A semelhança entre o coordenador pedagógico e a obra surrealista de Vladimir Kush

A semelhança entre o coordenador pedagógico e a obra surrealista de Vladimir Kush

Na procura por uma obra que representasse artisticamente o que desejo colocar em palavras sobre a prática do coordenador pedagógico dentro de uma instituição de ensino, me deparei com a beleza e intensidade da obra "Redwood Cutting" de Vladimir Kush, um pintor surrealista russo, que tem como inspiração as obras e a expressão artística de Salvador Dali.

Muito do que há na pintura traz à tona a maneira como eu enxergo e analiso o trabalho cotidiano de profissionais que estão sempre relacionados a muitas responsabilidades dentro de uma escola, sejam elas burocráticas, pedagógicas ou organizacionais.

Ao analisar a imagem, alguns pontos me chamaram a atenção. Primeiro a maneira como o machado é colocado. Ele tem como função o desmatamento! No entanto, sua composição é dada de um tronco de árvore. Ou seja, para mim, ele tem o poder de decidir o desfecho de seus semelhantes. Outra questão que desperta o meu interesse, é a maneira como a borboleta é posicionada sobre o machado. Certamente, ela não está ali apenas como decoração. No meu ponto de vista, ela tem como função a supervisão do que está ocorrendo. A borboleta está inserida na dinâmica das relações estabelecidas entre o machado e as outras árvores como alguém que observa, que supervisiona.

Pensando no papel do coordenador pedagógico e na sua real atuação, muito pode ser relacionado com a interpretação desta obra surrealista. O que se vê deste profissional é uma sobrecarga de tomadas de decisões e resolução de conflitos, além das funções de simples organizações, reuniões, questões disciplinares e de andamento das aulas ou cronograma escolar, o C.P. tem em suas mãos o dever e o compromisso de ajudar na constante formação dos professores com que trabalha, sendo então um interlocutor entre a escola e os que nela atuam, sempre buscando levar ambos para um mesmo caminho, um interesse comum.

Fica claro, portanto, que ele, que pode ser relacionado à função que o machado tem na obra, carrega consigo um aglomerado de medidas que acarretam em um grande peso dentro do universo escolar. Quando nos deparamos com a imensidão de questões relacionadas ao seu trabalho, fica evidente que um dos pilares da educação está centralizado nele.

O poder de dar a palavra final no que se refere a projetos, à organização da equipe docente, ao representar e interligar o corpo docente da escola e a situação estudantil-social do aluno com os pais e/ou responsáveis, solucionar os problemas relacionados à vivência escolar das crianças, ao mesmo tempo em que assume o papel de orientador educacional e complementa a parte educativa discente, me faz pensar em quão densa é a ação deste profissional.

Certamente, quando o coloco como semelhante à representação do machado na pintura de Kush, me refiro às responsabilidades que são colocadas em suas mãos, essas que são capazes de acabar com problemas que ocorrem no interior de uma escola, que podem decidir o futuro pedagógico de professores, que gerenciam conflitos e questões burocráticas, entre outras, mas que também não está livre de supervisão ou poda. Da mesma maneira que o C.P. é reponsável por supervisionar sua equipe de trabalho, ele está a todo momento sendo supervisionado, sendo analisado, e , quando penso que ele é semelhante ao professor e a outros profissionais de uma instituição educacional, me deparo com a ideia de que ele também sente o reflexo de suas decisões.

Pode-se também fazer a ligação do papel representativo do coordenador pedagógico com a maneira como a borboleta é retratada na obra. Tendo como ponto de partida que o inseto adquire na obra uma posição de supervisão, quando comparada ao coordenador pedagógico muito pode ser revelado.

Este profissional que está ali para observar e interferir na dinâmica da escola, acaba passando para os profissionais com quem trabalha grande parte do que tem como ideologia, seja pela técnica que utiliza ou pelas leituras e estudos. Assim, sua prática também está vinculada ao controle de ação pedagógica dos professores, a fim de alcançar o que acredita ser de maior qualidade. para isso, o coordenador pedagógico precisa conhecer profundamente a realidade em que está inserido, assim como a borboleta conhece a realidade de uma mata que está em processo de desmatamento.

“... a Supervisão é uma atividade essencialmente cooperativa. Não basta que se preveja a articulação de ações. Isso de nada valerá se as pessoas a quem essas ações estão confiadas não se articularem também, porque é dividido tarefas por todos e somando os esforços de cada um que se diminui o dispêndio de energias e se multiplica o resultado final. Esta é, acreditamos, a fórmula que viabiliza a prática efetiva da Supervisão Escolar.” (Boas apud Alves, 2006, p.70)

Referências Bibliográficas:

ALVES, Nilda (org.). Educação e Supervisão: o trabalho coletivo na escola. 11ª ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2006.

ALVES , Nilda e GARCIa, Regina Leite (orgs.). O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores educacionais. São Paulo: Loyola, 1986.

FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA - “O Coordenador Pedagógico e a formação de professores: intensões, tensões e contradições”. Estudos e pesquisas educacionais. São Paulo - jun. 2011.

Julyana Cavalcante Teixeira
Enviado por Julyana Cavalcante Teixeira em 20/03/2017
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