A FERRUGEM DA AVAREZA

A FERRUGEM DA AVAREZA

Assim como a humidade cria uma fina película de ferrugem que destroi os metais, igualmente a avareza cria uma camada deletéria sobre a moral e sobre a sensibilidade de quem a pratica. Por avareza, conhecemos um excessivo, sórdido e irreversível apego ao dinheiro e às riquezas, em que o indivíduo, pela falta de generosidade torna-se esganado, cobiçoso, mesquinho, fechado sobre si mesmo.

Sobre a avareza há um curioso provérbio grego que, bem traduzido, diz, mais ou menos: “o avarento é como o porco: só tem utilidade depois de morto”. Conheci uma pessoa, filho de um avarento. Na hora em que o pai morria, de infarto agudo, qual um sórdido personagem de Charles Dickens, ele foi direto ao cinto, onde o velho usava o chaveiro, para apossar-se da chave do cofre. Esta pessoa conseguiu ser mais avarenta que o pai. Morreu sozinha, sem amigos nem parentes. foi preciso pagar seis pessoas para carregarem seu caixão. Nos clássicos sermões de Santo Antônio há críticas acérrimas aos avarentos: “O avarento é um pobre, a quem o dinheiro e a usura governam. Não é possuidor mas possuído”. “A cobiça, por insaciável, é a raiz de todos os males”.

É triste se observar pessoas de idade, com alguma sobra financeira, incapazes de investir em si próprio, em qualidade de vida, sob a desculpa de estar economizando para a velhice... Na epístola de Tiago há uma contundente crítica ao avarento: “E agora vocês, ricos: comecem a chorar e gritar por causa das desgraças que estão para lhes acontecer. Suas riquezas estão podres, suas finas roupas foram roídas pelas traças, o ouro e a prata de vocês estão enferrujados, e a ferrugem deles dará testemunho contra vocês, e como fogo lhes devorará as carnes! Vocês amontoaram tesouros para o fim dos tempos. O salário retido dos trabalhadores que fizeram a colheita clama contra vocês e os protestos deles chegaram aos ouvidos do Senhor!”.

E não há só a avareza do dinheiro; há também a da posição social, do status, da imponência do cargo, dos talentos e da notoriedade. São João Crisóstomo alerta que “convença-se que rouba o alheio quem retém para si mais que o necessário”. O econômico é o mais rico dentre os homens; o avarento, o mais pobre. Como diz mestre Balzac, “o avarento experimenta, simultaneamente, todas as preocupações do rico e todas as torturas do pobre”. Certa vez, ouvi um homem descrever a morte de um parente: “Morreu pobre; não tinha nada; só dinheiro”.