O amor bate na aorta, DRUMMOND_ letra & declamação

O amor bate na aorta - letra e declamação

"O amor bate na aorta"

Cantiga de amor sem eira

nem beira,

vira o mundo de cabeça

para baixo,

suspende a saia das mulheres,

tira os óculos dos homens,

o amor, seja como for,

é o amor.

Meu bem, não chores,

hoje tem filme do Carlito.

O amor bate na porta

o amor bate na aorta,

fui abrir e me constipei.

Cardíaco e melancólico,

o amor ronca na horta

entre pés de laranjeira

entre uvas meio verdes

e desejos já maduros.

Enre uvas meio verdes,

meu amor, não te atormentes.

Certos ácidos adoçam

a boca murcha dos velhos

e quando os dentes não mordem

e quando os braços não prendem

o amor faz uma cócega

o amor desenha uma curva

propõe uma geometria.

Amor é bicho instruido.

Olha: o amor pulou o muro

o amor subiu na árvore

em tempo de se estrepar

Pronto, o amor se estrepou.

Daqui estou vendo o sangue

que escorre do corpo andrógino.

Essa ferida, meu bem,

às vezes não sara nunca,

às vezes sara amanhã.

Daqui estou vendo o amor

irritado, desapontado,

mas também vejo outras coisas:

vejo corpos, vejo almas

vejo beijos que se beijam

ouço mãos que se conversam

e que viajam sem mapa.

Vejo muitas outras coisas

que não ouso compreender…

_Carlos Drummond de Andrade_

Créditos declamação: Dani Carvalho

_Carlos Drummond de Andrade_ por Dani Carvalho
Enviado por Menino Poeta by Judd em 06/10/2017
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