A rasteira do óbvio: Francis e Chiron (publicado originalmente em 18/2/2017)

É difícil imaginar outro país que não os EUA a montar uma fita como ‘Moonlight: Sob a Luz do Luar’, que estreia na quinta-feira, 23, no Brasil. De edição ágil, esplêndida visualmente, e com roteiro nem um pouco quadrado, captura o espectador logo nos primeiros minutos. A história de Chiron, desde a infância até a fase adulta é narrada com pujança.

O país é aquilo em seu submundo. O protagonista e o seu autoconhecimento flutuam na telona em instantes magníficos, alguns até beirando o sublime. E o futuro dele, qual será? Barry Jenkins, nascido, criado em Miami, é o diretor do filme exatamente ali ambientado. Chiron fica cara a cara com as drogas, o bulling, as humilhações e ranços dos amigos, da própria mãe...

Interpretado na primeira fase por Alex Hibbert e na derradeira por Ashton Sanders, o garoto pena pra sonhar. Exercer o pleno direito da vida dava trabalho naquelas redondezas. Mas é ao topar com Juan (Mahershala Ali, indicado ao Oscar de coadjuvante – merecidamente, diga-se) e sua esposa Teresa (Janelle Monáe) que Chiron ganha a rasteira do óbvio. Sempre monossilábico e com a cabeça baixa, começa a se transformar num cidadão, mesmo no desvio da convivência, pois Juan é o chefe do tráfico de drogas local.

Paula (Naomie Harris, também finalista como coadjuvante, de igual mérito), a mãe de Chiron, é viciada em drogas. Todos os dias expulsa o jovem da vida dela com as vis atitudes. Jenkins, 37 anos, empertiga o elenco com destreza. Os atores estão conectados um ao outro, se esta expressão me é permitida escrever. Tudo roda na maior coordenação, como se o time remasse rumo à medalha de ouro.

A fotografia tira o fôlego do mais insensível observador, principalmente na sequência final. A trilha sonora esbanja afeto, atada com a sofisticação de babar. Deve ganhar como melhor edição, mas não estranharia se levasse também o troféu de roteiro adaptado. Depois de várias reclamações à Academia ano passado, da não inclusão de longas com temática negra, agora além de ‘Moonlight’ temos ‘Estrelas Além do Tempo’ e ‘Cercas’.

Paulo Francis poderia refletir melhor acerca do assunto. Aliás, neste fevereiro completam-se exatas duas décadas de seu desaparecimento. Taí: a ligação possível entre Francis e Chiron.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 23/02/2017
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