A ABORDAGEM DA HOMOAFETIVIDADE NAS OBRAS AMOR INVERTIDO E INVERTIDO NO AMOR, DE MAXIMILIANO SOUZA

Patrick Álisson de Sousa

Mônica Maria Feitosa Braga Gentil

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo a abordagem da homoafetividade nas obras Amor Invertido e Invertido no Amor, de Maximiliano Souza, analisando a narrativa da mesma por óticas diferentes dos personagens principais, expondo as emoções, os pensamentos e outros núcleos da história na visão de cada um dos personagens protagonistas, ressaltando a questão da homoafetividade através da literatura de gênero. Ainda tem-se como desafio, analisar a influência do autor supracitado em diversos outros gêneros textuais, como anime, séries e filmes, que o inspirou, especificamente, em um anime homoerótico chamado Junjou Romântica, para criar uma história romântica que acompanhasse o envolvimento emocional de dois homens em um ambiente tupiniquim e trazer à luz do debate a questão da autoaceitação perante novas descobertas, até então desconhecidas, de uma pessoa criada em uma família altamente conservadora e tradicional, do interior, e que, de repente, se vê apaixonado e envolvido por outro homem. A metodologia utilizada na pesquisa é bibliográfica, realizado em livros, revistas e na internet e quantitativa e qualitativa, realizado entrevista com o autor Maximiliano Souza.

Palavras chaves: literatura de gênero, homoafetividade, autoaceitação.

ABSTRACT: The objective of this study is to of homoafetividade in the works Love Inverted and Inverted in Love, by Maximiliano Souza, analyzing the narrative of the same by different optics of the main characters, exposing the emotions, the thoughts and other nuclei of the story in the vision of each one of the protagonist personages, highlighting the issue of homoafetivity through gender literature. It is still a challenge to analyze the influence of the above-mentioned author in several other textual genres, such as anime, series and films, which specifically inspired him in a homoerotic anime called Junjou Romantic, to create a romantic story that would accompany the emotional involvement of two men in a Tupinikim environment and bring to light the debate the question of self-acceptance in the face of new discoveries hitherto unknown by a person raised in a highly conservative and traditional family from the interior , And who suddenly finds himself in love and surrounded by another man. The methodology used in the research is bibliographic, carried out in books, magazines and on the internet and quantitative and qualitative, conducted an interview with author Maximiliano Souza.

Keywords: gender literature, homoafetividade, self-acceptance.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema A abordagem da homoafetividade nas obras Amor Invertido e Invertido no Amor, de Maximiliano Souza, tendo em vista este ser de suma importância no que concerne a diversidade na literatura brasileira e analisar tais obras a partir das vivências dos personagens protagonistas e outros núcleos da história. Essa escolha se deu devido haver necessidade em estudos mais aprofundados no tema em questão e levá-la para a Academia, para que haja reflexão, discussão e visibilidade nas obras e autores citados.

A metodologia utilizada nesse trabalho foi pesquisa bibliográfica, realizado análise em diversos livros, revistas e artigos na internet e pesquisa quantitativa e qualitativa, realizado entrevista com o autor Maximiliano Souza de forma on-line e anexado para legitima-lo.

Esse gênero literário, apesar das discussões serem recentes, estão presentes na literatura brasileira desde o século XIX, no entanto, o atual momento é o mais propício para trazê-lo à luz dos debates, tendo em vista grande preconceito e homofobia no nosso país e, através desse processo investigativo, propor novos estudos em outras obras e autores, sobre a temática da literatura de gênero.

Vale salientar que não é nada fácil analisar a biografia de um autor que teve somente duas publicações, no caso, as obras em questão, e que esse fato ocasionou grande dificuldade para encontrar material para pesquisa. Espera-se que Maximiliano Souza e outros autores citados nesse trabalho publiquem outras obras na mesma temática, contribuindo para a solidificação da literatura de gênero no Brasil e, através dessa literatura, com a mensagem repassada por ela, possa-se alcançar uma cultura de paz, harmonia, união e respeito dentro da nossa conturbada sociedade machista, patriarcalista e homofóbica.

CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DO ROMANCE PÓS-MODERNO

No presente capítulo, introduzimos o Pós-Modernismo como um momento histórico na literatura mundial, em que o movimento anterior, o Modernismo, anunciava decadência e o surgimento de um novo. Algumas características desse novo formato do romance pós-moderno se evidencia na ruptura, na quebra de linearidade/continuidade. Diante de novos temas abordados nessa era, o romance pós-moderno ficou conhecido como “revolução futurista”, comprovado na afirmação de Arnaut:

O movimento que denomina por literatura futurista desloca-se da periferia para o centro da cena literária norte-americana, deixando de proceder ao registro de modelos não existentes, os mitos antigos que exploravam o impossível, mas, pelo contrário, confrontando e desmontando os mitos coevos, tendo em vista uma antecipação ou profetização de um futuro possível. (ARNAUT, 2002, p.35).

Pode-se, então, perceber a partir da citação acima que a literatura pós-moderna consiste em retratar fatos que até então eram vistos como tabus na sociedade e que foi necessário haver essa fenda para que fosse dado espaço para discussões antes proibidas, como veremos no tópico a seguir.

1.1 Homoafetividade na Literatura

Foi a partir da década de 20 que se iniciou um novo movimento literário na Europa e, mais tardiamente, expandindo-se para o Brasil. Esse movimento ficou conhecido como Romance Pós-Moderno ou Contemporâneo, tendo suas origens ligadas às influências religiosas, como afirma Ana Paula Arnaut:

Os anos vinte eram, pois, o tempo para uma nova escola de aspirações religiosas, uma escola em sintonia não com o cientificismo ainda preconceituoso da geração antecedente, mas em consonância com as convicções dos cientistas do hoje a que se reporta este acto de escrita. (ARNAUT, 2002, p. 30).

Essa afirmação só evidencia que a literatura, por séculos, foi vista como o meio dos conservadores tradicionalistas propagarem seus ideais e porem à margem quem discordasse do pensamento deles.

Com o tempo, essa literatura ideológica ganhou força e adeptos e encaixou-se seu público alvo como uma forma de romper com esse sistema opressor e conservador supracitado. Adail Júnior (2010) defende que o discurso literário tornou-se, por assim dizer, um “local discursivo” em que leitores gays encontravam experiências de vida parecidas com as suas, registradas, explicitamente, na trama de personagens gays.

Mediante essas intervenções, a literatura contemporânea sofre evoluções constantes, não só no âmbito de apresentação, mas também no conteúdo. Percebe-se que novos gêneros literários são discutidos, a partir da necessidade das sociedades modernas de trazer à tona essas reflexões e a mesma se faz de suma importância no que concerne à diversidade na literatura brasileira.

Segundo Utzig e Ferreira (2014):

A literatura gay não deve ser direcionada apenas ao público de Homossexuais, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT1), mas ao público leitor em geral, e deve ser vista como parte de um movimento de emancipação, conseguindo assim fazer com que a arte se alie, direta ou indiretamente, intencional ou não, à defesa de direitos iguais, a ponto de alcançar uma conscientização de cunho político-social, com vistas a minimizar o preconceito. (UTZIG e FERREIRA, 2014, p. 03).

1.2 Discussões sobre Gênero e Sexualidade

Para entender melhor esses conceitos e siglas outrora presentes neste trabalho, é imprescindível haver a diferenciação e os novos estudos que cerceiam essa temática sobre gênero e sexualidade, ainda pouco estudado e debatido no meio acadêmico, mas com influência secular na literatura. Uma ótica importante a ser observada é a concepção de gênero, tendo em vista que o mesmo denota certa diferenciação. A lógica ocidental tradicional funciona como uma divisão binária, ou seja, que se divide em dois opostos: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher. Para Cunha (2014, p. 1), “a definição do que é ser “homem” ou “mulher” tenha surgido a partir de uma divisão biológica, a experiência humana nos mostra que um indivíduo pode ter outras identidades que refletem diferentes representações de gênero (como os transexuais e transgêneros) e que não se encaixam nas categorias padrões”.

Esses estudos acima mencionados criam novos parâmetros sociais, quebrando preconceitos históricos. Além da identidade de gênero, ainda tem a questão das orientações sexuais, características estas bem peculiares de cada individuo.

Basicamente, existem três orientações sexuais: heterossexual, predominante na sociedade atual; homossexual, crescente devido novas aberturas ao diálogo e políticas públicas favoráveis a essa classe e bissexual, essa sendo, ainda, a mais invisível na sociedade, segundo afirma Araguaia:

A orientação sexual diz respeito à atração que se sente por outros indivíduos. Ela geralmente também envolve questões sentimentais, e não somente sexuais. Assim, se a pessoa gosta de indivíduos do sexo oposto, falamos que ela é heterossexual (ou heteroafetiva). Se a atração é por aqueles do mesmo sexo, sua orientação é homossexual (ou homoafetiva). Há também aqueles que se interessa por ambos: os bissexuais (ou biafetivos). Pessoas do gênero masculino com orientação homossexual geralmente são chamadas de gays; e as do gênero feminino, lésbicas. (ARAGUAIA, 2016, p. 1).

Todavia, identidade de gênero se contrapõe a orientação sexual, uma vez que um sujeito que tem uma identificação de gênero oposta ao sexo biológico pode ter relações sexuais ou afetivas com outra pessoa transgênero, por exemplo. Para a autora (idem, ibidem, p. 2), “o papel sexual não necessariamente se apresenta relacionado à orientação sexual, tal como a priori possa parecer. Assim, nesses quatro exemplos, todos eles podem ser heterossexuais. Ou, por exemplo, o “homem másculo” pode ter atração por outros homens (orientação homo, bi ou pansexual), embora seu papel sexual mostre o contrário”.

Ter conhecimento básico sobre essas definições vão nos guiar para compreender melhor esse fenômeno na literatura de gênero, vista aqui como literatura homoafetiva ou gay, e que ainda reluta discussões na sociedade, pois tratar de Literatura gay, ou estética homossexual é falar de escritores gays, que relatam suas experiências na literatura. Portanto, a literatura gay existe porque existe o amor gay.

CAPÍTULO II: MAXIMILIANO SOUZA E O PANORAMA DE AUTORES E OBRA DE CUNHO HOMOAFETIVO NA LITERATURA BRASILIERA

Maximiliano Souza é residente no município de São Bernardo do Campo, escreveu seu primeiro livro em 2012 – Amor Invertido. O mesmo é fã incondicional de animes, séries e filmes, inspirou-se em um anime homoerótico chamado Junjou Romântica para criar uma história uma história romântica que acompanhasse o envolvimento emocional de dois homens em um ambiente tupiniquim. No decorrer do desenvolvimento da história, começou a pensar em trabalhar vários tipos de preconceitos brasileiros que dada à natureza irreverente do povo, passa uma ideia de tolerância que não costuma se evidenciar em ações violentas e sim em pequenas agressões no cotidiano. Com isso, Amor Invertido foi construído como uma novela que acompanha a história de vários personagens a partir de seus pontos de vista. Assim, temos o jovem ainda descobrindo sua sexualidade. O homem mais velho já seguro de suas opções sexuais. A família preconceituosa. O racismo mais ou menos camuflado de acordo com os contextos e muitas outras manifestações preconceituosas que permeiam os nossos dias, as nossas falas, os nossos atos, como se pode observar em: “- Pra ter minha única filha casada com um preto desqualificado, antes disso, eu preferia tê-la...” (SOUZA, 2012, p.116).

2.1 Panorama de autores e obras de cunho homoafetivo na literatura brasiliera

De acordo com o mencionado no capítulo 1, a literatura homoafetiva brasileira desponta nomes renomados e que fizeram sucesso de público e de crítica. É o caso do autor Fabrício Viana, entre outros nomes outrora mencionados. Este escreve suas obras de forma totalmente independente pela sua editora (Orgástica) e as divulga e vende pelas plataformas digitais e redes sociais. Tem quatro obras publicadas e um alcance médio de vinte mil leitores.

Há nomes bastante promissores nessa nova fase da literatura de gênero, como: Fabrício Viana, Plínio Camilo, Roque Neto, Mário Rudolf e João W. Nery, ambos com obras de extrema relevância social.

2.2 Fortuna Crítica de Maximiliano Souza

Segundo Maximiliano, a continuação já está sendo produzida, pois a intenção é acompanhar a vida do casal principal da história. Ele acredita que com o passar dos anos o brasileiro está evoluindo para uma geração mais desencanada, mas esse é um processo lento que acompanha a evolução das relações dentro das famílias. Ele credita que um autor não pode ser incentivado a escrever sobre isso ou aquilo. A arte da escrita é talvez o tipo mais egoísta de arte, pois nasce de uma conversa do autor com ele mesmo. Então ele provavelmente só irá escrever bem sobre aquilo que tenha algum significado. “A escrita desse livro foi apenas uma opção egoísta minha”. “A vontade de fazer uma experiência romântica e brasileira que fosse leve e divertida e dentro de minha ótica, o personagem mais novo, Diego, representa muitos jovens homossexuais em seu medo do olhar do outro, lógico, de uma maneira leve e divertida e sem as pretensões de oferecer outra coisa além de um entretenimento com um pouco de provocação”. Souza relata que o motivo deste livro não ter visibilidade deve ser o mesmo pelo qual tantos outros ótimos livros nacionais não o têm. “Não temos uma indústria consolidada literária.

Segundo R.S. Merces (2014), “a linguagem é bastante juvenil a um livro que pertence a um selo especial para obras que abordem o tema homossexualidade, dedicado a adultos. Durante toda a leitura, o leitor encontra erros de revisão, como palavras com grafia errada e acentuação longe das novas normas ortográficas”, todavia, apesar dos erros de ortografia e edição, não o fazem uma leitura chata, pelo contrario, o leitor é instigado a ler até o final.

Ainda de acordo com R.S. Merces:

O autor tenta por vezes criar um drama psicológico para a protagonista, mas morre na voz juvenil fora do contexto. As introduções de narrativas secundárias são superficiais e ganham pouca relevância ao enredo central, o que parece ser de extrema importância. O passado das personagens, por exemplo, não é trabalhado e fica restrito à visão nada panorâmica do narrador-personagem.(MERCES,2014,http://rsmerces.blogspot.com.br/2014/02/resenha-amor-invertido-maximiliano-souza.html).

O autor revela, também, que escrever dois romances a partir da mesma história, não foi uma tarefa difícil. Segundo ele, a estratégia foi bem simples: Leu atentamente ao primeiro livro e mudou o ponto de vista conversando com pessoas que tem a personalidade similar à dos personagens do livro, foi lendo e entrevistando essas pessoas para compreender as reações que seriam mais plausíveis dentro do contexto da história, para verificar quais seriam mais apropriadas. Escreveu as primeiras páginas de Invertido no Amor e percebeu que precisava melhorar para atender a expectativa dos leitores. Ele afirma que tem leitor que jura que o livro é uma biografia. No entanto, o mesmo ressalta que não. Maximiliano acredita que não houve furos de uma história para outra. A trama ficou amarrada como gostaria que tivesse ficado, e ainda expõe fatos que no outro livro não mostra, tirando a subjetividade egocêntrica do personagem Diego e deixando os leitores a par da vida e das dificuldades enfrentadas por Vinícius.

Diante de uma literatura de gênero tão vasta e variada, nacionalmente, vale frisar que, as obras em questão, fogem um pouco da grande gama ofertada no mercado editorial. Como foi explicitado mais acima, no primeiro capítulo, há uma diferença entre literatura gay e literatura homoerótica, os livros analisados enquadram-se em literatura gay, por ser sutil e trilhar o quase politicamente correto, no sentido de combate as discriminações e preconceitos, conforme Macedo expõe:

A escrita do Maximiliano é deliciosa. O livro não tem baixarias, ou palavrões. E este não é um livro erótico. Tem umas cenas picantes entre os dois mais tudo muito sutil. O leitor é movido pela curiosidade e agora todos estão completamente apaixonados por essa historia e pelo lindo romance de Vinicius e Diego. (MACEDO, 2015, http://www.meupassatempoblablabla.com/2015/06/resenha-invertido-no-amor-de.html)

Falar da escrita do Maximiliano reforça que ele sabe conduzir bem a história pegando temas contemporâneos e levando-os para a ficção, fazendo os leitores a questionarem e olhar para o próximo de forma mais humana, segundo o fragmento de Brazil:

É um desses livros que te fazem refletir sobre temas sérios e muitas vezes ajudar a modificar sua opinião sobre esses temas, aqui no caso, o preconceito não só contra gays mas também racial sofrido por outro personagem, mas de uma forma super tranquila; o autor soube tratar algo tão sério de um jeito leve e muitas vezes descontraído e engraçado sem ser leviano ou recorrer a estereótipos. O livro aborda de forma bem realista vários aspectos. (BRAZIL, 2013, http://cantodemeninas.blogspot.com.br/2013/07/amor-invertido-maximiliano-souza.html).

Há outros aspectos não menos importantes nas obras, como humor, que a torna leve e descontraída diante de discussões sérias:

O livro é muito divertido e o Maximiliano soube dosar o humor e a temática séria e por algumas pessoas considerada polêmica de uma maneira super homogênea, tudo é super bem distribuído o que não torna o livro maçante nem dramático por ter um perfeito equilíbrio entre todas as emoções que o texto causa no leitor (Idem, Ibidem, http://cantodemeninas.blogspot.com.br/2013/07/amor-invertido-maximiliano-souza.html)

. Como já citado anteriormente pelo próprio Maximiliano, à história dos romances são baseadas no anime japonês Junjou Romântica, uma série shounen-ai de Nakamura Shungiku..

Quem assiste Junjou Romantica e lê Amor Invertido, vê claramente as referências (principalmente entre o Usami/Usagui-san e o Vinícius, o jeito dos dois é bem parecido) mas também percebe-se as diferenças que tornam a história única a seu próprio modo.

As partes sexuais não são tão exploradas e detalhadas (apesar de não deixarem de serem hots) esse livro é perfeito para quem nunca leu nenhum livro com romance homossexual e tem um certo receio de se chocar ou estranhar mas tem vontade e curiosidade de ler. (Idem, Ibidem, http://cantodemeninas.blogspot.com.br/2013/07/amor-invertido-maximiliano-souza.html)

A estilística do autor faz recriar modelos de relacionamentos heternormativo dentro da comunidade gay. Isso porque um dos personagens assume notoriamente o papel de homem da relação, e nesse caso, o personagem Vinícius. Para Fischer (2008), relações entre pessoas do mesmo sexo carecem de referências públicas e de acordo com o modelo heterossexual de relacionamento, é possível estabelecer novos papéis.

Nesse fragmento, pode-se observar a sensação de diferença entre uma relação sexual homo e hétero.

Seu corpo me envolveu por trás e ele me penetrou, fazendo um misto de dor, vergonha e prazer se espalhar por meu corpo em uma onda tão avassaladora que achei que meu coração fosse estourar naquele instante. Não era algo parecido com o que eu havia experimentado em minhas outras vezes com mulheres. Era totalmente diferente. E isso em assustava, me envergonhava e me excitava ao mesmo tempo. (SOUZA, 2012, p.91)

CAPÍTULO III: ANÁLISE DAS OBRAS AMOR INVERTIDO E INVERTIDO NO AMOR

Em relação à homossexualidade, o autor constrói o personagem Diego convicto de sua sexualidade, mas o faz ficar abalado com o primeiro contato íntimo que tem com uma pessoa do mesmo sexo, o Vinícius. Essa resistência está ligada a consciência preconceituosa a qual Diego sempre esteve presente na família, e o torna incompreendido. Por outro lado, Vinicius alimenta um amor platônico por Júlio, irmão de Diego, morto anos atrás. No entanto, Diego consegue quebrar a barreira que o impede de desfrutar da aproximação com Vinicius, os envolvendo sexual e afetivamente, como se observa em “Não queria ser anormal. O que havia me deixado curioso a princípio era saber qual dos sentimentos era mais forte: meu instinto ou meu medo.” (SOUZA, 2012, p 31).

As obras analisadas trazem, como tema principal, a homoafetividade entre os protagonistas, Diego e Vinícius, descritos de uma forma bem sutil, sem nenhuma pretensão ou indução ao erotismo, como podemos observar em Amor Invertido: “Dei um pulo ao sentir a mão dele em minha coxa e o encarei assustado quando vi seu rosto bem perto do meu enquanto a mão livre levantava um dos fones de ouvido para que eu ouvisse o que ele dizia” (SOUZA, 2012, p. 101).

Como pode- se observar, a narrativa de ambos os romances é em primeira pessoa, um feito pela ótica de Vinícius (Invertido no Amor), e o outro pela ótica de Diego (Amor Invertido). No desenvolver da trama, Diego, que nasceu em uma cidade do interior, passa a morar com a irmã, Juliete, na capital. Com sua vinda, conhece o melhor amigo de Juliete, o Vinícius, o qual, de cara, cria antipatia pelo suposto namorado da irmã. De acordo com o desenvolvimentodo enredo a partirdo conflito entre o novo sentimento desencadeado por Diego, em relação a Vinícius, surgem dificuldades para que os dois vivenciem esse amor considerado impossível e complicado, tendo em vista o modelo de criação de Diego, sua família tradicional e conservadora, e o modo de vida de Vinícius, sem nenhuma preocupação com o meio social. Outra questão não menos importante, abordada nas obras, é o preconceito racial, difundido pela família de Diego e Juliete contra Hoji, por ser negro e pobre, reforçando ainda mais estereótipossociais, visivelmente claro na p. 133 de Invertido no Amor: “O desagrado preencheu o rosto da dona da casa ao ouvir aquele estranho sotaque. Tudo nele parecia lhe causar estranheza. Isso era evidente.”. A não aceitação da recém-descoberta da homossexualidade de Diego também gera conflitos internos, provocando desentendimentos entre ele e Vinícius, claramente explicitado na p. 120: “Ele realmente não tinha pudor nenhum. E era com um sujeito assim que eu estava me envolvendo. Parei um instante. Envolver era algo meio forte. Talvez fosse com quem fiquei algumas vezes. Com um diabo de um cara que eu tinha ficado algumas vezes. Era só pensar nisso que eu ficava extremamente nervoso”. Diante da nova experiência afetiva e sexual, Diego, além de aprender a lidar e superar com a homofobia internalizada, fator preponderante para cometimento de suicídio de muitos jovens, Brasil afora, ao descobrir ou sentir desejos sexuais por pessoas do mesmo sexo, ainda tem de sofrer com a homofobia social, apresentado na p. 109: “De repente me vi cercado por um grupo de cinco rapazes furiosos gritando coisas como: – Vocês deveriam ter vergonha! – Tenho nojo de viado! Eles começaram a me socar e quando vi que um ia chutar o corpo inerte do Vinícius, avancei sobre ele e lhe dei um golpe no meio do rosto, fazendo o sangue jorrar”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos assuntos outrora pesquisados, analisados e debatidos neste trabalho, espera-se que o mesmo motive outras pessoas a aprofundarem outras pesquisas em outras obras, com o intuito de visibilizar a literatura de gênero no Brasil. Difundir a literatura de gênero não é apenas um meio de combate às opressões vigentes, mas, também, uma forma de expressar a liberdade através da arte, ou até mesmo denunciar o caos estabelecido secularmente pelos conservadores heteronormativos. Notou-se, com as obras analisadas, que a literatura tem espaço e voz para todos, sem distinções, cabendo apenas à sensibilidade para que escreva sobre esses temas. Essa literatura se interpõe com outras temáticas também pouco debatidas, em decorrência do preconceito ainda ser muito forte na nossa sociedade.

O que se pode concluir é que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que essas obras da literatura de gênero se estabeleçam como uma literatura convencional e que, a partir dela, do perfil de seus leitores, aconteça uma mudança significativa na sociedade, no que diz respeito à indiferença em lidar com pessoas das mais variadas orientações sexuais e identidades de gênero. Nenhuma transformação cultural e social acontece da noite para o dia, sempre demora décadas, séculos ou milênios, mas ela tem que acontecer de um determinado momento histórico.

REFERÊNCIAS

ARNAUT, Ana Paula. Post-Modernismo no romance português contemporâneo. Fios de Ariadne-máscaras de Proteu. ed. 1, 1 vol.. Coimbra: Almedina. 2002.

ARAGUAIA, Mariana. "Orientação Sexual"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sexualidade/orientacao-sexual.htm>. Acesso em 21 de agosto de 2016.

JÚNIOR, Adail Sebastião Rodrigues. Representação gay em corpus literário paralelo. Universidade Federal de Ouro Preto. RBLA, Belo Horizonte, v. 10, n. 3, p. 603-624, 2010.

SOUZA, Maximiliano. Amor Invertido. Campo Grande, MS. Modo Editora. 2012.

SOUZA, Maximiliano. Invertido no Amor. Campo Grande, MS. Modo Editora. 2014.

UTZIG, Ingrid Lara de Araújo; FERREIRA, Rodrigo Almeida. Literatura Gay como visibilidade à comunidade LGBTTT. 2014.

Psicol. cienc. prof. vol.26 no.1 Brasília 2006. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932006000100011

Entrevista cedida a Patrick Álisson de Sousa, dia 29 de junho de 2016, às 17h42min, via e-mail.

http://rsmerces.blogspot.com.br/2014/02/resenha-amor-invertido-maximiliano-souza.html

Patrick Sousa e Mônica Maria Feitosa Braga Gentil
Enviado por Patrick Sousa em 27/06/2017
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