1º de junho: a imprensa no Brasil completa 209 anos

“Na cabeça de cada um existe um mundo. Na de um estudioso há constelações. A de Hipólito da Costa é uma via Láctea.” ( Riopardense de Macedo 1921-2007).

Na iconografia oficial do gaúcho Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774-1823), este é o único retrato em que aparece, com a mão direita, segurando o seu mensário o “Correio Braziliense” (1808-1822). Considerado o primeiro jornal brasileiro, foi editado, em português, em 1808, na Inglaterra, a partir de 1º de junho. Devido à Censura Régia que, desde 1747, proibia a impressão de livros e jornais no Brasil, o jornal circulou de forma clandestina. Em 2017, nossa imprensa completa 209 anos de fundação.

De autor desconhecido, neste retrato se destacam o jornal e o símbolo da Ordem Maçônica. É provável que, no ano de 1820, esta pintura a óleo tenha sido feita; O retrato pertenceu ao Grão-Mestre Augustus Frederick (1773-1843), duque de Sussex, que era filho do Rei Jorge III, da Inglaterra, e protetor do patrono da nossa imprensa. Após a morte do duque, passou às mãos da viúva de Hipólito da Costa, Mary Ann da Costa, e, na sequência, aos seus descendentes. Atualmente, ele se encontra no Itamaraty, graças à doação de sua trineta Rosemary Claire Porter.

A primeira reprodução deste quadro ilustrou o livro do jornalista paulista Carlos Rizzini (1898-1972), cujo título é “Hipólito da Costa e o Correio Braziliense”. Esta obra foi editada, em 1957, pela Cia. Editora Nacional. Na revista “O Cruzeiro“, de 29 /10 /1955, o mesmo jornalista publicou um artigo inédito sobre a descoberta do túmulo de Hipólito José da Costa, em Berkshire, na Igreja, Saint Mary, The Virgin, de Hurley. Durante esta busca, foi fundamental a troca de correspondências, ocorrida entre o diplomata brasileiro, que se encontrava em Londres, Gastão Nothman, e Carlos Rizzini no Brasil.

O Dia Nacional da Imprensa nos remete a 1º de junho de 1808 quando começou a ser editado o Correio Braziliense, circulando, pelas ruas de Londres, de forma independente e sem censura. Esta efeméride faz parte do nosso calendário oficial por determinação da Lei Federal, nº 9.831, assinada, em 13/09/1999, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. O responsável pelo projeto de lei foi o deputado, do PSDB gaúcho, Nelson Marquezan (1938- 2002). Durante este processo, a participação da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) foi fundamental, somando-se à persistente luta do jornalista Raul Quevedo (1926 2009), que, desde 1972, havia iniciado a campanha em prol do 1º de junho como data magna da nossa imprensa.

O Correio Braziliense (1808-1822), em seus 14 anos e meio de existência, noticiou os principais fatos ocorridos na Europa e nas Américas. A diversidade e a riqueza do seu conteúdo, em suas 175 edições, se constituem numa primorosa fonte de pesquisa. Na seção “Miscelânea” se encontra a coluna “Reflexões sobre as novidades do mês e Correspondência“, onde Hipólito José da Costa debatia assuntos sobre o Brasil. Em março de 1814, o jornal foi pioneiro ao criticar a escravidão no Brasil. As ideias liberais, presentes no Correio Braziliense, influenciaram no processo político da independência do Brasil (1822).

Em 1802, ao retornar da Inglaterra, após fazer contato, em segredo, com os maçons britânicos, ele foi preso sob a acusação de pertencer à ordem, Após três anos, conseguiu fugir da prisão do Santo Ofício, encontrando asilo político na liberal Inglaterra onde viveu 18 anos, editou o Correio Braziliense, casou-se, em 1817, e teve três filhos.

O fundador da imprensa no Brasil, Hipólito José da Costa, nasceu, em 25/03/1774, na Colônia do Sacramento, no Uruguai, quando esta estava sob o domínio português , e faleceu, aos 49 anos, em Londres, no dia 11 /09/ 1823. Seus restos mortais foram depositados numa urna que se encontra no jardim do Museu da Imprensa Nacional, em Brasília, desde 2001, após o seu translado da Inglaterra para o Brasil com o apoio do Grande Oriente do Brasil (GOB) e da Fundação Assis Chateaubriand.

Pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Musecom *

Bibliografia

MACEDO, Riopardense de. Hipólito da Costa e o Universo da Liberdade. Porto Alegre: Ed. ARI / Sulina, 1975.

QUEVEDO, Raul. Em Nome da Liberdade / A saga de Hipólito da Costa. Pelotas: UFPEL 1997.

RIZZINI, Carlos. Hipólito da Costa e o Correio Braziliense. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1957

Site ;. http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/alm100620031.htm acessado em 27/05/2017 às 15:24