Última lua

Publicado por: Larissa Prado
Data: 06/04/2017
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

Prosa poética, "Última Lua" por Larissa Prado. Narração: Leandro Aguilar
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Última Lua

Você acredita que dá para morrer de solidão? Que ela pode matar como uma arma carregada, engatilhada, apontada para sua têmpora? Você acredita que dá para morrer de tristeza? Que um dia ela vai ser tão pesada que romperá o tecido cardíaco exausto de contrair e descontrair? Se você acredita nessas hipóeteses impossíveis, se pelo menos em algum momento já sentiu que poderia morrer de qualquer forma pela intensidade de algum pensamento; ou que estava morrendo e precisava se manter vivo como fosse porque um movimento ao redor de si exigia isso, então vai compreender a sensação de pisar na última lua a girar no espaço-tempo de uma existência.

Dizem  que Saturno possui um total de 12 luas girando em torno de si, talvez possua até mais, e posso dizer que se comparada a algum planeta do sistema, minha solidão equivale ao infinito girar dos aneis saturnianos. Ela não pára de girar em torno de mim, visitei todos possíveis satélites que um dia se apresentaram como saída para esse amargo viajar no enganoso e solitário deserto de mim mesma nada encontrei além de crateras sem fundo. Espaços vazios. 

Eu sei que amanhã vai ser tarde, o tempo escorre pelos dedos e transforma toda energia em fogo fátuo, buracos negros no espaço. Amanhã é o dia que mais um ano vai pesar na minha existência, mais um dia que me arrastarei na viagem sem destino que é a vida, indo ao encontro do duvidoso manto negro que cobre o futuro e embaça o passado. Solitariamente. Eu sei que dá para morrer de solidão, e você deveria acreditar nisso também, pois, está morrendo a cada minuto que passa e não se dá conta disso, do enorme deserto que te cerca. 

Cada ser humano é um planeta e cada um possui seus próprios satélites girando, girando em torno de si mantendo o movimento necessário. Mas, e se o movimento finda? Porque até mesmo o espaço pode ser finito... e quando se toma consciência de que o fim é alcançável até entre as estrelas? Que ele está presente desde o início? Quando você saboreia doses de pequenas mortes diárias, a excursão à última lua pode ser agridoce, a certeza que depois dessa não vão haver outras viagens, chegamos ao ponto final do texto.

Depois do último ponto, da última lua, da última viagem... o que restará além de reticências e o pó de estrelas mortas? 
Larissa Prado
Enviado por Larissa Prado em 28/03/2017
Reeditado em 28/03/2017
Código do texto: T5954198
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