UM ESTUDO SOBRE O DESPERDÍCIO DE ÁGUA POTÁVEL

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Roberto de Lima PINTO

Com Licenciatura Plena em Biologia pelas Faculdades Integradas Ipiranga

Francisco de Assis Pinto BEZERRA

Com Graduação em Economia/UFPA

RESUMO: O Brasil é um país privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos, pois detém cerca de 13,7% de toda a água doce do planeta terra. no entanto, este bem precioso corre risco de escassez, derivado da ação do próprio homem, o qual interfere na qualidade e na quantidade da água disponível, cujo uso inadequado significa problema de desperdício de água potável. O objetivo geral deste artigo científico é explicar as causas e motivações que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus afazeres domésticos. Adotou-se a Metodologia da Pesquisa Bibliográfica, a partir de um conjunto de autores que discutem o tema levantado, de modo que a leitura analítica permitiu dar resposta aos propósitos deste artigo. As evidências mostraram que o desperdício de água potável nos domicílios se torna mais grave, quando se percebe que o uso doméstico é o segundo segmento que mais demanda o líquido precioso,ficando apenas atrás da agricultura, que é responsável por quase 70% do consumo do líquido. Os resultados permitiram concluir que as causas que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus domicílios são: o desconhecimento do real risco de escassez da água; acreditam, por pagarem uma conta, podem usar de modo desmedido; o uso clandestino, dando a ideia que a água é sem custo; ausência de equipamentos de controle da água; o não uso de água da chuva; e o uso de materiais que consomem grande quantidade de água, como é o caso das descargas dos vasos sanitários.

Palavras-Chave: Escassez. Quantidade. Uso. Famílias. Domicílios.

1 INTRODUÇÃO

O objeto formal de investigação deste artigo é a água. Trata-se de um recurso essencial para a sobrevivência de todas as espécies que habitam a Terra. No organismo humano a água atua, entre outras funções, como veículo para a troca de substâncias e para a manutenção da temperatura, representando cerca de 70% de sua massa corporal. É considerada solvente universal e é uma das poucas substâncias que encontramos nos três estados físicos: gasoso, líquido e sólido (CHAVES NETO, 2005).

Dependemos da água praticamente para tudo: higiene pessoal, lavar roupas e utensílios, limpeza, tomar banho, escovar dentes, lavar mãos, cozinhar, entre outras necessidades domésticas. Em outros segmentos a água também tem grande importância, como na indústria, agricultura e para a produção de qualquer tipo de serviços, como nos hospitais e escolas.

Esta dependência do homem a água levou os 189 países membros da Organização das Nações Unidas – ONU assumiram como uma das metas de desenvolvimento deste 3º milênio reduzir à metade a quantidade de pessoas que não têm acesso à água potável e saneamento básico (REBOUÇAS, 2003).

Dada a sua acentuada importância para todos os segmentos da vida social a Organização das Nações Unidas – ONU instituiu o “Dia Mundial da Água”, com a “Declaração Universal dos Direitos da Água”, em 22 de março de 1992, colocando em pauta a reflexão de cada cidadão quanto ao uso racional da água (VIEIRA; COSTA, BARRETO, 2006).

Outro marco sobre sobre a água foi a instituição da Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, a qual criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos que, em seu art. 1º, assevera que:

A água é um bem de domínio público; a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico; em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e para os animais; a gestão dos recursos hídricos deve proporcionar o uso múltiplo das águas [...] (SILVA; SANTANA, 2014, p. 14).

Desta forma, a partir do inicio do século XXI, a água passou ser assunto de debate e de discussão entre as autoridades e no meio intelectual e acadêmico, em função de ser um bem fundamental a reprodução da vida no planeta, através de eventos, congressos e fóruns nacionais e internacionais.

O Brasil é um país privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos, pois detém cerca de 13,7% de toda a água doce do mundo. Tanto que a disponibilidade média de água nos rios é de 34 mil m3/hab/ano, o que colocou o Brasil como membro das Nações Unidas, considerado como um dos países ricos de água doce do mundo (REBOUÇAS, 2003). Ou seja, o Brasil apresenta significativo potencial hídrico frente aos demais países.

Durante muito tempo à água foi considerada um recurso que jamais terminaria. Atualmente a realidade é bem diferente, pois sabemos que a disponibilidade de água potável em todo o planeta vem sofrendo risco de escassez. Essa situação se deve tanto ao fato de essa substância se tomar cada vez mais imprescindível à reprodução da vida humana, seja pelo aumento do fluxo populacional, como também pelo seu uso indevido.

Do total da água que existe no planeta, 97,5% é salgada e apenas o restante (2,5%) é água doce. Deste último percentual, 1,7% estão em forma de gelo, nas geleiras ou nos polos e, somente, 0,77% é encontrada na forma de rios, lagos, água subterrânea, solo, atmosfera e na biota, e sem entrar no mérito que nem todo esse ínfimo quantitativo quantitativo de água está acessível para consumo (ANDRADE; VIEIRA, 2012).

Este bem precioso corre risco de escassez, derivada da ação do próprio homem, o qual interfere na qualidade e na quantidade da água potável disponível. Pesquisas mostram que, em poucas décadas as reservas de água doce do planeta não serão suficientes para suprir as necessidades da raça humana, caso os níveis de consumo não sejam controlados. Por conseguinte, a escassez e o racionamento deste recurso pode acarretar problema de ordem política e econômica ente os países, similar ao caso da hegemonia do petróleo, por volta dos anos de 1974 (AOYAMA; SOUZA; FERREIRO, 2007).

No Brasil a perda de água potável é considerável, pois estudos mostram que 40% do volume de água tratada que é servido à população acaba, literalmente, sendo desperdiçado, onde vai parar nos ralos ou melhor nos esgotos (CHAVES NETO, 2005).

Para termos noção dos desperdícios totais da água tratada e injetada nas redes de distribuição das cidades, este indicativo varia de 40% a 60% no Brasil, contra 5% a 15% nos países desenvolvidos, respectivamente (REBOUÇAS, 2003).

Outra dado que corrobora o desperdício deste bem no Brasil é que o consumo médio de água por cada brasileiro é algo em torno de 148,5 L/dia; enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda uma média de 110 l/dia por habitante (MURAKAMI, 2012).

A escassez de água se apresenta cada vez mais visível, cuja dificuldade de obtenção deste bem é atribuída ao seu mau uso, em função do seu desperdício, e pela ausência de políticas para combater essa situação (COSTA et al. 2014).

Diante destes dados, não é difícil entender que o uso inadequado e desmedido da água significa problema de desperdício e o que é mais grave gera escassez para as populações o que, em última análise, resulta na dificuldade de obtenção deste bem.

Considerando que a água é algo mais que essencial à reprodução da vida humana em todos os sentidos, preocupa-nos entender e explicar neste artigo as causas que levam às famílias em seus domicílios gerar o problema de desperdício de água potável. Ou melhor, esta pesquisa parte da seguinte linha de investigação: Quais são as recorrentes causas que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos afazeres em seus domicílios?

Diante desta exposição preliminar, o objetivo geral deste artigo científico é explicar as causas e motivações que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus domicílios.

Quanto às especificidades do estudo, buscou-se cumprir dois Objetivos Específicos, a saber:

a) Analisar a dinâmica do desperdício de água potável; e

b) Avaliar a possibilidade do uso sustentável da água.

Embora escassez e o risco da redução da quantidade de água disponível perpassem por vários fatores, tais como crescimento populacional, aumento do consumo, poluição das águas superficiais e subterrâneas por esgotos domésticos e resíduos sólidos e/ou tóxicos provenientes da indústria e da agricultura, o estudo se delimita em aprofundar as discussões apenas sobre o desperdício da água potável nos domicílios.

Para a água ser potável a mesma deve ser adequada e apropriada ao consumo humano, devendo apresentar características microbiológicas, físicas, químicas e radioativas que atendam a um determinado padrão de potabilidade (ANDRADE; VIEIRA, 2012). Por isso, antes de chegar aos domicílios, a água passa por estações de tratamento, onde são realizados processos de desinfecção para garantir o consumo de qualidade e sem riscos à saúde.

Este estudo parte da premissa de que a redução da quantidade de água potável disponível e o risco da sua escassez tem relação direta com o seu uso inadequado em forma de desperdício deste bem. Ou seja: a questão não é deixar de fazer as necessidade domésticas domiciliares, as quais derivam do uso de água, mas que a exploração deste bem deve ser realizada de maneira racional e produtiva, a partir do controle do líquido e de reaproveitamento deste bem.

O desenvolvimento deste tema de pesquisa se justifica pela escassez do líquido precioso, por um lado, e pelo uso inadequado da água, por outro, cuja dificuldade de obtenção deste bem coloca em risco a reprodução da vida humana, sem entrar no mérito do seu forte impacto ambiental.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A DINÂMICA DO DESPERDÍCIO DE ÁGUA POTÁVEL

O desperdício de água na realização de muitas das atividades, sejam urbanas ou rurais, tem como fonte a não participação dos usuários ou responsáveis no pagamento da conta de água das instalações hídricas utilizadas (ANDRADE; VIEIRA, 2012). Ou seja, quanto menos o consumidor participa no custeio do fornecimento hídrico, menos ele se incomoda com o desperdício, utilizando não apenas de maneira ilegal, como “esbanja” o referido recurso em forma de desperdício.

Pode-se acentuar esta discussão, considerando que o desperdício de água não ocorre apenas no domicílios e que não rateiam os custos da produção deste bem. Este comportamento se reproduz principalmente em prédios ou repartições públicas (escolas, hospitais, secretarias, etc.), onde os funcionários, por não terem qualquer participação direta no pagamento da conta de água, não adotam nenhuma medida para o consumo ou controle dos vazamentos do líquido, cujo gasto generalizado de água significa desperdício deste bem

Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que quase metade da população mundial não conta com serviço de saneamento básico e que uma em cada seis pessoas ainda não possui sistema de abastecimento de água adequado. Como resultado disso, mais de 1,5 milhão de crianças morrem, anualmente, antes de completar cinco anos por de vida, em função da falta de água potável (ANDRADE; VIEIRA, 2012).

Esta estatística nos faz compreender que este enorme percentual de pessoas excluídas do sistema hídrico revela uma escassez de água institucionalizada, visto que os poderes públicos constituídos não adotam políticas e/ou programas para contemplar esta população. Esta situação explica, em parte, o uso clandestino e irregular de muitos domicílios para ter acesso à água e que, por conseguinte, resulta em desperdício do bem, já que não existe qualquer tipo de restrição ao consumo, a exemplo do pagamento da conta.

Para se ter em mente como esta situação exposta influi no desperdício e redução da água potável disponível, “o Brasil perde mais da metade da água que trata com as ligações clandestinas” (CHAVES NETO, 2005, p. 25).

A Organização Mundial de Saúde (OMS), inclusive, chama atenção de que o investimento de cada um dólar em saneamento básico, isto equivale uma redução de quatro a cinco dólares nas despesas hospitalares com doenças provenientes dos recursos hídricos contaminados (REBOUÇAS, 2003).

De fato, a rápida urbanização das cidades levou as populações de baixo poder aquisitivo a se concentrar em periferias carentes de serviços essenciais de saneamento (CHAVES NETO, 2005).

Este pouco acesso à água potável leva às populações a recorrer a mecanismos escusos ou alternativos, de modo que o bem não tenha o tratamento adequado para o consumo, correndo o risco de contaminação. Os conhecidos poços artesianos são um exemplo desta situação onde a água, além de não receber qualquer tratamento, é desperdiçada seletivamente pelos usuários.

Considera-se também que o desperdício da água passa pela sua maior valorização de mercado, fazendo a sociedade perceber que este líquido precioso é um bem finito, e não é algo gratuito da natureza. Por esta nossa ótica, o valor econômico seria um mecanismo para controlar o uso inadequado da água, inibindo assim o risco de escassez no futuro. Diante desta perspectiva, poderíamos ter um consumo mais consciente e racional, não tendo que chegar a uma situação de esgotamento da água.

Além dos domicílios, certamente podemos afirmar que o desperdícios de água ocorre durante a sua trajetória da fonte abastecedora até chegar ao seu destino final, a partir de canos furados, tubulações antigas, serviços de encanação mal feito, retardo em reparos em canos quebrados, principalmente ao longo das vias, enfim tudo isto contribuem para acentuar os vazamentos, levando a redução do liquido.

Outra situação interessante para ser discutida é que o atual estágio de desenvolvimento tecnológico pela sociedade contemporânea não diminui a dependência do ser humano em relação à água. Muito pelo contrário: a água se toma cada vez mais necessária (CHAVES NETO, 2005). Esta demanda é mais sentida não tanto pelos domicílios, e sim mais pela agricultura na produção de alimentos.

Ou seja, é a agricultura quem mais consome água (63%), seguido pelo uso doméstico (18%) e indústria (14%), sendo o restante (5%) deve ser canalizado para diversas necessidades de uso, como o consumo de animais.

No geral este maior desperdício na agricultura ocorre porque se aplica água em excesso, fora do período de necessidade da planta, em horários de maior evaporação do dia, pelo uso de técnicas de irrigação inadequadas ou pela falta de manutenção nesses sistemas de irrigação (CHAVES NETO, 2005).

De fato, nos últimos 50 anos, “a expansão da agricultura, da indústria e da poluição e, de quebra, do aumento da população elevaram consideravelmente a demanda por água” (IETEC, 2005, p. 6). Portanto, o setor agrícola é um dos fortes implicadores na redução da água disponível.

Nos domicílios os desperdícios da água ocorrem, recorrentemente, durante os banhos prolongados; lavar calçadas, pátios e carros com o jato da mangueira, uso de bacias sanitárias, Higiene pessoal, Lavadora de roupas, cozinha, Jardinagem e água para beber, além de outros itens menos rotineiros. Inclusive, o desperdício nos domicílios pode ser estimado diretamente a partir das atividades que gastam água nos afazeres domésticos.

Para Chaves Neto (2005), 33% do consumo de água é gasto com as descargas dos vasos sanitários; aproximadamente 27% são usados para beber e cozinhar; 25% destinam-se à higiene pessoal, e o restante é consumido em outras atividades não tanta corriqueiras, como lavar roupas e carros. Nestas estatísticas, a descarga do vaso sanitário é o item que merece atenção, por ser o de maior consumo e, pois isto, deve ocorrer maior desperdício de água.

Não se pode esquecer que a quantidade de água vem sendo afetada pela expansão desordenada dos núcleos urbanos, pois ocorre o aumento das áreas impermeáveis através de residências, passeios, ruas, estacionamentos, parques e as pavimentações asfálticas (VICTORINO, 2007). Neste caso, a água das chuvas não consegue se infiltrar no solo e, por conta disso, o volume adicional escoa para o sistema de drenagem em direção aos rios.

A escassez de água pode também ser explicada por fatores externos, tipo mudanças climáticas, assoreamento de rios, resíduos sólidos nos mananciais, contaminação por dejetos industriais e de garimpos, etc. Por conta destes eventos, dados da Conferência Mundial sobre água revelaram que em 2025 a falta de água atingirá mais de 1,8 bilhões de pessoas no mundo e que dois terços da população serão afetados pela escassez deste recurso (IETEC, 2005).

2.2 USO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA

Acredita-se que, em todas as atividades domésticas, a sociedade tem que usar a água, levando em conta a disponibilidade deste bem para as gerações futuras, isto é, o uso da água tem que ser sustentável. Oportuno momento de apresentar os princípios de sustentabilidade para o uso da água, entre os quais Chaves Neto (2005) destaca alguns:

- Proteção dos mananciais de águas superficiais e subterrâneas.

- Tecnologias adequadas para purificação e tratamento de água.

- Proteção do solo e prevenção da contaminação e eutrofização.

- Fornecimento de água adequada com quantidade e qualidade suficientes para usos doméstico, agrícola e industrial.

- Tratamento de esgotos domésticos e industriais e efluentes das atividades agrícolas.

Portanto, o uso e consumo de água potável nos domicílios devem levar em conta tais premissas e, para tanto, carece de programa público para ser colocadas em prática. O papel principal dos poderes públicos consiste, prioritariamente, em organizar elementos de uma gestão e controle integrado da água com todos os usuários.

Para evitar a redução da quantidade de água potável disponível, com enfoque no combate ao desperdício, o poder público precisa ainda intervir na Gestão da água, adotando as seguintes premissas, segundo Murakami (2012):

- proteger o lençol freático e as águas superficiais;

- reduzir o consumo de água potável e garantir sua qualidade;

- minimizar o volume de águas residuais para diminuir os custos com seu tratamento, com construção de novas centrais de tratamento;

- garantir um tratamento ecológico das águas residuais;

- limitar a impermeabilização das superfícies para reduzir riscos de inundação; e

- criar lagos e retenções integrados com espaços verdes que melhorem a qualidade do ar e com benefícios sociais.

Por esta lista, entendemos ter elementos o suficiente para se promover a Gestão Sustentável da água destinada aos domicílios, colocando no centro deste processo o consumo racional e inteligente, obedecendo a certos critérios legais, impostos pelo poder público.

Na prática, a Lei Federal n° 9433, de 08 de janeiro de 1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos que, por sua vez, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o qual assegurou quantidade e qualidade da água para todos, já que se trata de um bem comum. Esta Lei instituiu a cobrança pelo uso da água e o principio poluidor/pagador, com a finalidade de incentivar o consumo nacional, cujo fundo é inibir o desperdício (CHAVES NETO, 2005).

A economia e o uso racional de água potável podem ser obtida através de mudanças de hábitos, tais como: fechar a torneira ao escovar os dentes, não lavar calçadas com este tipo de água, não lavar carros com mangueira, banhos rápidos, etc. Enfim, os mesmos elementos responsáveis pelo desperdícios também devem ser apropriados como objeto para se evitar o gasto desnecessário de água. Outro suporte que podemos recorrer para evitar os desperdícios de água são as tecnologias ou equipamentos, com fins de controle ou de reuso.

Existem alguns graus de reaproveitamento de água, desde a simples captação de água de chuva até o tratamento e reuso de águas servidas e fecais. Para o reuso, as águas residuais de uma residência se apresentam em três modalidades, segundo Murakami (2012):

a) Águas servidas, que provêm de pias, chuveiros e tanque, podendo também ser compostas pela água de chuva.

b) Águas fecais, que são as resultantes de vasos sanitários.

A contaminação de águas fecais é maior do que a de águas servidas, sendo também sua reutilização em residências menos comum devido ao fato de sua filtragem ser mais complexa e demorada, e consequentemente mais onerosa. Por este motivo, é importante separar a água servida da água fecal para sua reutilização, visando baratear o custo desse processo.

O reuso da água é um dos mecanismo do uso sustentável deste bem. Tanto que a Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, dispõe que o reuso de água constitui-se em prática de racionalização e de conservação de recursos hídricos, conforme princípios estabelecidos na Agenda 21 (SILVA; SANTANA, 2014).

Em muitas partes do mundo, como na Alemanha, mais de 20% dos domicílios têm cisterna de água filtrada que serve para: descarga do banheiro; lavagem de pisos e carros; irrigação de jardins; lavagem de roupas, enfim tudo isso a partir da água da chuva. No Brasil, um dos emblemas desta situação são as ilhas de Fernando de Noronha, onde a ausência de rede de abastecimento é compensada pelo uso de água da chuva (SILVA; SANTANA, 2014).

A sustentabilidade dos recursos hídricos potáveis, sobretudo, passa por uma mudança de paradigma de comportamento e de hábitos, cuja iniciativa deve ser estimulada pelos governos, através de incentivos, tarifas, programas, campanhas de conscientização, entre outras ações (HOLANDA, 2006).

No caso da tarifa, como mecanismo de regulação do uso de água, acreditamos que se a mesma for baixa certamente haverá desperdício, mas se a tarifa for elevada o consumo de água será mais racional. Ou seja, a aplicação da tarifa as famílias seria uma forma de buscar o equilíbrio entre o desperdício e o consumo racionalizado nos domicílios.

A sustentabilidade do uso dos recursos hídricos potáveis dependente da inclusão social a este bem. Se não vejamos: O Índice de Pobreza e de Água – IPA mostra que não só a quantidade deste recursos disponíveis determina o nível de pobreza de um país ou região, mas também a sua eficácia. Dentre os critérios adotados para a sua mensuração, estão: os recursos disponíveis, acesso, capacidade, uso da água e impactos ambientais (VIEIRA; COSTA, BARRETO, 2006).

Por este indicador, o Brasil alcançou a 50º colocação no IPA em um conjunto de 147 países. Tal resultado pode ser atribuído à forma ineficiente do uso doméstico, industrial e agrícola, agravado pelo crescimento populacional e pela falta de redes de sistemas de abastecimento de água (VIEIRA; COSTA, BARRETO, 2006).

Estes dados mostram que as disparidades socioeconômicas passa também pela má distribuição da água potável, o que promove a cultura do desperdício. A perda, o mau uso e a falta do potencial econômico da água camufla a real crise por qual passa os recursos hídricos não apenas no Brasil, mas no mundo. Ao nosso olhar, faltam mais investimentos para para a política do reuso, proteção dos mananciais mais eficiente e a garantia de uma distribuição equilibrada do precioso liquido.

3 MÉTODO

O meio para a construção deste artigo foi a Pesquisa Bibliográfica, a partir de autores que fundamentam a questão do desperdício e da escassez de água, cuja leitura, análise e entendimento das publicações permitiram explicar as causas que levam as famílias desperdiçarem água potável nos seus domicílios.

Para mais bem se entender o que seja a Pesquisa Bibliográfica, tomou-se o apoio de Lopes e Fracolli (2008) que a definem como sendo a descrição de informações sobre um tema e que seu acesso resulte em uma situação de conhecimento sobre dado problema de pesquisa.

O principal objetivo da Pesquisa Bibliográfica é fornecer uma síntese dos resultados de pesquisa para auxiliar os profissionais a tomar decisões, em especial os profissionais de Biologia, a partir da compreensão e análise do que já existe publicado sobre o assunto. Deste modo, o estudo Bibliográfico assume função integradora entre o conhecimento, leitor e pesquisador possibilitando o acúmulo de conhecimentos.

As publicações coletadas significaram a exploração de livros, artigos científicos e Monografias de Pós-graduação. A estratégia de busca das bibliografias de interesse do estudo foi a partir das seguintes Palavras-Chave: Escassez. Quantidade. Uso. Famílias. Domicílios.

As fontes exploradas para a coleta das publicações científicas foram: Google; Biblioteca Virtual Nacional; Biblioteca Online da UEPA; e em alguns sites que disponibilizam material sobre o problema de desperdício e escassez da água.

Os critérios de inclusão das publicações foram: Estudos publicados em língua portuguesa; Estudos publicados em revistas científicas especializadas, contendo volume, número, e data da publicação. As publicações que não atenderam este rigor científico foram excluídas, com a finalidade de dar maior credibilidade e consistência a pesquisa.

A partir das orientações metodológicas de Lopes e Fracolli (2008) procedeu-se do seguinte recorte sobre o material bibliográfico e de interesse deste artigo, notadamente quanto: os objetivos, evidencias e principais resultados de cada documento bibliográfico levantado, de modo a encontrar respostas para os objetivos tecidos neste do trabalho.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O entendimento das causas e motivações que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus domicílios passa por dois recortes, cujos autores supracitados neste documento científico permitiu os seguintes resultados:

• A análise da dinâmica do desperdício de água potável

A questão do desperdício de água passa por várias situações de ordens macrosociais, como:

- Exclusão social na aquisição regular da água, o que faz as populações buscarem formas alternativas escusas de obtenção do líquido sem qualquer tratamento e controle.

- Ausência de um sistema hídrico planejado e controle de modo eficiente o uso do recurso.

- Falta de investimentos em novos materiais para substituir os obsoletos equipamentos de transportes de água, com perdas do liquido da fonte até o seu destino final.

- Falta de um programa ou mecanismo que melhor controle o uso abusivo de água; etc. Enfim, tudo isto contribui para promover a cultura do desperdício.

• A avaliação da possibilidade do uso sustentável da água

O uso sustentável da água passa pela instituição de mecanismos para o enfrentamento do próprio desperdício, a partir da intervenção do poder público no segmento hídrico potável. As Leis devem ser colocadas em prática, com adoção de taxa e tarifa, de modo a elevar o potencial econômico da água, por um lado, e combater o desperdício a partir do seu uso racional e controlado.

O poder público, como gestor da água, deve garantir premissas básicas recomendadas pela Declaração Universal da Água, tais como:

II – A água é a seiva do planeta, condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal e humano. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida - Art. 3º de Declaração Universal dos Direitos Humanos.

III – Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e parcimônia.

O reuso da água pode ser um importante instrumental de sustentabilidade da água potável, no entanto esta iniciativa carece de investimentos em equipamentos e instalações. Este descaso impede uma melhor alocação dos recursos hídricos entre as famílias, contribuindo para manter a crônica desigualdade de acesso de água potável, tão importante para reduzir o desperdício.

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO

O presente artigo científico teve o objetivo de explicar as causas e motivações que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus domicílios. Nesta busca, a metodologia da Pesquisa Bibliográfica permitiu alcançar a seguinte conclusão:

As causas que levam às famílias a desperdiçarem água potável nos seus domicílios são as seguintes: desconhecem o real risco de escassez da água; acreditam, por pagarem uma conta, podem usar de modo desmedido; o uso clandestino, dando a ideia que a água é sem custo; ausência de equipamentos de controle da água; o não uso de água da chuva; o uso de materiais que consomem grande quantidade de água, como é o caso das descargas dos vasos sanitários.

O desperdício de água potável nos domicílios se torna mais grave, quando se percebe que o uso doméstico é o segundo segmento que mais demanda o líquido precioso,ficando apenas atrás da agricultura, responsável por quase 70% do consumo do líquido.

Diante deste resultado, reafirmamos a nossa a posição de que a questão não é deixar de fazer as necessidade domésticas, as quais derivam do uso de água, mas que a exploração deste bem deve ser realizada de maneira racional e produtiva, a partir do seu controle e do reaproveitamento deste bem.

Para solucionar o problema de desperdício de água nos domicílios recomendamos uma mudança de paradigma de comportamento e de hábitos das populações, a qual deve ser estimulada pelos governos, através de incentivos, tarifas, programas de intervenção, campanhas de conscientização na mídia visual e ouvida, bônus, palestras nas escolas, entre outras ações consistentes.

Enfim, fecha-se este artigo com a seguinte síntese: “O homem vem destruindo ao longo dos tempos, uma das capacidades de suportes elementar para a reprodução da vida humana na terra, que é a própria água”.

REFERÊNCIAS

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ANDRADE Ocimar Ferreira de; VIEIRA, Flávio Dias. Avaliação do desperdício hídrico de água potável no uso de bebedouro elétrico de pressão por alunos de uma escola pública em Cabo Frio-RJ. Boletim do Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego, v. 6 n. 1, p. 115-137, jan. 2012.

BRASIL, Ambiente. Disponível em http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./agua/doce/index.html&conteudo=./agua/doce/artigos/desperdicio.html. Acesso em: 7 set. 2016.

COSTA, Isabella Chaltein de Melo et al. Desperdício de água potável em uma unidade de alimentação em nutrição de uma escola militar em Belém-PA. In: Anais do III Congresso de Educação em Saúde da Amazônia (COESA), Universidade Federal do Pará - 12 a 14 de novembro de 2014.

CHAVES NETO, Laurindo. Gestão das águas no século XXI: uma questão de sobrevivência. São Paulo: Atlas, 2005.

HOLANDA, Ana. Futuro da água depende da mudança de práticas atuais. In: Associação dos Engenheiros da SABESP. v. 2, n. 23, p. 01-47, ago. 2006 (Encontro Técnico 2006).

LOPES, Ana L.M; FRACOLLI, Lislaine A. Revisão Sistemática de Literatura e Metassíntese Qualitativa. Texto e Contexto, Florianópolis, v.17, n. 4, p. 771- 778, dez 2008.

MURAKAMI, Luciana Molinari. A utilização de água de maneira sustentável em residências unifamiliares. 2012. 79 f. TCC (Curso de Especialização Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Departamento de Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2012.

REBOUÇAS, Aldo da C. Água no Brasil: abundância, desperdício e escassez. Bahia análise & dados salvador, v. 13, n. especial, p. 341-345, jun. 2003.

RIO DE JANEIRO. INSTITUTO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA. Água: o combustível da vida. Rio de Janeiro: IETEC, 2005.

SILVA, Mayssa Alves da; SANTANA, Claudemir Gomes de. Reuso de água: possibilidades de redução do desperdício nas atividades domésticas. Revista do CEDS - Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB, v. 1, n. 1, p. 01-14, ago. 2014.

VIEIRA, André de Ridder; COSTA, Larissa; BARRETO, Samuel Roiphe. Cadernos de Educação Ambiental Água para Vida , Água para Todos - Livro das Águas. Brasília, DF: WWF-Brasil, 2006.

VICTORINO, Célia Jurema Aito. Planeta água morrendo de sede: uma visão analítica na metodologia do uso e abuso dos recursos hídricos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.

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Como citar este Documento:

PINTO, Roberto de Lima; BEZERRA, Francisco de Assis Pinto. Um estudo sobre o desperdício de água potável. In: Recanto das Letras. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5942605. Acesso em: dia, mes, ano.

Assis Bezerra

Pesquisador. Consultor Acadêmico

pinto.bezerra@hotmail.com

ASSIS BEZERRA e Roberto Pinto
Enviado por ASSIS BEZERRA em 16/03/2017
Reeditado em 24/03/2017
Código do texto: T5942605
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