JÁ TINHA

JÁ TINHA...

A cidade de Porto Alegre, como tantas outras, é terra do “já tinha”. Quando se fala em algum comércio ou atividade, se recebe a informação: “Ah, isso já tinha, hoje não tem mais...”. Há uns vinte anos publiquei em vários jornais, da capital e interior o artigo “Réquiem” referindo-me a um dos melhores bar-chope, situado na subida da Rua da Praia, que se inviabilizou e fechou suas portas sem maiores avisos. O fato é que de lá para cá muitos outros fecharam, restando apenas o “Bier Stubbe” ali na Doutor Timóteo com a Três de Maio como um dos poucos que mantém a oferta clássica de chope, sanduiche aberto, almôndegas e bolinhos de bacalhau. Saudades do Cubano (o primeiro deles), o “Wunderbar”, o “Luiz Alberto”, o Hubertus e o “Pica Pau”. A maioria dos barzinhos de hoje está mais apaulistada, convertida em boteco ou restaurante.

De outro lado, a carência da capital é no campo das churrascarias. Hoje temos umas duas ou três boas churrascarias, mas todas elas sem o charme das mais antigas. Esta semana, eu e minha mulher comentávamos as churrascarias que havia em Porto Alegre, Hoje quando se fala nelas, se escuta o epitáfio “já tinha”.

Eu recordo de, pelo menos quatro ou cinco boas ofertas de legítimo churrasco gaúcho no passado, como a “Santa Teresa” (na Assis Brasil, tocavam “Os Araganos”), da “A Estância” (na Cristóvão Colombo, próximo à igreja São Pedro) e da “Taberna Gaúcha” (Independência, em frente ao Teatro Leopoldina), estas três com recepcionistas e garçons vestidos com “pilcha” e música gaúcha ao vivo. Eram locais agradáveis, onde se levava amigos para conhecer aqueles espaços temáticos. Havia ainda um excelente churrasco na “Urca” (Júlio de Castilhos com a praça Parobé) e na “Odilon” na Venâncio Alves, ao lado do Cinema Garibaldi. Desfrutava-se ainda na Zona Norte a “Boi na brasa” na 11 de Agosto, com tangos e música latina, a “Avenida”, na Presidente Roosevelt, e mais a “Cabana dos Santos” no IAPI. Para o meu gosto, hoje só escapam o “Barranco”, a “Santo Antônio” e a ‘”Vitrine Gaúcha” e outras menos votadas.

Assim como os bar-chope, que se modificaram, igualmente aquelas churrascarias temáticas caíram na dramática vala do “já tinha”, revelando a crise econômica, a incompetência dos gestores que não sabem improvisar e desenvolver criatividade e a invasão da cultura paulista na gastronomia dessa área, a partir dos ”rodízios” e grelhados. No autêntico churrasco gaúcho é a cardápio. Não me digam que falta público para churrascarias e bares. O que falta é gestão e menos mordida dos impostos. Enfim, as coisas boas, “já tinha”...