O PALÁCIO E O TEMPLO (Mensagem Onírica)

Tudo aconteceu numa noite morna de sexta-feira. Havia concluído uma fase de estudos e, com os olhos meio ardidos, fechei o livro e fui para o meu quarto de dormir. Na expectativa de um sábado agradável, em companhia de alguns amigos, adormeci e sonhei...

Sonhei que estava em uma campina onde havia uma espécie de ruína ou os restos de uma antiga construção. Ali, sentado em uma das pedras do que fora um muro, estava um velho de barbas e cabelos longos trajando uma vestimenta semelhante à dos antigos essênios do Mar-Morto. Na mão direita o apoio de um cajado nodoso e na esquerda, um livro fechado, encostado ao peito. Pude experimentar a presença de um Mestre da Sabedoria Arcana ao perceber uma suave onda de bem-estar e proteção.

Olhando-me, docemente, disse o ancião: “Se tens um palácio de aventuras, abençoai-o!” Em seguida, com um leve sorriso, desapareceu...

Acordei intrigado procurando encontrar algum significado para a frase, com um sentimento incrível de perda, por não poder ter tido a oportunidade de prolongar aquele prenúncio de diálogo sem dúvida, profundo e benéfico para o meu espírito. Passei o resto da noite quase em vigília, pensando no assunto, sem ter a possibilidade de acalmar a mente.

De manhãzinha, quando já via os raios do Sol bisbilhotando a veneziana do quarto, recebi o prêmio pela busca; em minha mente formou-se toda uma imagem que transfiro para esse texto, agradecendo ao “velho sábio” e à “minha intuição” que se pôs em atividade.

Dependendo do ângulo em que se veja a questão, um “palácio” e um “templo” têm suas semelhanças, pois ambos foram construídos para a residência de algum nobre governante. Um palácio é, verdadeiramente, a casa de um soberano.

Em um palácio habita um rei do mundo terreno, entregue ao afã de vivenciar a matéria com todos os seus desejos e prazeres, dedicando-se a uma vida de regalias, de luxo, de excessos e de aventuras.

O templo, entretanto, é a habitação do Divino, do Supremo Soberano, da Mente Criadora, da Consciência Cósmica, da Fonte, do Uno, do Grande Arquiteto do Universo. É lá onde se vivencia a ligação com o sagrado, onde se experimenta a conexão com as profundezas do espírito e onde está a simbologia que aponta para as leis que regem o Universo.

Cada um de nós, ao aceitar a etapa de aprendizagem, nesse plano terreno, recebe uma construção que nos servirá de morada, o corpo físico. Com o emprego do livre arbítrio escolhemos o que iremos fazer dele transformando-o em um palácio ou em um templo.

Poderemos, com o emprego da vontade, transformá-lo em um palácio de aventuras se o reinante for o nosso “ego”. Nesse caso, o palácio servirá para abrigar e atender aos incessantes e crescentes apelos dos cinco sentidos, buscando satisfazer-lhes as necessidades e exigências que, a cada momento, se apuram e se multiplicam.

Os vassalos, a criadagem e a corte, nesse palácio, são os nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, cada vez mais fiéis ao ego reinante orientado pelos nossos conceitos e preconceitos nascidos da formação mundana que recebemos, oposta aos ensinamentos que nos conduzem às vivências evolutivas para o caminho do aperfeiçoamento.

As visitas recebidas nesse palácio, tão estreitamente ligadas ao soberano, trazem os presentes diletos que vem com a sensualidade luxuriosa, a gula, a preguiça, avareza, a vaidade, a ira, a intolerância, a deslealdade, a cobiça e todos os vícios que as acompanham.

Esses visitantes deixam o palácio repleto de fuligens que se agregam pelas paredes representadas pelos resíduos das drogas entorpecedoras, das fumaças que alteram os estados de consciência, de todas as substâncias químicas injetadas nas instalações hidráulicas, bem como dos alimentos corrosivos que são armazenados nas despensas reais, enfraquecedores dos alicerces, da cobertura, dos corredores e dos salões.

As formas-pensamento, liberadas pela ação dos visitantes e dos presentes que trazem, criam conseqüências cujos resultados serão os ajustes reclamados pela Lei Universal de Causa e Efeito...

Foi aí que consegui entender as palavras do sábio ancião: “Se tens um palácio de aventura, abençoai-o!”. Entendi que abençoar o “palácio”, significa a ação de transformá-lo em “templo”. Isto é, prepará-lo com todo o sacrifício que isso significar para transformá-lo em um santuário digno da habitação da Divindade, que é a sua verdadeira finalidade.

Para isso, é necessário que nos dediquemos, com todo o esforço e toda a nossa vontade, à tarefa de limpar os resíduos corrosivos do palácio, “construindo masmorras aos vícios e levantando o templo para as virtudes” que são as convivas do Grande Arquiteto do Universo.

Essa “bênção” de que nos falou o velhinho é a nossa entrega às atitudes responsáveis como obreiros que sentem, em seus próprios corpos, a habitação d´Aquele que preside toda a Criação em todos os Universos; bênção que foi expressa pelo Mestre Nazareno quando disse aos “doze”: “Acaso não sabeis que sois templos do Divino e que o Espírito de Deus habita em vós?”

Essa afirmação do Mestre também foi reforçada em outra máxima quando nos alertou ser impossível “servir, ao mesmo tempo, a dois senhores”; o do palácio ou o do templo.

Finalmente, encontramos em William Shakespeare uma frase paralela que tem a mesma tônica da afirmação do Mestre Nazareno e do velhinho do meu sonho: “Ser ou não ser, eis a questão!”

A assertiva acima, nos permite uma profunda reflexão sobre a maneira pela qual, utilizamos o nosso livre arbítrio, pois é com ele que iremos decidir se optamos pela “divindade do Ser” ou se nos dobramos à insensatez do “não ser”...

Atingir a definição ou o conceito do “Ser” ou do “não ser” é a grande “questão” existencial que somente o indivíduo pode buscar decidindo-se pelo palácio ou pelo templo e é para isto que se destaca o aforismo hermético “V.I.T.R.I.O.L”. - “ Visita o Interior da Terra e, Regenerando, Encontrarás a Pedra Oculta”.

Penetrando no oculto que se desvela ao iniciando temos a seguinte imagem: “VISITA O INTERIOR DE TI MESMO E, REGENERANDO-TE, ENCONTRARÁS O TESOURO OCULTO”.

Para entendermos, com maior profundidade, precisamos analisar o hermetismo das palavras:

O que podemos inferir sobre “visitar o interior da terra” ou visitar o interior de si mesmo”.

Aqui, a Sabedoria procura mostrar que cada um de nós tem uma vinculação muito mais profunda com o planeta do que aparentemente imaginamos.

Um dos nossos quatro corpos materiais é o corpo físico e, se nos interessarmos por analisar a sua composição química, veremos que toda a estrutura corporal está fundamentada em “elementos químicos” extraídos do solo planetário, ou seja, do “interior da terra”.

Para isso, não precisamos de muitos pendores científicos, pois está mais do que patente que nossos corpos se constituem pela transformação dos alimentos que ingerimos e da sua recombinação em nosso organismo. Logo, não é sem razão o dístico que nos alerta: “Somos aquilo que comemos!”. Comemos carne de animais herbívoros e comemos vegetais que se originam, igualmente, nos substratos do solo planetário.

Em outras palavras, somos, fisicamente, fragmentos do planeta em constante metamorfose.... Ao findarmos a vida física, as combinações químicas dos nossos corpos se decompõem e retornam ao lugar de origem, o solo.

Não é sem razão que nos pórticos dos cemitérios encontramos a frase: “Revertere ad locuum tuum” (retornarás ao teu lugar). Também na frase bíblica está essa afirmação: “Por que tu és pó e ao pó haverás de retornar”...

Para melhor esclarecimento do assunto, pode ser consultada a “Tabela Estequiogenética do Corpo Humano”, exposta em “A Grande Síntese”, de Pietro Ubaldi.

Assim, entendemos que no V.I.T.R.I.O.L, o oculto está nos incitando a inciar uma viagem ao nosso próprio interior físico, o “palácio de vícios”, para, através da descoberta e do emprego do livre arbítrio, procedermos a nossa “REGENERAÇÃO” que quer dizer, gerar de novo, nascer outra vez, ou, finalmente, “renascer”, substituindo, em nós mesmos, “o palácio de vícios pelo templo de virtudes”.

Finalmente, com essa análise podemos compreender que, somente através da interiorização e da consequente descoberta de “quem verdadeiramente somos” será possível iniciar o processo de regeneração, e essa é a chave para o descobrimento do “TESOURO OCULTO”, na majestade do Seu Templo.

O Tesouro oculto é o nosso Verdadeiro Ser, a nossa Essência Divina, o fragmento eterno do Grande Arquiteto do Universo que faz de cada um de nós o Seu Templo, a Sua Imagem e Semelhança, ou seja, o “Eu Sou” em nós...

Quando cada um de nós for capaz de compreender essa pérola do ocultismo, entenderá, também, o que queria dizer o Mestre com suas palavras “Eu e Meu Pai somos UM ” e, quando, decisivamente, questionava informando: “Não sabeis que sois santuário do Divino e que o Espírito de Deus habita em vós"? (1 Coríntios 3:16-17).

Amelius - 20/04/2008

Amelius
Enviado por Amelius em 05/06/2017
Reeditado em 11/02/2024
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