Modernizar a Escola

A obra Modernizar a Escola, feita em conjunto pelos franceses Freinet e Salengros, tem como intuito principal a explicação do conceito de Escola Moderna e as técnicas que devem ser desenvolvidas para que sua elaboração seja feita efetivamente. Freinet nesta obra, também explica o motivo pelo qual acredita que a escola atual deva ser modernizada. Salengros, neste sentido, vem como apoio às ideias do pedagogo e coloca em pauta a razão por querer levar adiante seu projeto.

Freinet explica que (1977, p. 56):

A nossa pedagogia tem a pretensão de ser mais simples do que a pedagogia tradicional porque é natural, isto é, baseia-se em processos e comportamentos de bom-senso, compreende e admite quem quer que possua bom-senso.

Celestin Freinet, um francês nascido em 1896, tinha como principal motivação a busca por uma pedagogia e uma escola capazes de formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, além de acreditar que a transformação escolar deveria ser interna, uma vez que nela se manifestam as contradições sociais. Também é possível analisar em toda a obra de Freinet a ideia base de que educadores e educandos devem trabalhar em parceria, sendo um continuação do outro.

Freinet acreditava que o conceito de responsabilidade e sociabilidade deveriam ser abordados nas práticas educacionais, além de buscar e explorar a criatividade e autonomia diante de reflexões individuais ou coletivas e equilíbrio e solidez no que diz respeito ao seu aprendizado.

O livro, além de explicar o que deve ocorrer para a modernização da escola ser real, difere a Escola Nova da Escola Moderna, alegando que o segundo nome deve ser utilizado, porque se trata de uma adaptação do novo século e não apenas de uma novidade.

Freinet explica (1977, p. 9):

Dizemos Escola Moderna e não Escola Nova porque insistimos muito menos no aspecto novidade do que no da adaptação às necessidades do nosso século. Uma técnica de escola tradicional pode perfeitamente integrar-se nas nossas concepções, se permitir e facilitar as formas de trabalho que preconizamos.

Suas bases de apoio, como a comunicação e a expressão livre, o tateamento experimental e o princípio da cooperação, são abordados na obra com o intuito de alcançar, dentro da modernização escolar, uma nova maneira de lidar com os alunos e de tratá-los.

Mesmo tendo sido escrito em meados de 1970, traz em seu desenvolvimento assuntos que são muito atuais. Entre eles, pode-se perceber que os escritores, sendo Freinet o elementar, expõem técnicas e argumentos capazes de convencer professores, e demais pessoas ligadas à educação, que a escola atual deveria ser modificada, alegando que a formação dos alunos e dos futuros cidadãos têm total contribuição da escola.

Para isso, um dos principais argumentos utilizados é que o mundo vem se modernizando e a escola não poderia ser diferente. (1977, p. 12 - 13):

O mundo evoluiu à nossa volta. (...) A escola, essa, continua com os antigos métodos sem se dar conta de que já ninguém precisa deles e que só estorvam nas oficinas onde em breve já não será possível fazer um trabalho inteligente.

Para que seja possível a implantação da Escola Moderna, algumas técnicas devem ser colocados em prática, de modo a dar total conhecimento da causa para os professores que estiverem dispostos a levar adiante seu ideal. Primeiramente, é colocado que a sua moderna pedagogia deverá ser composta por instrumentos e técnica, e, sem a união dos dois, não será possível, de fato, a modernização.

Verificar o número de alunos em sala de aula, tendo em vista que o processo só terá resultado satisfatório com, no máximo, 30 alunos por sala, dar devida importância ao espaço e instalações, essas que não devem ser muito pequenas, o que poderia comprometer a instalação de instrumentos e de atividades como pintura, composição, trabalhos em grupo, etc., manter relações assíduas com os pais, de modo a atraí-los para o novo processo pedagógico são algumas das possíveis práticas possíveis e necessárias para que a incorporação de um novo conceito de pedagogia moderna seja instaurado de maneira eficiente.

Diante destas e outras técnicas (1977, p. 59):

Não se deve adotar com os olhos fechados um método qualquer; devem fazer as vossas próprias experiências, prudentemente, inspirar-vos nas experiências bem sucedidas de camaradas que estejam na mesma situação, ir visitar as aulas deles, trabalhar com eles, em equipes...

Para tanto, Freinet articula sobre o ensaio experimental que deveria ser colocado aos alunos de modo a explorar o aprendizado natural dos mesmos, sendo necessário que retirassem do ensino o intuito de fazer seus alunos aprenderem um conteúdo através de explicações sem sentido para suas vidas. Ou seja, o conteúdo deveria ser passado por uma interação entre os educandos e os educadores sem valorizar a memorização, sim a vivência.

O ensaio experimental, portanto (1977, p. 32 – 33):

Está na base de todas as conquistas. Um gesto que não foi adquirido experimentalmente e que a repetição do que uma conquista formal e fictícia, que desaparece como surgiu, sem deixar marca no comportamento, portanto não integrada no crescimento e na vida.

Além de almejar a modernização escolar de acordo com a abordagem dos professores e as técnicas usadas para transmitir o conhecimento, o conceito de democratização do ensino é defendido, não em uma forma apenas de atingir todas as classes sociais, mas também com o objetivo de alcançar todas as necessidades e as possibilidades dos educandos.

Roger Salengros, um político de esquerda francês, vem ao final da obra apoiar e dar maior força aos argumentos utilizados por Freinet, tudo a fim de conseguir concretizar efetivamente a modernização da escola e todo o seu caráter social e universal.

Para conseguir ir de acordo com o pedagogo, Salengros coloca em voga o papel dos professores, referindo-se a Montaigne no que diz respeito a “cabeça bem feita e bem cheia” e o papel formador e civilizador da educação.

O político usa diversas ideias e dicas para inspirar professores a serem bons profissionais dentro do que é classificado como Escola Moderna. Alegando, assim, que bons alunos, se forem bem instruídos, poderão seguir uma brilhante carreira, mas se a base não for de uma instrução concreta, tal futuro pode ser prejudicado, por isso tantos casos de desistência dos antigos “Liceus”.

Finalizando sua fala, um trecho é de extrema importância para compreender os princípios da Escola Moderna (1977, p. 94):

“A escola deve libertar a criança enquanto que, muitas vezes, é a criança que aspira a libertar-se da escola.”

Diante da obra analisada, alguns conceitos e ideias foram de extrema importância para que a compreensão do porque almejar a modernização da escola, como, por exemplo, tentar transformar o ensino em algo natural ao educando e implantando-o no ambiente escolar e transformando-o em um complemento do professor, não apenas como alguém que necessita de instrução.

Sendo assim, a Escola Moderna carrega consigo um papel essencial para a formação de seres capazes de viver em sociedade e de lidarem com sua identidade criativa e social, sem desrespeitar sua autonomia e suas pretensões.

Julyana Cavalcante Teixeira
Enviado por Julyana Cavalcante Teixeira em 20/03/2017
Reeditado em 23/03/2017
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