O anticapitalismo de direita

O ANTICAPITALISMO foi um movimento exclusivamente de esquerda? Hoje pode ser, mas NEM sempre foi. Esquerda e direita têm essências que são atemporais (por ex. defesa da igualdade x defesa de hierarquias), mas ambos espectros se adequam às suas determinadas épocas, por isso não são estanques. O conceito que hoje muitos têm da direita - como dizer que se defende "estado mínimo" - não é o mesmo de oito ou sete décadas atrás.

No período pós-primeira guerra, especificamente durante crise de 1929, o capitalismo esteve desgastado. Conforme explica Friedrich Hayek na obra "O Caminho da Servidão", surgiram neste contexto movimentos que se diziam anticapitalistas à direita, mas diferentemente do marxismo, estes não defendiam a abolição da propriedade, nem luta de classes.

Jésus Huerta de Soto, economista da Escola Austríaca, definiu o "socialismo de direita", ou "anticapitalismo de direita", como o movimento político que pretendeu manter o status quo através da repressão contra a livre iniciativa e a ação humana criativa que pudessem perturbar a organização pré-estabelecida da sociedade ou ameaçassem seus valores e tradições [1].

A diferença fundamental entre a retórica anticapitalista de esquerda e o de direita é essa: a primeira é revolucionária, pretende destruir o status quo, a segunda é conservadora, e até reacionária.

O suposto anticapitalismo do nazifascismo não pretendia ameaçar o status quo - e isso ficou evidente quando chegou ao poder. Segundo Eric Hobsbawm, o nazifascismo utilizava também da retórica da volta ao passado tradicional, enfatizava "valores tradicionais", era opositor da emancipação liberal das mulheres e repudiava a cultura moderna, que acusava de ser "bolchevismo cultural" (qualquer semelhança com "marxismo cultural" não é mera coincidência).

Essas características deixam evidente o caráter reacionário dos movimentos nazifascistas.

Além disso, suas motivações supostamente anticapitalistas não eram as mesmas que as da esquerda. Os movimentos que originaram o nazismo, por exemplo, se diziam contra o capitalismo porque associavam este sistema econômico ao judaísmo e não porque queriam expropriar as propriedades da burguesia.

Pelo contrário, queriam protegê-las (desde que não fossem de algum judeu). O nazifascismo também era um movimento contrarrevolucionário, surgiu como resposta ao "perigo vermelho" e ascendeu graças ao receio da burguesia industrial com um movimento que pretendia abolir a propriedade privada (os socialistas marxistas-leninistas).

Religiosos cristãos também receavam que um movimento que pregava abertamente o fim da religião chegasse ao poder. Não é por acaso que Adolf Hitler, apesar de não ser cristão, disse, em discurso, proteger o cristianismo e seus valores e não permitir que a Alemanha caísse no "comunismo anárquico".

O termo ''socialismo" é genérico que designa vários movimentos no início do século XX, inclusive os de direita, não é prerrogativa exclusiva dos movimentos de esquerda. Dizer que o nome do partido nazista "prova" o esquerdismo do nazifascismo é tão superficial quanto risível.

Referências:

[1] Huerta de Soto, J. (2010). Socialismo, Cálculo Económico y Función Empresarial (cuarta edición). Madrid: Unión Editorial.