Caminho de Santiago - Cap. 06/32 - De Zubiri a Pamplona

A rua da casa onde dormimos se conectava naturalmente ao Caminho. Assim que as três irmãs baianas desapareceram lá no final após uma curva, despedi-me do proprietário e pus-me em marcha. Não queria chegar muito tarde a Pamplona, pois tinha medo de não encontrar abrigo no Albergue Municipal daquela cidade, já que muitos peregrinos preferem iniciar o Caminho a partir dali. Tentei resistir à tentação de parar para fazer novas fotos, mas isso era praticamente impossível. Comecei a encontrar rios de águas cristalinas e livres de qualquer contaminação, onde alguns pescadores enchiam seus cestos com trutas. Parei para observá-los, mas percebi uma certa reprovação estampada em seus rostos, talvez pelo receio de que eu pudesse fazer algum ruído que atrapalhasse a pescaria. Continuei a caminhar, mas não antes de fazer algumas fotos do que estava vendo.

Lembrei-me que Ernest Hemingway também adorava pescar trutas nos riachos de Burguete para depois saboreá-las com o bom vinho da Navarra.

Como que num voo imaginário feito nas costas de um pássaro mitológico, cruzei extasiado vários "pueblos" e vilas, cada um mais interessante que o outro, com suas igrejas e casas amarelo escuro ou cor de tijolo queimado, que em muito lembram as cores da bandeira espanhola. Larrasoaña, Akerreta, Zuriain, Irotz, Zabaldika, Arieta, Trinidad de Arre e finalmente lá estava ela bem diante de mim: a imponente e linda capital da Navarra.

Pamplona (Iruña, em basco) é uma cidade ímpar. Remonta ao 1° milênio A.C. quando era um povoado de bascos, tendo sido convertida em cidade por Pompeu, general romano que ali instalou um acampamento militar em 74 a.C.

Hoje Pamplona tem cerca de 200 mil habitantes. É o centro cultural, comercial e industrial da Navarra. Seu povo é alegre e festeiro. À noite, as ruas situadas em sua parte mais antiga e histórica, ficam praticamente intransitáveis com verdadeiros cordões humanos seguindo as ruidosas charangas, que vão serpenteando pelas ruelas tocando animadas fanfarras. O chope, o vinho, as tortilhas e a alegria do povo espanhol somada àquela dos turistas estão por toda parte. É simplesmente contagiante!!!

O Café Iruña, situado na Plaza del Castillo, é outro ponto de atração da cidade. Assemelha-se muito à Confeitaria Colombo do Rio de Janeiro, com suas paredes espelhadas, lindos lustres antigos e suas mesas de ferro com tampos de mármore. Ali você pode beber tranquilamente uma "caña" (chope), tomar uma garrafa de vinho ou até mesmo jantar, sem o risco de se surpreender com o valor da conta. Algo espantoso em um ambiente que era frequentado quase que diariamente por Ernest Hemingway quando viveu num quarto de hotel ali próximo.

Outra grande atração de Pamplona são os "encierros".

Durante as festas de São Firmino no mês de julho, os touros são soltos diariamente nas ruas e percorrem um traçado previamente determinado. Várias pessoas, (entre as quais gostaria de estar), correm à frente desses pesados e enfurecidos animais, experimentando uma dose fenomenal de adrenalina em seus corpos. Alguns se ferem seriamente. Outros até perdem suas vidas. Mas morrer fazendo o que se gosta não deve ser algo reprovável.

Assim pensando, fui ao encontro do albergue para tomar meu banho, fazer a barba, lavar e secar minha roupa suja acumulada, carimbar a minha Credencial do Peregrino, (que nos permite ser aceitos nos albergues e receber a Compostelana, o certificado de conclusão do Caminho em Santiago de Compostela).

Para minha decepção, o albergue estava lotado.

Sergio Righy
Enviado por Sergio Righy em 06/08/2017
Reeditado em 22/09/2017
Código do texto: T6075498
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