Um dia descobri o preconceito.

Estava com meus nove anos por essa época, e corria o ano de 63, um ano conturbado no mundo, onde Kennedy havia sido morto a tiros, e o pastor Luther King (prêmio Nobel da paz), lutava pelos direitos dos negros. A "ku Klux Klan" nunca esteve tão na mídia, barbarizando os bairros de famílias negras, haviam cinemas só para brancos, banheiros públicos segregados, e os Estados Unidos se mostrava ao mundo pelo pior ;o racismo.

Para falar a verdade, eu quase nada entendia dessas coisas, os meus pais nunca foram racistas, e eu brincava com todos em igualdade, não tinha qualquer sentimento quanto as diferenças de cor, mas um dia descobri que existiam essas coisas , e da pior maneira.

A escola preparava o ensaio das crianças para uma festa folclórica, e foram pegando as crianças pelas classes, e eu fui um dos escolhidos para dançar, nunca recusava essas coisas, quadrilhas e tudo que pudesse me fazer escapar um pouco das aulas...rsrsss...e me colocaram uma menininha de cor para ser meu par, e por algum motivo (?) eu não gostei, mas me lembro que não foi pela cor, foi pela aparência, coisa de criança, vá entender . O ensaio aconteceria em dois turnos, e no segundo simplesmente não apareci.

No dia seguinte no pátio ,antes do ensaio, a professora toda indignada, me cravou com fúria, e na frente de todos, fez um discurso inflamado sobre o racismo, mencionando até Luther King, o discurso da sua vida , febril e entusiasmado, mas simplesmente se esqueceu que eu era apenas um garotinho de nove anos, e que não estava entendendo a dimensão de tudo aquilo, eu só não queria dançar com uma menina, só isso...senti vergonha, mas sabia o tempo todo que não tinha qualquer sentimento racista, me senti injustiçado. As demais crianças ficaram em silêncio, me olhando , algumas com desprezo, outras sem entender nada, e tive vontade de sair correndo, mas fiquei. No dia da festa, me apresentei e dancei , aquele ensaio do dia anterior não me saia da cabeça, e nunca saiu ... Sempre tive noção das coisas, fato é que guardei o ocorrido até hoje, e nunca comentei com os meus pais. A minha mãe não era de reclamar na escola, eu tinha que me virar, mas algumas coisas ela não costumava deixar de lado, e a conhecendo, senti que essa seria uma delas.

De qualquer forma eu mereci um puxão de orelhas, só não precisava ser desse tamanho !

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 19/11/2016
Reeditado em 23/03/2018
Código do texto: T5828124
Classificação de conteúdo: seguro