Amar no facebook, não é o verbo intransitivo de Mario de Andrade e nem o transitivo da nossa gramatica, mas é muito perigoso.

Amar no facebook, não é o verbo intransitivo de Mario de Andrade e nem o transitivo da nossa gramatica, mas é muito perigoso.

Nunca houve e provavelmente jamais haverá uma época como esta em que brotam declarações de amor de forma tão opulenta e instantânea, onde a beleza e a felicidade é providenciada num clic, conhecido como self ou selfie (Corruptela do inglês self, que significa eu próprio. É um neologismo originado da locução self-portrait, autorretrato).

O imperativo do ego que ilude os olhos de quem vê, fazendo parecer um devotamento desinteressado, nada mais é do que alimento suplementar sutil, dos desejos escondidos nas entranhas do ser, ignorando a vocação original para a introspecção humana, para se entregar a uma espécie de “Pais das Maravilhas” onde tudo é frugal, e o que predomina é o eufemismo coletivo das amizades, dos relacionamentos e das parcerias.

O narcisismo doentio, aflorado sem disfarces, estanca a solidão real e verdadeira que se oculta por trás de sorrisos, caras e bocas, colo, costas e cabelos, pupilas, peles e pelos, barrigas e coxas.

Um caleidoscópio de apelos interiores por atenção, reverência e pequenas porções de ilusão, como partes de um amor inventado, como disse (Cazuza).

E segue o poeta na dura constatação do amor inventado; dizendo... “Eu nunca mais vou respirar, se você não me notar, eu posso até morrer de fome, se você não me amar”.

Como num mosaico vivo, corpos e faces sem anonimato num livro disponível para loucas depravações, engenhosas e inconfessáveis elucubrações paranoicas, substancia barata no ser humano oferecida a seus iguais.

No facebook, quem ama, precisa ostentar o amor. O ser amado exposto num vernissage insano, como um troféu resignado e agradecido pela suposta lisonja.

É a impiedade infiel corrosiva que prospera indutiva, envolvente e resoluta. O amor do facebook, apesar de selado, carimbado e rotulado, não tem autenticidade.

O amor no facebook, tem começo, meio e fim; mensurável em tempo, distancia, valor, circunstância e oportunidade.