O Máximo do Chiquinho

E não era só naquele nome familiar composto, Máximo Pereira - de longa e arraigada tradição no Pays do Pitangui - que o Chiquinho se esforçou e seu suor derramou, e seu amor dedicou na criação da família, ao trabalho e ao futebol.

Foi pela tesoura que conheci, de passagens cotidianas, as artes do Chiquinho, cuja alfaiataria ficava na praça da matriz. E eu, embora não passando de petiz, me deliciava com aqueles mementos do Clube de Regatas Vasco da Gama, que ficavam expostos num armário envidraçado. Quase parei à sua porta um dia para dizer-lhe que o papai também era vascaíno e que, embora torcedor do pó de arroz, eu sabia o nome completo do moço da foto mais proeminente de seu armário: Hideraldo Luís Belini.

Fiquei na intenção. Como fiquei também na longa fila da rapaziada boa de bola que queria ser seu comandado no Clube Atlético Pitanguiense, onde ele foi treinador por longas e repetidas vezes.

E quis também candidatar-me a uma ainda mais seleta fila de pretendentes: a de ser genro daquele popularíssimo - e circunspecto senhor. Mas me faltavam as qualidades em ambos os casos...

O que sei é que de Chiquinho, muita lembrança e admiração restam entre nós. Há cerca de dois anos, emocionou-me ser levado por um de seus filhos - acho que nenhum deles deu para o fubebol algo mais que o esforço, muito embora saibam bem fazer o meio de campo em quaisquer situações, tanto é que se destacaram em suas diversas profissões - pois é, mas como eu dizia, emocionou-me reencontrar o Hevérton, ex-colega de curso de admissão, ainda em 1961, e ser levado ao espaço da casa paterna dedicado ao culto e à perenização da lembrança do patriarca: seus objetos de trabalho estão lá. Não me lembra, contudo, ter revisto a foto do jovem Belini, levantando a taça Jules Rimet, da conquista da Copa de 1958.

O amor de Chiquinho pela família, o trabalho e o envolvimento com o futebol, não o impediam nada obstante, de entregar-se ímpetos de irrefreada paixão, e era o Marcim Pressão, o Saulzinho, contemporâneo que contava essa, daqueles tempos em que o Galo vivia no sufoco, na correria, no desespero, para ver se abocanhava um pouco do bolo do campeonato mineiro, quando o Cruzeiro de Tostão, Dirceu, Piazza, Zé Carlos, não deixava para ninguém...

Pois numa tarde de domingo, frente ao rádio, Chiquinho se contorcia nos minutos finais de mais um empenho, e o Galo não passava de um vergonhoso empate contra o Vila Nova. Mas Dario ainda fustigava...quando o locutor da Independência deu aquela sentença:

Apito final!!! Chiquinho lançou-se ao aparelho e mudou de estação, bradando: na Itatiaia, garanto que ainda não acabou...!!!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/11/2016
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