O ÁGUIA DE HAYA....

Ruy Barbosa

Ruy Barbosa, o Águia de Haia, ca. 1923

Nome completo Ruy Caetano Barbosa de Oliveira

Nascimento 5 de novembro de 1849

Salvador, Bahia, Flag of Empire of Brazil (1870-1889).svg Império do Brasil

Morte 1 de março de 1923 (73 anos)

Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil

Nacionalidade Brasileiro

Ocupação Jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador

Movimento estético Parnasianismo

Ruy Caetano Barbosa de Oliveira(ver nota) GCSE (Salvador, 5 de novembro de 1849 — Petrópolis, 1 de março de 1923) foi um polímata brasileiro, tendo se destacado principalmente como jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador. Um dos intelectuais mais brilhantes do seu tempo, foi um dos organizadores da República e coautor da constituição da Primeira República juntamente com Prudente de Morais.

Ruy Barbosa atuou na defesa do federalismo, do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais.

Primeiro ministro da Fazenda do regime instaurado em novembro de 1889, sua breve e discutida gestão foi marcada pela crise do encilhamento sob a proposição de reformas modernizadoras da economia.

Destacou-se, também, como jornalista e advogado.

Foi deputado, senador e ministro. Notável orador e estudioso da língua portuguesa, foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, e seu presidente entre 1908 e 1919.

Como delegado do Brasil na II Conferência da Paz, em Haia (Holanda, 1907), notabilizou-se pela defesa do princípio da igualdade dos estados. Sua atuação nessa conferência lhe rendeu o epíteto "O Águia de Haia".

Teve papel decisivo na entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Já no final de sua vida, foi indicado para ser juiz do Tribunal Mundial, um cargo de enorme prestígio, que recusou.

Foi candidato à Presidência da República, na chamada "campanha civilista", contra o militar Hermes da Fonseca. Apesar de ser considerado um ícone do republicanismo brasileiro, Ruy Barbosa se desencantou com o sistema político que ajudou a implementar, realizando vários comentários antirrepublicanos em seus últimos anos de vida.

Pouco famosas, suas críticas foram novamente trazidas à tona por movimentos monarquistas brasileiros no início do século XXI (embora Ruy Barbosa não tenha se tornado monarquista em vida).

“ A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é o maior elemento da estabilidade.

Biografia

Ruy Barbosa de Oliveira, filho de João José Barbosa de Oliveira e de Maria Adélia Barbosa de Oliveira, nasceu em 1849, na rua dos Capitães, hoje rua Rui Barbosa, freguesia da Sé, na cidade do Salvador, na então província da Bahia.

Era sobrinho do barão de Mucuri e de Luís Antônio Barbosa de Almeida, que foi presidente da província da Bahia de 3 de novembro de 1864 a 2 de maio de 1865.

Aos cinco anos, fez seu professor Antônio Gentil Ibirapitanga exclamar: "Este menino de cinco anos de idade é o maior talento que eu já vi. […] Em quinze dias aprendeu análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar todos os verbos regulares."

Em 1861, aos 11 anos, quando estudava no Ginásio Baiano de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, fez o mestre declarar a seu pai, João Barbosa: "Seu filho nada mais tem a aprender comigo.

Ali, como ele mesmo diz mais tarde, viveu a maior emoção de toda a sua vida, quando recebeu uma medalha de ouro do Arcebispo da Bahia.

Em 1864, concluído o curso ginasial, mas sem idade para entrar em uma universidade, passou o ano estudando alemão. No ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito de Olinda.

Em 1867, adoeceu de "incômodo cerebral". Em 1868 abrigou em sua casa, por alguns dias, Castro Alves, seu antigo colega no Ginásio Baiano, em razão do rompimento dele com Eugênia Câmara.

Proferiu o famoso discurso saudando José Bonifácio, o Moço.

Em 1870, graduou-se como bacharel pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e retornou à Bahia, acometido, novamente, de incômodo cerebral.

Em 1871, começou a advogar e estreou no júri, tendo registrado: "Minha estreia na tribuna forense foi, aqui, na Bahia, a desafronta na honra de uma inocente filha do povo contra a lascívia opulenta de um mandão."

Em 1872, iniciou-se no jornalismo, no Diário da Bahia, e viveu a sua primeira crise amorosa. Brasília era o nome da senhorinha e morava no bairro de Itapagipe.

Em 1873, assumiu a direção do Diário da Bahia e fez conferência no Teatro São João sobre "eleição direta".

O pai confessa, em uma carta, que "poucos o igualam", que ele "foi aplaudido de um modo que me comoveu", e ainda "dizem-me que é superior a José Bonifácio e sustentam que certamente hoje não se fala melhor do que ele."

Em 1876, casou-se com a baiana Maria Augusta Viana Bandeira.

Em 1877, foi eleito deputado à Assembleia da Bahia. No ano seguinte, foi eleito deputado à Assembleia da Corte. Em 1881, promoveu a Reforma Geral do Ensino.

Em 1885, no auge da campanha abolicionista, José do Patrocínio escreveu: "Deus acendeu um vulcão na cabeça de Ruy Barbosa"

Duas semanas antes da abolição, em 30 de abril de 1888, Barbosa vaticinou: "A grande transformação aproxima-se de seu termo" .

A 7 de março de 1889, Joaquim Nabuco afirma: "Evaristo, na imprensa, fez a Regência e Ruy fará a República".

O novo ministério: Aristides Lobo, Ministro do Interior; Eduardo Wandenkolk, Ministro da Marinha; Tenente Coronel Benjamin Constant, Ministro da Guerra; Marechal Deodoro da Fonseca, Presidente da República; Quintino Bocaiúva, Ministro dos Negócios Estrangeiros; Demétrio Ribeiro, Ministro da Agricultura; e Ruy Barbosa, Ministro da Fazenda.

Em 9 de junho de 1889, recusou o convite para integrar o Gabinete Ouro Preto. "Não posso ser membro de um ministério que não tome por primeira reforma a Federação".

Em novembro daquele mesmo ano, Benjamin Constant escreveu a Ruy o seguinte: "Seu artigo de hoje, Plano contra a Pátria, fez a República e me convenceu da necessidade imediata da revolução".

Dias depois, em 15 de novembro de 1889, Barbosa redigiu o primeiro decreto do governo provisório e foi nomeado ministro da Fazenda, no governo de Deodoro da Fonseca.

Em 1890, D. Pedro II diz: "Nas trevas que caíram sobre o Brasil, a única luz que alumia, no fundo da nave, é o talento de Ruy Barbosa".

Ainda nesse ano, lança os decretos de reforma bancária, no qual foi criticado por Ramiro Barcelos, que, anos depois, se penitenciou: "A desgraça da República foi nós, os históricos, não termos compreendido logo a grandeza de Ruy".

Elabora-se o projeto de constituição na casa de Barbosa.

Em 14 de dezembro do mesmo ano, Ruy Barbosa, então ministro da Fazenda, mandou queimar os livros de matrícula de escravos existentes nos cartórios das comarcas e registros de posse e movimentação patrimonial envolvendo todos os escravos, o que foi feito ao longo de sua gestão e de seu sucessor.

A razão alegada para o gesto teria sido apagar "a mancha" da escravidão do passado nacional.

Todavia, especialistas afirmam que Ruy Barbosa quis, com a medida, inviabilizar o cálculo de eventuais indenizações que vinham sendo pleiteadas pelos antigos proprietários de escravos.

Apenas 11 dias depois da Abolição da Escravatura, um projeto de lei (PL) foi encaminhado à Câmara, propondo ressarcir os senhores dos prejuízos gerados com essa medida.

Como Ministro da Fazenda, entre 1889 e 1891, foi o principal responsável pela crise do encilhamento, estopim para uma grave crise econômica na Primeira República.

O principal motivo desta foi a emissão descontrolada de moeda pelo governo e ações sem lastro pelas empresas criadas nesse período, que provocou alta inflação e especulação financeira.

Ele é nomeado primeiro vice-chefe do Governo Provisório. Em uma viagem a Paris, ele se encontra com D. Pedro II e fala: "Majestade, me perdoe, eu não sabia que a República era isso"; tamanha era a decepção com o estado do país após a proclamação da República.

Em 1892, abandona a bancada do Senado, depois de feita a justificativa em discurso. Dias mais tarde, lança um manifesto à nação no qual diz a famosa frase: "Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação.

Eu ouso dizer que este é o programa da República".

Em 23 de abril do mesmo ano, sobe as escadarias do Supremo Tribunal Federal (STF), sob ameaça de morte, para defender, como patrono voluntário, o habeas corpus dos desterrados de Cucui.

Em 7 de fevereiro de 1893, volta à Bahia para um encontro consagrador com Manuel Vitorino, ocasião em que fala de sua terra: "Ninho onde cantou Castro Alves, verde ninho murmuroso de eterna poesia".

Em setembro do mesmo ano, eclode a Revolta. Refugia-se na Legação do Chile. Sob ameaça de morte, exila-se em Buenos Aires.

Em 1 de março de 1894, é candidato a presidente, obtendo o quarto lugar.

Folheto da campanha de 1919:

Ruy é o salvador da pátria.

Ainda em exílio, no ano seguinte, Ruy viaja a Londres, de onde escreve as Cartas da Inglaterra para o Jornal do Commercio, a partir de 7 de janeiro de 1895. No ano seguinte, produz textos a serviço dos insurrectos de 1893.

Escreve na imprensa: "E jornalista é que nasci, jornalista é que eu sou, de jornalista não me hão de demitir enquanto houver imprensa, a imprensa for livre…".

Em 1897, recusa convite para ser ministro plenipotenciário do Brasil na Questão da Guiana, feito por Manuel Vitorino, então vice-presidente do governo de Prudente de Morais.

Critica a intervenção militar em Canudos. Torna-se membro fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) e recebe de Joaquim Nabuco a seguinte citação, no livro Minha Formação: "Ruy Barbosa, hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país".

Em 3 de abril de 1902, publica parecer crítico ao projeto do Código Civil. No último dia daquele ano, lança réplica às observações feitas pelo filólogo Ernesto Carneiro Ribeiro, seu antigo mestre na Bahia.

A tréplica de Carneiro só veio a público em 1923. Foi a maior polêmica filológica da Língua Portuguesa.

Três anos depois, em 1905, chegou a se candidatar a presidente, porém retirou sua candidatura para apoiar a de Afonso Pena.

Plenário do Senado durante sessão em 1915. O senador Ruy Barbosa, de pé, discursa de frente para a mesa diretora.

Em junho de 1907, Ruy vai à Conferência da Haia, sendo esta a sua consagração mundial. Sobre isso escreveu o jornalista William Thomas Stead: "As duas maiores forças pessoais da Conferência foram o Barão Marschall da Alemanha, e o Dr. Barbosa, do Brasil…

Todavia ao acabar da conferência, Dr. Barbosa pesava mais do que o Barão de Marschall".

Ainda relativamente ao ano de 1907, encontra-se texto da sua autoria na revista ilustrada Argus.

Em 21 de outubro de 1908, discursa, em francês, na Academia Brasileira de Letras, em recepção a Anatole France.

A partir do ano seguinte, e até 1910, inicia a campanha civilista. Já em 1911, retorna ao Diário de Notícias.

Nesse período, ao responder à carta de um correligionário civilista, em outubro de 1911, escreve uma das mais importantes obras sobre deontologia jurídica: O Dever do Advogado.

Para a eleição de 1 de março de 1910, integra com o presidente de São Paulo, dr. Albuquerque Lins, a chapa dos candidatos da soberania popular, na Campanha Civilista, sendo Ruy candidato a presidente da república e Albuquerque Lins a vice-presidente.

O país se dividiu: Bahia, São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro e parte de Minas Gerais apoiaram o candidato Ruy Barbosa; os demais estados, a candidatura de Hermes da Fonseca, que tinha Venceslau Brás como seu vice. Fonseca e Brás venceram. Hermes teve 403.867 votos contra 222.822, dados a Ruy Barbosa.

Caricatura de Ruy Barbosa

Durante a Guerra do Contestado (1912-1916), Ruy Barbosa defendeu os interesses do Paraná.

Nesta época, também era advogado e possivelmente lobista da Southern Brazil Lumber & Colonization Co. Inc., grande empresa madeireira e colonizadora de terras no sul do País que integrava o grupo empresarial de Percival Farquhar.

Em junho de 1913, inicia sua terceira candidatura à Presidência pela Convenção Nacional, no Teatro Politeama do Rio de Janeiro – "a maior solenidade popular registrada, até hoje, na história brasileira"[carece de fontes].

Na iminência de perder para Venceslau Brás, lança em dezembro o "Manifesto à Nação", renunciando à candidatura. Ruy obteve, em 1 de março de 1914, 47.000 votos, tendo sido derrotado por Venceslau Brás.

Três anos depois, em 9 de julho de 1917, participa do Centenário de Tucuman. Ao receber o título de professor honoris causa da Faculdade de Direito e Ciências Sociais de Buenos Aires, em 14 de julho, protesta – a propósito da Primeira Guerra Mundial, em curso na Europa – contra a postura dos países neutros diante das atrocidades do conflito.

Em seu discurso intitulado O Dever dos Neutros, Ruy defende o princípio de que neutralidade não pode ser confundida com indiferença e impassibilidade, apoiando firmemente a causa dos aliados.

Segundo ele, a invasão da Bélgica pelos alemães, em agosta de 1914, representava o revés das conquistas alcançadas na Conferência da Paz em Haia.

O discurso teve repercussão internacional, e suas teses provocariam mudanças drásticas na política externa do Brasil – até então neutro na Grande Guerra.

Durante todo o ano de 1917, Ruy participa de comícios e manifestações contra a agressão aos navios da marinha mercante brasileira. Finalmente, convocado pelo presidente da República Venceslau Brás, participar da reunião em que foi revogado o decreto de neutralidade do Brasil no conflito, em 10 de junho de 1917.

Victorino de la Plaza, presidente da Argentina, após o banquete que lhe ofereceu Ruy, falou: "Já disse aos meus ministros que, aqui, o Sr. Ruy Barbosa, com credenciais ou sem elas, será considerado sempre o mais legítimo representante do Brasil".

Em 1917, colabora no projeto da Tradução Brasileira.

Ocorre em 1918 o Jubileu Cívico. Paul Claudel, ministro da França, entrega-lhe as insígnias de Grande-Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra.

Em 13 de abril de 1919, concorre pela quarta e última vez à Presidência da República, e, como anteriormente, contra a sua vontade. Perde as eleições para o paraibano Epitácio Pessoa.

Promove conferências pelo sertão da Bahia. Ainda em 1919, dada a intervenção de Epitácio na Bahia, reitera a recusa, feita um ano antes, de representar o Brasil na Liga das Nações, durante a Conferência de Versalhes – que estipulou os termos da paz entre vitoriosos e derrotados na Primeira Guerra.

Em 1921, com o "coração enjoado da política", renuncia à cadeira de senador. Jubileu político ao lado dos moços doutorandos de São Paulo.

A Bahia, que ele chamou de "mãe idolatrada", reelege-o senador novamente, e ele diz: "É um ato de obediência, em que abdico da minha liberdade, para me submeter às exigências do meu Estado natal".

Recusa o cargo de Juiz Permanente na Corte de Haia (ocupado posteriormente por Epitácio Pessoa).

Ainda no mesmo ano, recusa projeto do senador Félix Pacheco para que fosse concedido a Ruy um prêmio nacional em dinheiro, dizendo: "A consciência me atesta não estar eu na altura de galardão tão excepcional".

Em julho de 1922, sofre um grave edema pulmonar, com iminência de morte. Meses depois, em fevereiro de 1923, sofre uma paralisia bulbar. Ruy diz a seu médico: "Doutor, não há mais nada a fazer".

A 1º de março de 1923, falece em Petrópolis, à tarde, aos 73 anos de idade e tendo como últimas palavras as seguintes: "Deus, tende compaixão de meus padecimentos".

Seu corpo foi sepultado em um grande mausoléu familiar, no Cemitério de São João Batista, onde repousou até 1949. Nas comemorações de seu centenário de nascimento, seus restos mortais foram exumados e trasladados para a cidade de Salvador, onde se encontram até hoje.

A 7 de junho de 1923, foi agraciado a título póstumo com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal