A Psicanálise

Não se pode negar que todo o conhecimento humano tenha começado com a filosofia. No inicio empiricamente agrupados em conhecimentos gerais e com o passar do tempo foram sendo separados por áreas de abrangência.

Assim foram surgindo as áreas das ciências exatas, ciências humanas, ciências sociais, das ciências médicas e outras que por sua vez, foram sendo divididas em campos específicos e recebendo denominações próprias que já direcionavam os rumos dos estudos, das pesquisas e das aplicações.

Como é muito difícil, ou quase impossível, delimitar rigorosamente cada área de estudo, de pesquisa e de aplicação de cada ciência, podemos dizer que muitas foram juntadas e outras fragmentadas fazendo surgir uma terceira ciência composta de partes de uma ou de cada uma das ciências já existentes.

Dentro deste contexto está a Psicanálise que é o objeto deste artigo a qual para a sua formação recebeu a contribuição da ontologia, ciências humanas, ciências sociais, das ciências médicas e da psicologia, mas é um campo clínico independente da psicologia.

É entendimento corrente que a Psicanálise foi criada por Sigmund Freud, mas essa informação, a nosso ver, é tão falsa quanto aquela que diz que Freud explica tudo.

Na verdade essa forma de terapia foi desenvolvida em cima das bases pré-existentes da neurologia, psiquiatria, da psicologia e trabalhada por Freud e Jung a quatro mãos.

Quando dizemos que a psicanálise foi elaborada a quatro mãos queremos dizer que boa parte da sua construção se deve a contribuição de Jung que ajudou a desenvolver alguns dos seus principais conceitos como a repressão, o inconsciente, a contra transferência, os princípios éticos e a análise para os analistas.

Mas a principal contribuição de Jung para a psicanálise foi, sem dúvida, a sua teoria da associação de palavras ou “Teste de Associação de Palavras” cujos resultados o levaram a formular, mais tarde, a teoria dos complexos.

Quando a psicanálise começou a apresentar alguns resultados as divergências naturais que surgiram entre os dois gênios fizeram com que eles se separassem e cada um continuasse individualmente suas próprias pesquisas dando origem a duas abordagens psicanalíticas.

Sabemos que toda a obra ou criação traz consigo os traços da personalidade do seu autor. Assim, a psicanálise embora tivesse a mesma origem as abordagens freudianas e junguianas são teoricamente diferentes visto que trazem o entendimento e as formas de aplicação de cada um.

Dessa forma, para sermos fieis a história da psicanálise também temos que dividir a nossa exposição apresentando inicialmente e resumidamente as proposições de Freud, depois as de Jung para no final concluir a nossa visão sobre a psicanálise.

Interpretando a teoria freudiana vamos verificar que ela divide a psique humana em consciente e inconsciente e, segundo se depreende dessa teoria, a psique humana é comparável ao um iceberg onde a parte menor e visível é o consciente e a parte maior é o inconsciente que está submerso e por isso não é acessível por esforço próprio.

Como o consciente nada tem a esconder, Freud se ateve principalmente ao estudo do inconsciente que é o pilar central da sua psicanálise. Segundo ele a personalidade humana se estrutura a partir de experiências vividas durante a infância e com forte influencia da sexualidade.

Essas experiências vão sendo gravadas no inconsciente e podem ser a origem de muitos dos males que nos afligem. Assim, para ele, é nesse período do desenvolvimento humano que as causas das psicopatologias devem ser procuradas.

O inconsciente é o conjunto dos processos e fatos psíquicos que atuam sobre a conduta do individuo, mas não podem ser acessados por nenhum esforço da vontade ou da memória, em outras palavras, não poderão ser lembrados conscientemente.

Para Freud podemos conhecer o conteúdo do inconsciente através da hipnose, da livre associação de palavras e através da interpretação dos sonhos. Embora Freud tenha se utilizado da hipnose e principalmente da interpretação dos sonhos que é um marco na sua psicanálise, a livre associação de palavras é tão importante para a prática da psicanálise que atualmente é a regra fundamental em todos os consultórios.

Segundo essa regra o paciente deve falar ao analista tudo aquilo que lhe vier a mente principalmente aquilo que se sentir tentado a omitir.

Por meio da fala do paciente Freud descobriu que tinha acesso aquelas memórias reprimidas as quais uma vez trazidas a consciência promovia a melhora do estado da saúde mental da pessoa. Por causa de esse método ser centrado na livre associação de palavras a psicanálise tornou-se conhecida como a cura pela palavra ou terapia da palavra.

Muito mais que o conceito de cura a psicanálise propõe o conceito de fortalecimento mental. Fortalecer a mente é um dos objetivos da psicanálise, pois uma mente forte suporta melhor as perdas e tropeços e será aquela que melhor lidará com as vicissitudes próprias da vida cotidiana.

A maneira com que lidamos com as adversidades, perdas e frustrações é diretamente determinada pelo nosso potencial mental, isso significa que uma mente forte não permite que venhamos a sucumbir em meio a dor ou ao sofrimento.

Por outro lado, Psicologia Analítica foi o nome escolhido por Jung para identificar o seu sistema teórico que divide a psique humana em inconsciente individual e inconsciente coletivo.

O Inconsciente individual é aquela camada mais superficial da psique onde estão os conteúdos que não necessitam estarem presentes constantemente na consciência, mas que poderão surgir na memória a qualquer momento.

Já o Inconsciente Coletivo é a camada mais profunda da psique e onde se encontram muitos conteúdos herdados dos ancestrais da humanidade.

Para Jung, o ser humano nasce inconsciente, mas traz no inconsciente coletivo imagens primitivas relacionadas as criações da nossa espécie com cargas emocionais semelhantes.

Na camada do inconsciente coletivo somos todos iguais porque nela se encontram vestígios de traços funcionais comuns a todos os seres humanos, que são compartilhados por toda a humanidade.

Esses vestígios e traços funcionais estão ao alcance de cada um e prontos para serem concretizados através das experiências reais.

Assim, o inconsciente existe antes do consciente e no inconsciente encontram-se, em movimento, conteúdos pessoais, adquiridos durante a vida e mais as produções do próprio inconsciente.

Por isso, segundo Jung, o homem deve ser analisado em sua integridade e comunidade, nunca isolado do contexto sócio cultural e universal.

Além disso, dois importantes conteúdos estão presentes na proposição junguiana que são os complexos e os arquétipos. Os complexos são formas de comportamentos transversos que estão no inconsciente individual, mas são de extrema importância para a vida psíquica da pessoa.

Os complexos têm como núcleo o arquétipo e, em torno deste núcleo vão se concentrando idéias ou pensamentos cheios de afetividade. Para Jung, os complexos são os caminhos que nos permitem chegar ao inconsciente e não os sonhos, como Freud pensava, mas os complexos é que são responsáveis pelos sonhos e sintomas.

São eles que possibilitam a movimentação da psique e poderão ser uma fonte de inspiração para algumas realizações. Por serem mais visíveis e freqüentes os complexos maternos, paterno, o complexo de poder, de inferioridade e o de superioridade são os mais fáceis de serem analisados.

Para Jung, o Ego é um complexo que é formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória e acabam por se tornarem grandes aliados que impulsionam o ser humano para o desenvolvimento psíquico. Esses dois fatores são os principais componentes do ego, que nos possibilitam considerá-lo como um complexo de fatos psíquicos.

Geralmente, aquelas situações em que ocorrem alterações da consciência e também comportamentais, sem motivo aparente, são manifestações da possessão do complexo sobre o ego.

Segundo Jung, todos temos uma certa idéia de já termos existido ou vividos em épocas passadas e que todos acumulamos uma longa série de experiências e recordações de vidas pretéritas.

Jung chamou de arquétipos essas experiências e recordações que são imagens rudimentares dos seres que fomos que a psique cultiva e servem de modelo para os complexos.

O arquétipo é uma repetição infinita que gravou experiências em nossa constituição somente como formas sem conteúdo que representavam apenas a possibilidade de um certo tipo de percepção e de ação.

Dessa forma, existem tantos arquétipos quantas são as circunstâncias representativas ou situações típicas da vida e correspondem a traços funcionais do inconsciente coletivo.

Os arquétipos não são observáveis em si, só podemos percebê-los através das imagens que eles proporcionam. Tais imagens são “imagens primordiais” peculiares à humanidade e se alguma vez foram “criadas”, a sua criação coincide no mínimo com o início da espécie.

Por exemplo, a persona é um arquétipo muito importante, na medida em que dependemos dela em nossos relacionamentos diários, no trabalho, na roda de amigos ou na convivência com o nosso grupo. Já a ânima e o animus são arquétipos responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo oposto.

De outra forma, sempre que nos referimos a psicanálise vamos direto aos extremos Freud ou Jung, mas se considerarmos que, como dissemos acima, a psicanálise foi elaborada a quatro mãos, somos forçados a admitir também que na pratica uma pouco difere da outra.

Por exemplo, Freud divide a psique humana em consciente e inconsciente e diz que no inconsciente estão gravadas todas as experiências vividas principalmente na infância. Para ele essas vivencias são as responsáveis pelo comportamento hodierno do individuo.

Para Jung, o inconsciente se divide em inconsciente coletivo e inconsciente individual. No inconsciente coletivo estão as experiências vividas desde o inicio da humanidade e que estas experiências influem diretamente no comportamento das pessoas.

Dessa forma, independente da denominação, da localização onde estão gravadas ou da época em que aconteceram, entendemos que para os dois gênios todo o comportamento humano seja bom ou ruim, saudável ou doentio é resultado de eventos acontecidos ou sofridos em tempos pretéritos.

A partir desses acontecimentos se criam personagens ou situações para explicar de que forma essas conseqüências se manifestam presentemente nas pessoas. Freud por exemplo, se utiliza do ego, superego e id que expressam as razões de comportamentos. Jung por sua vez, usa seus arquétipos e complexos para justificar as variantes de uma personalidade.

Também é evidente que os complexos freudianos não são os mesmos de Jung. Enquanto para aquele os complexos são comportamentais para este os complexos influem sobre o ego ditando o comportamento.

De qualquer forma, não podemos negar que ambas as abordagens se norteiam pela mesma linha de fé. Quando dizemos pela mesma linha de fé, queremos dizer que na prática o paciente deitado ou sentado é submetido ao mesmo questionário e os mesmos procedimentos quer sob uma ou outra abordagem.

Apesar de alguns resultados obtidos com a sua terapia e elogios que recebeu ao longo do tempo a psicanálise também sofreu criticas ferozes contra a exacerbada sexualidade freudiana e as múltiplas vivencias junguianas.

Para encerrar, dizemos que assim como não existem estudos significativos sobre as leis que regem a origem da vida, também não existe teorias conclusivas sobre as leis que regem a atividade mental, emocional ou o destino das pessoas.

A própria Psicologia que parecia surgir para desvendar o universo interior do ser humano, não realizou avanços suficientes para explicar os mistérios dessa interioridade.

Seguindo por essa mesma trilha está a psicanálise que apesar de seus esforços não conseguiu a eficácia a que se propunha e por isso mesmo ainda não é reconhecida como uma ciência terapêutica.

Jhon Macker
Enviado por Jhon Macker em 21/08/2017
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