Sobre ser Historiador

História, ciência do homem no tempo. Existem, claro, pessoas que discordam desse termo “ciência”, demasiado positivista para elas, herança de um anseio de cientificidade vindo do século XIX. Devo recorrer, então, à definição um pouco mais abrangente de Leopold Von Ranke, segundo a qual ela é, “ao mesmo tempo, ciência e arte”? Saindo dessa breve discussão sobre o conceito de História, nesse dia 19 de agosto, Dia do Historiador, me faço dois questionamentos pertinentes: Porque escolhi esse curso? Porque sou historiador?

Bom, desde cedo sempre gostei do cotidiano, do movimento de pessoas, de cargas, pelas ruas do meu bairro e da cidade. As personagens peculiares, as ruínas e as casas antigas, as estórias e lendas locais, as manifestações religiosas e profanas, as conversas informais nas tabernas, nas repartições públicas, a orla do Rio Negro em contraste com a paisagem urbana. Foi através da escrita, ainda no Ensino Fundamental, que pude melhor expressar minhas concepções de mundo, da sociedade em que estou inserido, me reconhecer como agente do processo histórico. Ainda me faltava, claro, a formação, o conhecimento profundo dessa área, a profissionalização.

No início de 2015 veio o resultado da aprovação para o curso de Licenciatura Plena em História, na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Até o presente momento, ser aluno desse curso permitiu o acesso a diferentes conhecimentos, conhecimentos esses que ou reforçaram antigas convicções, ou sedimentaram e ajudaram a construir novas. Referenciais teóricos, metodologias, críticas, conselhos e ‘puxões de orelha’, todos aplicados, de alguma forma, no que aqui se pretendeu fazer. Agradeço aos professores Auxiliomar Ugarte, Maria Eugênia, Joana Clímaco, Almir Diniz, Luís Balkar, Ana Lúcia, Patrícia Silva, Sínval Gonçalves, Márcia Mello, Glauber Biazo, Kátia Couto, Thiago Atroch, Davi Avelino e Robeilton Gomes por tudo o que foi ensinado até agora.

Criei o blog História Inteligente com o intuito de incentivar os jovens e demais pessoas à leitura, à escrita e aos estudos das Humanidades, destacando a importância da História, que não é simples “memorização” ou conjunto de datas e fatos como ainda sustentam certas pessoas, marcadas por uma transposição didática há muito mal feita, mas que hoje toma novos rumos, mas antes uma ciência na qual se busca compreender os processos humanos, processos esses que por serem humanos são desiguais, no tempo, repercutindo em mudanças na estrutura de nossa sociedade. A boa História não é aquela dos fatos construídos e presa a uma estrutura, mas sim a que se assemelha (aqui me aproprio, de certa forma, dos postulados de Fernand Braudel sobre longa duração) a uma comida preparada lentamente em fogo baixo, para que o gosto seja melhor apurado, para que a sutiliza dos diferentes temperos seja captada, fazendo com que o resultado final seja saboreado com maior prazer.

Escolhi o curso de História porque tenho um dever social, de fazer as pessoas se identificarem como agentes de um processo, construtores de suas realidades, elementos dinâmicos em um vai e vem constante, para que entendam a trajetória humana. Sou filho do meu tempo, não sou um juiz do passado, sou historiador porque busco compreender as mudanças, as ações e as motivações de homens e mulheres através do tempo.