Os meus avós.

Guardo poucas lembranças dos meus avós, pois sai da Espanha ainda muito menino, com oito anos. Sou fruto de uma árvore que chamam de genealógica ( brincando digo ginecológica), um nome muito científico para uma família, mas enfim, que posso fazer ?

Dos meus avós maternos me recordo bem, pois o último ano antes do embarque o passei na casa deles, a minha avó Trini muito doente e acamada, pele e osso, e viria a falecer dois meses depois que chegamos ao Brasil, e o meu avô Pepe, com sessenta e três anos me parecia um ancião, trabalhando após a aposentadoria ,fazendo na madrugada o turno da fábrica de gelo para os pescadores, e eu lhe levava a marmita que a minha mãe preparava. Guardo no coração tê-lo visto chorar na despedida, e me impressionou muito, pois nunca vira um senhor de idade chorar, as lágrimas simplesmente rolaram sem nada dizer.

Dos meus avós paternos poucas lembranças ficaram, pois não vinham nos visitar durante o nosso último ano no país, e eu juro que nunca lhes fiz mal algum para isso. Me lembro do pai do meu pai (Juan) recortando rodelinhas de tecidos coloridos para a colcha de retalhos, e quando nos via chegar ficava em pânico, como se fôssemos os maiores espalhadores mundiais de retalhos , mas eu colocava as mãos para trás como ele exigia, e só assim olhar o seu caprichoso trabalho. A minha avó María (em espanhol tem acento ), uma senhora baixinha , sempre nos tratava bem, mas como tinha outros netos, poderia descartar alguns.

Não tenho netos, mas gostaria de tê-los , a idade chegou e não os tive, os meus filhos não quiseram ter, e é uma escolha unicamente deles, mas com toda a certeza eu lhes daria muito carinho e atenção, mesmo não tendo muito jeito com crianças pequenas.

Acho que quando tenho cães e gatos passo a ser muito carinhoso talvez em razão disso, mas não sei, de qualquer forma eu os acarinho e brinco muito com eles.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 01/04/2017
Reeditado em 03/02/2018
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