Ciclos de Halimah

Nasci no final dos anos setenta, natural de Viamão no Rio Grande do Sul,terra que me orgulho. Tive uma infância linda onde aprendi valores com minha mãe, que mulher sábia foi e é minha mãe. Ainda criança sempre tive a resposta na ponta da língua, com o passar dos anos fui me recolhendo e ponderando a fala e soltando a escrita. Única filha mulher da família, quando dei me conta da rejeição do meu pai a dor foi grande, defeito "ter nascido mulher". É aqui comecei a escrever, por volta dos meus doze anos, inspirada pela minha dor, mas usei este sentimento de rejeição para ir além do sofrimento, fui em busca do amor a vida, busca de conhecimento, leituras, e livros foram meus bons amigos por muitos anos. Mas assim como a borboleta tem seu ciclo eu tive os meus. A busca incessante por reconhecimento da minha capacidade intelectual e pensante foi uma das demonstrações ao meu pai de que embora fosse mulher tinha meus atributos. Cheguei a ingressar na faculdade, qual foi interrompida por uma graça de Deus que tornou me melhor a cada dia. Tive meu primeiro filho, meus conceitos foram repensados, e minhas atitudes foram convictas.

Todos os meus sonhos de ser uma mulher bem sucedida e independente foi trocado pelo o amor simples e único de um choro de neném. E desde então percebi o real motivo da minha metanoia. Era um ciclo que estava a começar e eu desfrutei de cada ciclo, vivi intensamente todos eles, e por isso consegui transcender sempre. Tive mais uma filha, que com ela aprendi a força de viver, pois ela nasceu com problemas de saúde e sua luta foi incessante,durante longos anos até estabilizar.

Segui minha vida profissional, conquistei meu espaço, mas ainda faltava algo que me motivasse a ser uma pessoa melhor ainda, foi aí que conheci o islamismo, era mais um ciclo.

Na busca do conhecimento o desconhecido me fascinou, estudei, me apaixonei. Me tornei muçulmana apenas lendo, sozinha no interior do Rio Grande do Sul, onde até hoje as pessoas nem sabe o que é isso islamismo, muitos pensam que é um país. Enfrentei muitas dificuldades e discriminação, porém a minha conexão com Deus era perfeita dentro dos princípios islâmicos. Passei a me ver como um ser agraciado por Deus, dotado de toda a capacidade e inteligencia. Decidi ir embora quando essa escolha começou a afetar meus familiares. Fui em busca de mais conhecimento, onde fui para em São Paulo, onde mais tarde acabei casando com uma pessoa que nunca tinha visto, mas confiei na palavra de uma pessoa conhecida de que ele era um homem religioso, casei e lá se foram sete anos quase, um aborto cheio de dor e sofrimento, depois veio um filho que encheu nossas vidas com alegria e amor. E sim existiu amor, mas como um jardim precisa de cuidados o ser humano também.

E os questionamentos foram imensos, as duvidas, medo, insegurança, vergonha, foi uma mistura de sentimentos que resultou em mais um ciclo, a metanoia que me fez viver no dentro de um casulo intensamente por anos, mas me foi preciso viver assim, para então estar pronta para o mundo lá fora.

E então tomei coragem e pedi divorcio, um momento difícil, mas a vida nos traz e nos leva a uma mudança de sentimentos e pensamentos nunca antes imaginado, mas tudo acontece para o melhor.

E cheguei ao ciclo da luta por uma vida diferente, a libertação, a força contida no meu intimo ser que me sustentou durantes anos dentro de um casulo, absorvendo todos os sofrimentos vividos até que então consciente, decide dar um basta. E a luta começou, duvidas , culpa, julgamentos, solidão, nesse momento tive a grandiosidade de ver os meus verdadeiros amigos e presenciei muitos fugindo, só lembro da imagem de suas costas. Eis aqui o motivo da necessidade de passar por todos os cilos.

Rompi o casulo, saí, fraca, sozinha, inexperiente, ainda com medo, mas livre. Passei a olhar essa situação não como uma perda, mas como uma oportunidade de olhar para o mais intimo do meu ser. E comecei o meu resgate da minha essência. Estou vivendo essa fase ainda, e confesso que estou melhor do que sempre estive em qualquer época, aprendi a gostar da minha própria companhia e me divertir com ela.

E não tem problema se eu rir de mim mesma, ou se meu numero de roupa ainda é grande. A felicidade foi encontrada no cotidiano dos meus dias. A gratidão chegou a mim da forma mais sublime, o viver, o amor aos filhos, a gratidão aos meus pais. Sim consegui aceitar a rejeição do meu pai e agradece lo por isso, pois foi exatamente as coisas que ele disse que eu não conseguiria foi tudo que conquistei, apenas parei de viver como afronta e passei a ser gratidão, ser perdão.

Agora cá estou, escrevendo conciso sobre todos os meus ciclos, mas é muito mais vasto do que isso. O resultado desse meu ultimo ciclo foi uma Fanpage "@resgatandoessencias" onde partilho com todos as muitas variações dos meus ciclos.Mas aqui deixo um pouco de mim, em forma de letras e sigo levando a beleza do que era fardo e virou exuberância da borboleta Halimah.

Daniela Appariz
Enviado por Daniela Appariz em 30/11/2016
Código do texto: T5839683
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.