A ternura de Anahi (publicado originalmente em 29/4/2017)

Se determinados filmes não chegam pra nós, pois as redes de cinema nem têm interesse em mostrar trabalhos que não sejam blockbusters, ou, pra ficar no comum, não sejam rodados em Hollywood, eu imagino que produções argentinas sejam o suprassumo desta distância. Semanas atrás escrevi sobre ‘Querida, vou Comprar Cigarros e já Volto’ (2011), obra da terra do tango.

Hoje retorno à pátria azul e branca para ‘hablar’ de ‘Las Acácias’ (2012), cujo tema é a desconfiança e a caridade. Passada quase totalmente na boleia do caminhão de Ruben (German Silva), a história é relativamente simples, mas por trás desta facilidade se esconde o ‘pulo do gato’. O caminhoneiro sempre transporta madeira de acácia (daí o título) do Paraguai à Argentina.

Num dia, seu patrão pede a ele que leve Jacinta (Hebe Duarte), uma mulher pobre, de carona neste caminho. Já começa mal porque ela chega com mais de uma hora de atraso. Ruben a vê ainda com maus olhos quando percebe que Jacinta traz com ela sua filha Anahi (Nayra Mamani), de 5 meses. Ele quer morrer. Não sabe se suportará carregar as 2 toda a viagem. Taciturno, acabrunhado e fechado, o motorista mal conversa e demonstra estar impaciente.

É assim que ‘Las Acácias’, um ‘road movie’ interessante, transcorre. Pablo Giorgelli, o diretor, divide o roteiro com Salvador Roselli. A quatro mãos, desenvolveram um trabalho excelente, onde o silêncio exige ser o protagonista. Com o passar do tempo, Ruben amolece o coração e desembaraça o fio desta ternura que Anahi transmite. Jacinta aos poucos se abre com o novo amigo e as histórias se somam.

Giorgelli foi feliz em imprimir um tom sossegado e aparentemente despreocupado à trama. Tudo ali é simples e sem contágios de fora. O filme não possui trilha sonora – som do motor do caminhão fica sendo isto. O bebê estoura a bolha de Ruben com sorrisos. Depois de um tempo,

o caminhoneiro vê a nova amiga de forma diferente: Jacinta é corajosa, quer vida nova na capital da Argentina.

Mas e seu medo, não conta? Talvez. Nesta relação que se inicia conflituosa e termina... Não contarei. E jamais é o tradicional. ‘Las Acácias’ é o cinema independente, destes que eu e você não estamos acostumados.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 02/05/2017
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