A emocionante história do palhaço Chimarrão

Júlio Emídio dos Santos, conhecido como Chimarrão, apelido do palhaço que ele representava, quando era artista circense, entre os anos de 1956 a 1980, nasceu no dia 31 de março de 1943, na cidade do Iguatu-CE, um mês após o seu pai abandonar a família. Em 1952, perderia a sua mãe, passando a ser criado pelo irmão mais velho. Eram sete irmãos.

No exercício da função de palhaço, notabilizou-se pelo uso do bordão: “se deita, Frederico”, em que atirava ao chão um inseparável boneco de pano a que atribuía o nome de Frederico.

Chimarrão iniciou a atividade circense como trapezista voador, aos 13 anos de idade. Em 1967, casa-se com Maria de Lourdes dos Santos (1939-2015), natural de São Gonçalo-PB. Sua companheira também se tornaria trapezista circense e o seguiria em todas as andanças pelo interior nordestino. Dentre os circos de que o casal participou, destacam-se: Veneza, African Circus, Borborema, Bonde, Gina, Arte Palácio, Novo Americano, Rex, Coronel Zé Pelado...

No ano de 1966, quando o Circo Novo Americano, dirigido por Carioca, se apresentava em Fortaleza, teve o prazer de assistir a um show do compositor Humberto Teixeira, na praia de Iracema.

O Circo Novo Americano foi instalado a partir dos “restos mortais” do Gran Circus Norte-Americano, que estreou em Niterói, em 15 de dezembro de 1961, e era considerado um dos maiores e mais completos circos da América Latina.

No espetáculo do dia 17 de dezembro de 1961, três ex-funcionários temporários da cidade, insatisfeitos com o dono do circo, por questões trabalhistas, resolveram atear fogo no recinto. Com cerca de 3000 pessoas na plateia, faltando 20 minutos para o espetáculo acabar, começou o incêndio. Em pouco mais de 5 minutos, o circo foi completamente devorado pelas chamas. Na triste tragédia, 372 pessoas morreram na hora e, aos poucos, vários feridos morriam, chegando a mais de 500 mortes, das quais, a maioria eram crianças. A fuga de um elefante da sua jaula acabou por salvar muitas vidas, visto que o animal arrebentou parte da lona, abrindo caminho para um maior número de pessoas escaparem.

Em 1962, Chimarrão teve a honra de receber os cumprimentos do gênio Patativa do Assaré, durante uma apresentação circense no distrito de Cachoeirinha, terra natal do poeta que pertence ao município de Assaré.

Por volta do ano de 1964, Chimarrão era artista do Circo Rex, de propriedade do Senhor Geraldo Gouveia, que se apresentava em Baraúna-RN. Depois de algumas semanas na cidade, com o movimento cada vez mais fraco, o circo não pode partir porque estava “atolado na praça”, ou seja, sem condições financeiras para se deslocar para outro lugarejo.

Certo dia, porém, o grande Luiz Gonzaga retornava de uma apresentação na cidade de Mossoró e como era um apreciador da arte circense resolveu dar uma parada para observar o movimento. Ao chegar, percebera que o proprietário era um velho conhecido. Conversa vai, conversa vem, e eis que o Rei do Baião decide aprontar uma com o amigo:

- Me anuncie para hoje! - Ordenou Luiz Gonzaga.

E assim ocorreu. O anúncio do show, em todos os recantos da cidade, foi feito no seu próprio veículo do forró. O circo teve a sua lotação esgotada e o espetáculo recheado com muito forró foi um sucesso total. Em um único dia, o circo arrecadou mais dinheiro do que em todos os outros. Ao final, Luiz Gonzaga não aceitou receber nenhum centavo do amigo e seguiu tocando sua sanfona Nordeste afora, pois, sua vida era “andar por este país, até um dia poder ter um descanso feliz”. Gonzagão fizera da sua vida uma infatigável arte de prestígio à cultura do seu povo. Sempre respaldado pela sua sanfona.

Com indicação de Otoniel Maia de Vasconcelos (13.06.1921-1999), em meados da década de 1960, Chimarrão e equipe faziam apresentações no saudoso cinema de Antonio Luiz, em São Gonçalo. Os animados shows continham muita música, comicidade e alegria.

Do casamento de quase cinco décadas, que duraria até o falecimento de Lourdes, em 15 de novembro de 2015, em Juazeiro-BA, depois de vários derrames cerebrais, resultaria a filha única, Selma. Chimarrão era contemporâneo e compadre do palhaço Guri, padrinho de Selma. Guri, que possuía grande popularidade no interior do Nordeste, era casado com a cantora circense Ninita, e irmão de Ciana, também cantora. Todos estes artistas se apresentavam em São Gonçalo nas áureas décadas de 1960 e 1970.

Cidadão decente, Chimarrão possui como marca registrada o temperamento pacato e a alegria contagiante. Apreciador de uma boa música, gosta de tocar de violão e de cantar algumas canções, notadamente de seresta (Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo, etc.).