OS POVOS FALANTES DE BANTO E SUA EXPANSÃO

Ao estudarmos uma língua esbarramos com infinitas variáveis que nos dificultam chegarmos a uma posição conclusiva, em se tratando de um povo ágrafo reforçado por um longo período envolvendo milênios, preconceitos raciais calcados em visão eurocêntrica e outros pormenores, essas dificuldades são ampliadas. Em relação ao Banto pode ter ocorrido no decorrer dos séculos mudanças sutis ou acentuadas, variando de região para região, mas apesar de todas essas variáveis apresentadas, segundo o autor ainda ocorrem grande semelhança entre as centenas de dialetos de raiz “banto” falado em grande parte do continente africano. Para conhecermos melhor as estruturas linguísticas e culturais africanas, é indispensável nos debruçarmos sobre o assunto, lendo textos de diversos autores, somente com esse procedimento poderemos mostrar como um conhecimento mais próximo da realidade africana pode contribuir para a derrubada de antigos preconceitos e pré-noções que ainda estão arraigados em nossa sociedade a respeito dos povos africanos, em que recebiam o estereótipo de incapacidade de construir uma civilização, inferiores, preguiçosos e outros adjetivos pejorativos, que não correspondem à realidade.

Fundamentado no texto do autor concluímos que, na África em um terço do território subsaariano de leste a oeste até a parte meridional ou austral (países do Sul), falam línguas estreitamente aparentadas chamada Banto. São mais de quatrocentos dialetos cuja raiz é o “protobanto”. Quanto a isso não há dúvidas devido a suas semelhanças entre suas características lexicais, fonéticas, morfológicas e sintáticas. Essas semelhanças não são casuais nem tão pouco fruto de empréstimos. A palavra que tem por significado “pessoa” é muito semelhante nos diversos dialetos falados na África negra, bato em Duala, bot em Fang, baaru em Tio, bantu em Kongo, banto em Mongo, baat em Bushong, abantu em Rwanda, abantu em Herero. As formas são todas similares elas derivam do (ntu) para a raiz e ( ba) indica o plural. Em outras comparações a repetição é reincidente. Todos os ( t ) em segunda posição, na raiz torna-se ( r) em Tio, isso exclui semelhança devido ao acaso ou empréstimo.

Foi possível identificar um léxico protobanto para mais de quinhentas raízes, as quais são dotadas de correspondência fonéticas regulares, a morfologia da língua banta apresenta analogia até nos detalhes, nas concordâncias gramaticais e prefixos. As similaridades entre essas línguas gramaticalmente. Ante ao exposto concluímos que em um terço do continente africano os dialetos derivam do Banto.

Wilhem Bleek em 1862 identificou que a palavra ( bantu ) significava “pessoas”. Os antropólogos e cientistas dentre eles H. H. Johnston em 1886 saíram no encalço de identificar a história da profusão dessa língua a origem e processo de dispersão. Segundo ele os bantos se deslocaram em rumo ao leste. Desse ponto foram para as margens norte do Lago Vitória, posteriormente para a Tanzânia e República Federativa do Congo. A penetração para a África meridional começa por volta do ano 300AC. Segundo Joseph Greenberg a origem do banto recai sobre povos que habitavam a Nigéria situada na parte ocidental do continente, mas a teoria foi inicialmente refutada por Malcom Guthrie, porém posteriormente aceita pela maioria dos linguistas. Para Guthrie a origem do banto estava situada em torno da bacia do Rio Congo no Zaire. Diante de tais divergências inúmeros linguistas construíram suas próprias teorias a cerca da origem e expansão dos bantos.

As teorias mais defendidas são de que a expansão da língua foi decorrente de migrações do Zaire até a Tanzânia, ocorrida no primeiro milênio da Era Cristã até meados do segundo milênio, ( o Império do Mali fundado no século XIII perdura até a chegada dos europeus no século XVI). Desde 1973 três equipes trabalhando separadamente provaram que Guthrie estava equivocado. No entanto ninguém conseguiu apresentar provas a ponto de ser seguramente aceita devido a empréstimos maciços entre línguas banta desde a época do ancestral comum até os dias atuais. Isso comprova que os bantos mantinham relações estreitas com seus vizinhos, jamais houve populações isoladas uma das outras. Há consenso entre os linguistas que houve dois grandes grupos, um do Oeste abrangendo a floresta tropical e outro ao leste de Uganda ao Cabo. Isto é um grupo genético no Congo e outro na região dos Grandes Lagos. Detectar com precisão será uma árdua tarefa porque no tocante ao léxico não há dados relativos à cerca da metade da língua banto.

Para termos documentos que retratem a veracidade seria necessário notações linguísticas corretas, o que requer investigações e estudos mais aprofundados. Portanto é necessário que cada língua banta principalmente no Oeste seja conhecida o suficiente para podermos nos fiar devidamente, antes de proferir qualquer afirmação.

Os autores são unânimes em dizer que a língua banta expandiu-se fomentado pelas migrações. Na relação língua, cultura e raça não há uma identificação estável, o bira é falado por caçadores de pele do Zaire como pelos pigmeus habitantes das florestas tropicais e por tribos da savana, portanto grupos étnicos diferentes, em contrapartida cada grupo vivem próximo de outros grupos que falam línguas diferentes, comprova que não há uma correspondência entre língua e cultura. Com as migrações pode ter ocorrido de povos autóctones abandonarem seu idioma e passado a falar o banto.

Com as migrações e ou invasões uma população torna-se bilíngue, em seguida abandona seu idioma e passa a falar a língua estrangeira, como exemplo podemos citar o Paraguai onde o guarani é falado somente nas relações informais, foi substituído pelo espanhol, assim como todas as nações conquistadas por eles, no Brasil o tupi foi suplantado pelo português. Trata-se de relações de forças socioculturais que determinam essas mudanças, nos quais podem ser acrescentados laços comerciais e até religiosos, é importante lembrar que por analogia não podemos relacionar tudo apenas as migrações, mas numa somatória de mecanismos implicados. Outro fator determinante é que no decorrer do tempo a língua banta evoluía, diferenciando-se em dialetos de outras línguas. Outro detalhe a ser considerado é que a forma pode conservar-se estática, mas o sentido muda com o tempo alterando seu significado em tribos diversas. Exemplo disso é a raiz “ kúmo” pode significar, curandeiro, chefe, divino ou ricaço.

É provável segundo o autor que os ancestrais bantos cultivassem o “inhame”, como animal doméstico conhecia somente a cabra, caçava o javali africano e particularmente se dedicavam a pesca. A língua pode ser comum a duas comunidades com hábitos diferentes. O léxico em correlação com a arqueologia permite datar o início da expansão banta, ela remonta ao neolítico, praticavam a agricultura mas não conheciam a tecnologia dos metais compreendido entre 1000AC. A 400AC. Embora os falantes do banto ocupassem a terça parte do continente, as duvida recaem sobremaneira a respeito do seu deslocamento. Através da arqueologia, tenta-se aproximar o léxico das migrações. As teorias divergentes não conduzem a um denominador comum, dificultando resultados expressivos.

Um sítio da primeira idade do ferro é posterior a origem da expansão da língua banta. É impossível relacionar um tipo de cerâmica dos primórdios da idade do ferro. Como a maioria dos sítios estão na área de expansão das línguas bantas orientais, lastreou-se nessas evidências que lá se encontrava o vestígio arqueológico da expansão banta. Duas teorias sustentam os motivos da expansão banta. Uma defende a possibilidade de terem abandonado a caça e colheita em detrimento de uma agricultura estruturada capaz de promover uma explosão demográfica seguida de migrações de populações a procura por terras férteis. Outra teoria está ligada a conquistas atrelada a tecnologia do ferro que permitiu ferramentas mais eficazes no aumento da produção agrícola e fornecimento de carne provida da caça ao javali, impondo sua língua e domínio sobre seus vizinhos. Em contrapartida há quem defenda justamente o contrário, o que é mais provável que catástrofes como fome, guerras, doenças fizeram com que os bantos percorressem o vasto território em busca de soluções para seus problemas. O trabalho com o ferro não revolucionou a agricultura se não progressivamente, esse metal era produzido em baixa escala, as áreas destinadas ao plantio eram obtidas através das queimadas, quanto as armas de guerra foi o mesmo. A migração dos bantos não tomou a forma de um êxodo, mas em pequenos grupos de uma localidade para outra, como também não ouve uma progressão linear, unidirecional, penetraram na floresta paulatinamente. A zona equatorial era desfavorável ao movimento populacional, portanto até o final do primeiro milênio os bantos do oeste tenham sido os mais estáveis dos dois mais importantes grupos bantos. Da mesma forma o pouco domínio em trabalhar o ferro não proporcionou um grande aumento na produção agrícola a ponto de promover uma explosão demográfica. Ante o exposto não há como comprovar quais foram os motivos que empurraram os bantos para o Leste.

O linguista Christopher Ehret elaborou uma teoria segundo a qual línguas sudanesas se difundiram até a África Meridional onde os bantos se fixaram às margens do Lago Tanganica. É necessário admitir que não se compreenda como as línguas bantas puderam prevalecer na África Oriental. As populações autóctones eram tecnicamente mais avançadas que os bantófonos e, dentre elas algumas falavam línguas central-sudanesa. Provavelmente foi a superioridade técnica que contribuiu para a língua banta prevalecer na região. Segundo o prof. Ehret é possível acreditar que o banto originou-se no Oeste, em seguida expandiu-se para o norte e sul. As línguas bantas encontraram-se sobrepostas com outras, onde dependendo da região prevalecia uma ou outra. No atual estágio das pesquisas não é possível determinar com precisão a origem, época e razões que levaram os bantos a percorrer em larga escala a África Subequatorial, apenas o aprofundamento poderão contribuir para novos fatos, sendo que muitas línguas ainda permanecem desconhecidas.

Esse texto desenvolvido por dois especialistas tendo opiniões divergentes chegaram a um consenso para alguns pontos em comum, promovendo reais progressos relativamente ao problema banto em questões importantes, demonstrando que anos de discussões desembocaram em avanços promissores. Apenas um ponto de desacordo, a teoria de S. Lwanga Lunyiigo aponta que os povos originários de língua banto ocupavam a região dos grandes Lagos na parte oriental até o litoral Atlântico do rio Zaire, assim como sua migração a partir da África Ocidental rumo a parte central e meridional jamais ocorreram. Os fatos conhecidos indicam que povos de tipo físico negroide ocupavam a África subsaariana desde a média idade da pedra, e que as populações de língua banta descendem desta origem negroide. É possível que a língua banta seja fruto da interação de diversas coletividades negras primitivas. Isso não exclui o fator genético que tende a demonstrar uma origem única das populações de língua conexa. Onde coletividades negras puderam agir reciprocamente para gerar novas línguas. Da mesma forma achados arqueológicos, comprovaram que os ancestrais dos bantos estavam espalhados na África Sub Saariana desde meados da idade da pedra e que havia ligação entre eles, não estando isolados como apregoavam.

Após destrinchar o texto, um fato é irrefutável, quaisquer que tenha sido suas origens os povos de língua banta efetuaram muitas migrações, integraram linguagens Khoisan e, provavelmente sudanesas em imensas regiões sub Saariana, entre o final do primeiro período da idade do ferro e início do segundo milênio da era Cristã.

Todo essas teorias, algumas devidamente comprovadas, são o suficiente para mostrar como um conhecimento mais próximo da realidade africana pode contribuir para a derrubada de antigos preconceitos e pré-noções que ainda estão arraigados em nossa sociedade a respeito dos povos africanos, em que recebiam o estereótipo de incapacidade de construir uma civilização, inferiores, preguiçosos e outros adjetivos pejorativos que não correspondem a realidade.