Estiagem...

O palhaço fez rir a rua, fez rir o bairro, fez rir o mundo. mas o mundo não chorou com ele, nas horas sombrias, da tal madrugada, inverno escuro, da alma sem palco, que lhe estimule - Eu era o palhaço!- rasgadas as cortinas,quebrados os holofotes ...silêncio na rotunda. E eu sem chorar.Os vivos choravam os mortos, as mães choravam os filhos, a terra chorava a fome, o céu chorava orvalho. Até a lua chorou, a pisada de Armstrong !

mas já não havia tempo para minhas lágrimas. A claquete já dormia, a maquiagem desbotara a cor; o figurino jazia no fundo de um armário. Mas lá na gaveta dos arquivos uma esperança cochilava: uma nota de continuísta, congelara o meu mundo, retratando em detalhes - esta era a fórmula de meu renascimento- meu mapa genético. Nem tudo estava perdido, eu poderia ter um novo capítulo; eu roubaria a sena, gritando a todos a plenos pulmões que atrás do palhaço tinha eu (- já ouviste falar de mim?), eu extrapolaria as falas, rasgaria o roteiro. Sentaria ali na beira do palco e choraria com o menino da primeira fila (apelidado de biscoito, e que sonha ser operador de som).

Por hora, meu lenço sofre a sequidão de um pranto pois que não há quem acalente. Eu hoje sou o pobre menino rico, cuja fama e glória não amenizam a solidão de milhões de fãs que me aplaudem palhaço e ator, mas desconhecem-me homem, frágil e carente; tão somente de um ombro, onde pudesse chorar, e acabar a estiagem prolongada deste meu inútil lenço