Western de agora (publicado originalmente em 8/4/2017)

No intervalo de 45 anos, de 1972 a 2017, o ator Jeff Bridges foi indicado sete vezes ao Oscar – quatro como coadjuvante e três como principal (em 2010 ganhou seu único troféu, por ‘Coração Louco’). Em ‘A Qualquer Custo’ (2016), obra pela qual esteve como finalista de coadjuvante, o ator entrega-se pra uma história esquecida dos fãs da sétima arte: o faroeste. No caso, o western moderno, adaptado aos dias do século 21.

Bridges é Marcus Hamilton, xerife no Texas. Está prestes a se aposentar. Porém, às suas mãos caem o caso dos irmãos Howard: Tanner e Toby. Falidos, em busca da recuperação duma fazenda da família, resolvem roubar bancos a fim de levantar a grana. O primeiro (Ben Foster) é ex-presidiário, impulsivo, violento. Toby (Chris Pine) é o oposto: centrado, compreensivo. Assim se dá a construção deste longa-metragem.

A engrenagem, claro, desliza em clichês desnecessários, quer ter a lembrança de John Wayne na veia, porém consegue pouco o objetivo. É Bridges quem rouba a cena, o filme, a atenção, tudo. Dá a Marcus um sotaque preciso do caipira texano, além da ironia fina, nada delicada, com o parceiro de trabalho, o ‘índio’ Alberto (Gim Birminghan). É na dupla que estão todos os bons momentos da trama.

E a atuação de Bridges bate a volta em Gim com categoria. A tarefa se faz fácil desta forma. E o tema central pinta o que são os EUA na década de 2010: pessoas quebradas financeiramente, principalmente depois da crise de 2008, e o confronto de gerações, onde o respeito é quase nulo.

Nisto os papéis de Bridges e Foster cabem. Enquanto um não tem mais a energia, mas é a sua presença firme de que precisa a delegacia, apesar de ele estar cansadíssimo, o outro jorra falsa valentia, pois por trás do semblante assassino vive uma pessoa vazia.

‘A Qualquer Custo’ tem direção do escocês David Mackenzie e roteiro de Taylor Sheridan, que estreou no cinema com ‘Sicário’ (2015) já dando um banho. As sequências de tiroteios e perseguições de carro, típicas dos westerns, também são recheadas de qualidade, malgrado o lugar-comum citado anteriormente. A fita estava na lista dos concorrentes a melhor filme. Mas fica a ressalva, ainda que tardia: Bridges tinha de ter sido indicado a ator principal, com Foster como coadjuvante.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 10/04/2017
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