lado de todos os Pastores e líderes que administraram a igreja entre os anos 60 e 70.

Era um excelente cooperador financeiro da Igreja, com ofertas generosas para ajudar a expansão da obra de Deus e também em auxilio de irmãos que estivessem em situação de necessidade.

Desde sua conversão José Neto se tornou um instrumento e vaso poderoso nas mãos de Deus para abençoar muitas vidas.

Ajudava a organizar mutirões para construção e ampliações de novas congregações em diversas localidades. Esses mutirões, vale destacar, eram verdadeiras festas dos crentes, que se reuniam de maneira solidária. Todos participavam; cada um ajudando naquilo que podia. Aqueles que tinham melhor renda contribuíam com a compra dos materiais. Alguns irmãos doavam o cimento, outros a areia e o seixo. Quem tinha baldes, enxadas, pás e picaretas trazia para a obra. Toda a juventude da igreja comparecia para ajudar no trabalho pesado. As mulheres chegavam cedo com as panelas e talheres de casa para preparar os lanches, sucos e as refeições deliciosas que serviam aos voluntários. Enquanto trabalhavam duro, os crentes cantavam hinos de louvor a Deus. Entre os presentes, sempre tinham aqueles engraçados que gostavam de fazer brincadeiras e contar piadas, provocando muitos risos na turma, o que tornava o trabalho mais alegre e descontraído.

José Neto também fazia parte do grupo de obreiros e pregadores que evangelizavam as cidades e os sertões em toda região de entorno de Gurupi.

Ser obreiro ou evangelista naquele tempo exigia grande renúncia pessoal, pois a evangelização na região era feita à pé, de bicicletas, em lombo de animais, carroças, carros de bois, canoas e jangadas. Os recursos disponíveis para aplicar na evangelização eram muito escassos, poucas pessoas possuíam a Bíblia Sagrada, e também não existia nenhuma outra modalidade de literatura evangélica. Não havia estradas, pontes e nem veículos para conduzi-los aos locais de culto. Às vezes eles iam montados em jumentos para realizar visitas e fazer cultos (FEITOSA, 2006).

José Neto acompanhava pastores, diáconos e evangelistas em visitas pelos “gerais”, auxiliando em pregações e em outras ações. Naquele tempo era comum o pastor viajar todos os meses para fazer cultos domésticos junto às famílias que residiam no interior, onde ministrava a Santa Ceia aos irmãos em Cristo nas suas próprias residências.

Numa dessas viagens rotineiras que os membros da Igreja faziam aconteceu algo trágico.

No amanhecer do dia 04 de agosto de 1963, o Pastor Manoel Lemos do Prado, sua esposa Tercília Cândida da Silva Prado e seu filho Manoel Cândido Silva Prado (“Manequim”), formaram uma caravana para irem a uma pregação no povoado de Cariri, composta da seguinte forma: auxiliar José Pinto de Araujo, José Pereira da Luz (“José Neto”), José Medrado, Pedro José de Sousa (“Pedrinho”), Terezinha de Jesus Aguiar Castro, Luiz Gonzaga de Souza e Pedro Leite Galvão (FEITOSA, 2006).

Após o culto vespertino, eles retornavam num jipe verde quando houve o acidente. Nessa época, a BR 153 era muito estreita, sem asfalto e tinha muitas trepidações e não havia sinalização suficiente para evitar transtornos rodoviários. Ao se aproximarem da passagem de nível do córrego pantanal o pneu dianteiro do lado esquerdo estourou e o jipe capotou entre três e cinco vezes, parando num despenhadeiro. O Pastor Manoel Lemos do Prado e o auxiliar José Pinto de Araújo sofreram ferimentos graves, chegando a falecer horas depois. Houve passageiros que sofreram fraturas e escoriações graves, mas sem perigo que pudesse levar a óbito. Outros nada sofreram (FEITOSA, 2006).

A Ata de 14 de agosto de 1963 narra que, com o falecimento do Pastor Manoel Lemos do Prado, o evangelista Manoel Marçal Gonçalves assumiu todas as responsabilidades e atividades desenvolvidas. Aquela perda inesperada marcou profundamente os membros pioneiros da Igreja Assembleia, que por toda vida carregaram a dor da perda e as boas lembranças do Pastor Manoel Lemos do Prado e do amigo e evangelista José Pinto de Araujo que também faleceu na mesma data.

Em 24 de fevereiro de 1965, o Pastor Geraldo Mariano da Silva veio de Ceres (Goiás) para dar posse a 1ª diretoria administrativa do campo da Igreja Assembleia de Deus em Gurupi, após sua completa autonomia jurídica, que ficou constituída assim: evangelista Manoel Marçal Gonçalves (Presidente), diácono Juarez José da Fonseca (vice-presidente), auxiliar José Pereira da Luz “José Neto” (1º secretário), auxiliar Carlindo Barros da Rocha (2º secretário), diácono Raimundo Neto da Silva (1º tesoureiro), presbítero José de Souza Castro (2º tesoureiro). Ainda faziam parte como membros do ministério, o presbítero Manoel Carlos de Lima, o diácono José Ribamar Gonzaga de Souza e auxiliar Manoel Lisboa Ramos.

José Neto tinha um bom relacionamento com todos os seus vizinhos e demais membros da comunidade gurupiense. Ele era muito generoso e solidário, demonstrando seu amor de muitas maneiras. Sua residência estava sempre cheia, pois era comum abrigar parentes, amigos e conhecidos que vinham do interior para resolver negócios ou por motivos de saúde.

Com seu exemplo de vida, José Neto despertava atenção de muitas pessoas que aceitaram a Jesus como seu Salvador.

José Neto fez parte de uma geração de cristãos que se unia para fazer a diferença na vida de dezenas de famílias de Gurupi e região. Naquela época, os líderes de todas as igrejas presentes em Gurupi se uniam para desenvolver trabalhos sociais. A Assembleia de Deus, a Igreja Católica, a Cristã Evangélica, a Presbiteriana e a Batista se uniam para ajudar os leprosos da cidade. Os irmãos fizeram um mutirão e construíram uma pequena vila de casas de adobe, na saída da cidade em direção à Cariri, para abrigar 33 leprosos, que também passaram receber auxilio com a doação de roupas, alimentos, remédios etc.

Desde sua gênese que Gurupi é a “Capital da Amizade”, o que se deve em grande medida a esses exemplos de coletividade e união das lideranças religiosas. Quem pesquisa a história dos anos 60 e 70 de Gurupi sente bastante orgulho, pois as diversas igrejas presentes, mesmo apresentando divergências doutrinárias, mantinham-se unidas por meio do amor e da generosidade em prol dos mais carentes. Essa união entre as diversas entidades disseminou valores positivos de respeito e consideração com o próximo que perduram até os dias de hoje – consagrando Gurupi como um dos melhores locais para se viver.

Em maio de 1965, José Neto fez parte da equipe que organizou os preparativos para o lançamento da pedra fundamental para a construção do novo templo da Igreja Assembleia, na Rua 10, entre as Avenidas São Paulo e Paraná.

Foram três dias de festa, de 27 a 29 de maio de 1965, que marcaram profundamente uma nova fase da Assembleia de Deus em Gurupi, sob liderança do Pastor Guilson Guilhard Maynard e contou a presença de pregadores de outras cidades que vieram para abençoar a Igreja. A banda de música da cidade de Turvânia se fez presente para a celebração. Uma multidão compareceu e muitos aceitaram a Cristo como Seu Senhor e Salvador.

Assim, com a mudança dos cultos da Igreja da Avenida Maranhão para o novo templo na Rua 10, as aulas do Educandário Evangélico Gurupiense passaram a ser ministradas nos três turnos: manhã, tarde e noite.

Em 25 de julho de 1969, o professor José Pereira da Luz ("José Neto”) casou-se em Ceres (Goiás) com Geralda Vicente da Silva Pereira, filha de Durval Vicente da Silva e Faustina Vicente e Silva. A cerimônia foi realizada na Igreja Assembleia de Deus com uma bela festa. Dessa união tiveram um casal de filhos: Abimael da Silva Pereira (nascido em 01/05/1970 em Gurupi-TO) e Siméia da Silva Pereira (nascida em 18/07/1971 no Hospital São Pio X em Ceres-GO).

No segundo semestre de 1970, com o fechamento do Educandário Evangélico Gurupiense, o professor José Neto e demais professores foram transferidos para o Colégio Estadual Costa e Silva.

O fechamento da escola provocou grande tristeza na comunidade gurupiense, que passou nos anos seguintes desejosa de ver o retorno desse braço educacional da Igreja Assembleia.

Em 1971, o professor José Neto se mudou para Goiânia, onde conseguiu uma bolsa de estudos, que ajudou-lhe a manter sua família até concluir o curso superior de Letras na Universidade Federal de Goiás (UFG). Lá ele se manteve ativo como membro da Assembleia de Deus.

Em 1976, José Neto retornou com sua família de Goiânia para a cidade de Gurupi. Mas, infelizmente, todas as disciplinas nas escolas locais já tinham professores titulares.

Em 1977, o Prefeito de Dueré Jader Pires convidou-lhe para fundar a Escola Normal no município.

José Neto estava em Goiânia quando começou a passar mal inesperadamente. Veio para Gurupi, para se tratar daquela enfermidade. Foi internado no Hospital Santa Lúcia do Drº Furtunato, na Rua 03, entre as Avenidas Goiás e Pará. Para tristeza de familiares e toda comunidade, ele faleceu em 03 de maio de 1977, deixando muitas saudades. Ele foi enterrado no Cemitério da Rua 04, centro de Gurupi.

Após sua morte, a viúva Geralda Vicente da Silva Pereira retornou para Goiânia. Atualmente, o filho Abimael da Silva Pereira é proprietário de uma oficina de lanternagem e pintura de veículos em Goiânia-GO e a filha Siméia da Silva Pereira é enfermeira concursada e trabalha no Hospital HRT e no Corpo de Bombeiros em Brasília-DF.

O município de Gurupi tem atualmente 16 escolas municipais e 14 escolas estaduais, sendo 04 destas últimas conveniadas, totalizando assim 30 escolas públicas.

Hoje Gurupi ostenta com privilégio o título de população mais bem instruída e escolarizada do Tocantins!!!

Essa transformação, de uma cidade pequena fundada em 14 de novembro de 1958, com maioria de sua população analfabeta, para a atual realidade, de uma cidade pujante, próspera e desenvolvida, tem relação direta com o trabalho e dedicação de seus pioneiros, incluindo o querido professor José Neto.

Não podemos esquecer-nos de mencionar o valor da Igreja Assembleia de Deus na construção dessa trajetória de sucesso, com especial destaque para o saudoso Pastor Manoel Lemos do Prado, que nos primórdios de Gurupi ajudou firmar os alicerces que levaram a tantas conquistas.

Desde seus primeiros anos, a presença da Igreja Assembleia de Deus é referencia em sua atuação, na mudança de comportamento, influenciado positivamente a dinâmica social, educacional, econômica e política de Gurupi e região.

O Educandário Evangélico Gurupiense da Assembleia de Deus teve papel primordial como “braço forte” da Igreja no segmento educacional na década de 1960, que sob a liderança do professor José Neto plantou sementes que hoje frutificam de muitas maneiras.

O Colégio Educandário Evangélico Ebenézer, fundado em 06 de fevereiro de 1986, com sua excelência em ensino-aprendizagem, dá seqüência aquele belo trabalho dos primórdios da Igreja Assembleia de Deus em Gurupi.

José Neto saiu da Fazenda São José com 29 anos, onde dava aulas numa pequena escola municipal na zona rural de Dueré, para assumir essa grande responsabilidade de educador na recém-emancipada Gurupi, entrando para a história da cidade como um dos professores pioneiros que influenciaram uma geração de crianças e jovens.

Sua morte prematura, com apenas 43 anos, deixou uma enorme lacuna no segmento educacional de Gurupi e região, pois a perda de um profissional querido e de tamanha competência trouxe grande tristeza e consternação a toda comunidade.

Cada pessoa tem uma história singular, com acontecimentos e contribuições das mais diversas que deixam marcas e lembranças. José Neto era um homem honrado, inteligente, bondoso e íntegro, que servia a Deus com fervor e muita fé, dedicando-se integralmente para fazer a diferença por onde passava. Partiu bem antes do que familiares e amigos gostariam, mas cremos que ele está na Glória com o Senhor, o que nos conforta e serve de inspiração.

A Bíblia Sagrada diz que “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Salmos 116:15).

José Neto foi um exemplo de educador e servo dedicado que teve uma bela biografia, ajudando a transformar a pequena Gurupi em um dos mais importantes pólos em educação e uma das cidades tocantinenses mais abençoadas pela fé em Cristo.

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Palmas – TO, Agosto de 2017.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior