Os países desenvolvidos de hoje são como a Roma dos tempos clássicos. As pessoas os procuram porque é lá que estão as melhores oportunidades de uma vida com mais qualidade. E acabam desequilibrando economias que são estáveis justamente pelo controle que têm sobre suas populações. Esse é o grande temor desses países em relação ás ondas migratórias atuais e a razão de tanta xenofobia e demonstrações racistas em relação aos imigrantes.
Em tudo isso há uma lógica extremamente perversa. Em sã consciência ninguém sai do seu país porque quer. Quem se arriscaria em deixar a terra onde nasceu e construiu família e outras ligações sentimentais, para se aventurar no estrangeiro, se não for para construir uma vida melhor? Nesse sentido, ao invés da eterna exploração praticada pelos países desenvolvidos contra os subdesenvolvidos, não seria mais simples e barato se os primeiros ajudassem os segundos a se desenvolver, para que eles alcançassem um nível econômico e uma qualidade de vida que estimulasse seus naturais a viver neles ao invés de deixá-los? Talvez custasse menos e fosse mais simples do que as dispendiosas, cruéis e ineficientes medidas de controle e repressão que os países desenvolvidos têm tomado para impedir a invasão dos imigrantes aos seus territórios. 

Para as nações mais ricas, os países menos desenvolvidos são vistos apenas como mercado consumidor de seus produtos industrializados e fornecedor de mão de obra barata. São territórios e populações onde as vantagens comparativas da sua superior tecnologia faz hoje o papel que as armas faziam na antiguidade romana e na época da colonização do novo mundo. É uma forma moderna de servidão, mascarada pela subserviência cultural e tecnológica, novo tipo de colonialismo que talvez seja até mais cruel que os modelos anteriores, por que contra este é mais difícil de lutar. Nunca se sabe direito contra o que se está lutando, nem se a luta é justa. E a história universal da infâmia continua a ser escrita dessa forma, em ciclos repetitivos, que parecem dar razão aos demônios de Nietzsche.
As potências ocidentais pensam que estão hoje mais protegidas do que Roma estava  quando os povos da periferia começaram a se movimentar em direção ao seu território. Quem estudou, mesmo superficialmente, a História, sabe o que aconteceu ao poderoso império romano. Não há solução de força que consiga defender um território quando ele é invadido por hordas famintas e desesperadas para encontrar um lugar para viver. Contra invasões armadas é mais fácil resistir. Contra a fome e o desejo de sobreviver, a luta é sempre inglória porque o adversário não tem nada a perder. E quem não tem nada a perder só tem a opção de ganhar. O chauvinismo nacionalista não salvou Roma da extinção, nem outros grandes impérios que tentaram sobreviver praticando a autofagia da própria espécie. Lembrando Santayana, quem despreza o passado está condenado a repeti-lo. E a humanidade é um organismo único que só sobreviverá se ele todo for saudável. Um único membro mutilado poderá espalhar gangrena para o corpo inteiro.