A CHEGADA

Quando Amy Adams, agora a linguista Dra. Louise Banks, que também já foi Anna Brady viajando a Irlanda para pedir o namorado em casamento, (Casa Comigo) chega para dar sua aula de português clássico, percebe que alguma coisa aconteceu. Os alunos com os olhos grudados nas telas dos notebooks nem respondem seu comprimento.

Assim começa o filme “A chegada”. Pontuado de interrogações do começo ao fim. Naves alienígenas aparecem em várias cidades do planeta. Logo a linguista Louise Banks é procurada pelos militares. Ela tentará contato com os visitantes desvendando os significados da sua escrita.

O filme é baseado no conto “História da sua Vida” de Ted Chiang, que junto com outros contos está no livro com o mesmo nome. O conto tem tantas interrogações quanto o filme. A diferença é que a leitura desvenda muitas delas. Coisa que o filme não faz, ou não consegue fazer. Deixando em dúvida que uma imagem vale por mil palavras.

Numa ficção sobre a linguagem sobra até para a tradução. No filme dublado, Louise batiza os ETs de “Abbott e Costello”. Na tradução do conto eles aparecem como “Melindrosa e Framboesa”. Nem o conto, nem o filme dizem se eles se apresentaram como “Heptápodes”, ou também foram batizados assim.

Claro que, além da escrita existem cientistas interessados na física dos “Heptápodes”. No conto, para aqueles que nunca saíram do jardim de infância da física como é o meu caso, o princípio de Fermat, de que a luz precisa percorrer um caminho sempre no menor tempo possível, é uma aula espetacular. Nem tanto no filme.

Como sempre, para a depreciação do Ser Humano como raça, os militares não estão interessados nem na linguagem nem na física. Só na tecnologia. Para isso recorrem aos mesmos artifícios usados pelos navegantes que chegaram ao Continente Americano. Querendo trocar “espelhos por ouro”. Trocas de presentes. Uau! Precisa dizer mais?

Presente mesmo quem ganhou foi a Dra. Louise ao decifrar a escrita dos “Heptápodes”. Quando os humanos inventarem sua escrita ficaram presos ao livre-arbítrio. Os Heptápodes escreviam para tornar o futuro em presente. Eles sabiam tudo o que aconteceria. Ficção! Palavra que os “Heptápodes” jamais poderiam escrever.

Aquelas visões que acompanham a Dra. Louise durante o filme, ficam claras no conto. Ela escreve sabendo o que acontecerá no futuro. E teriam os “Heptápodes” partido de repente, sem adeus, aterrorizados com a descoberta do livre-arbítrio na nossa escrita?

Se eu fosse um Heptápode não teria fuga. Terminaria essa página escrevendo que não entendi nada do filme nem do conto. Como humano com livre-arbítrio posso fingir que entendi. Mesmo com a possibilidade de estar completamente enganado.