Site literário ou obituário?
Site literário ou obituário?
R. Santana


Algum desavisado, pelo título, poderá antecipar: “Oxente, não é sua academia?” De chofre, responder-lhe-ia: “Já foi amigo, hoje, é de alguns condestáveis, que o silêncio é sua dialética, ademais, não critico a instituição em si, a instituição é perene, porém, seus membros são pobres mortais com defeitos e qualidades, mas que alguns pecam em enxergar em si, excelências e, defeitos nos outros, ou seja, Deus pra si e Diabo para os que não lhes dizem amém sempre”.
No ano que findou, depois que fui informado que haveria eleição na academia, escrevi: “Bom senso na ALITA”, quando ressaltei a necessidade de renovação em sua administração e tracei, mais ou menos, o perfil de um novo presidente para a instituição: um presidente agregador, competente e desenvolto na comunidade itabunense.
Mas, estimado leitor, voltemos ao título: “Site literário ou obituário?”, permita-me antes, com devida vênia, perguntar-lhe: “Já acessou o site da ALITA?”, se me responder que “sim”, vai concordar com esse título, pois ali, afora alguns textos e informações de lançamento de livro do pessoal da corriola, os demais espaços registram as mortes recentes e não recentes de personagens ilustres da comunidade itabunense ou além mar de Ilhéus; se me responder que “não”, peço-lhe que o acesse e irá constatar que nosso argumento não é gratuito, não é de “inimigo” ou, de pessoa ressentida por admoestação e alijada do grupo, mas de pessoa que gostaria de ver a academia sair da pasmaceira que se encontra.
Entendo e pratico no meu diário online, que o registro do passamento das pessoas que contribuíram para nossa terra que já foi do cacau, é condição sine qua non, porém, deve ser uma informação passageira, não duradoura, quase definitiva. Acho um desvio de finalidade de um site acadêmico ou qualquer veículo de informação e de conhecimento.
Embora de saudosa memória, me “arrepio” quando abro (há um mês) o site da ALITA e lá encontro a imagem da professora Litza Câmara, vem à mente, suas aulas no Colégio Firmino Alves ou quando me empurrava, a contragosto, goela adentro, as teorias didáticas de Nerici e genéticas de Lauro de Oliveira na Faculdade de Filosofia. É justa sua homenagem, assim como de Ramon Vane, José Adervan, e, tantos outros, porém, não condiz com a finalidade de um site de literatura, cujo objetivo maior, é propiciar aos seus leitores, informações literárias, científicas, a indicação de bons livros, bons contos, boas crônicas, bons poemas, de autores regionais e do país.
Certamente, essa linha editorial mórbida não é da acadêmica Raquel Rocha, é notória sua competência na área de comunicação, todavia, ela possui prerrogativas limitadas, isto é, ela reina, mas não governa... Sei quanto é difícil lidar com personalidades autossuficientes, pseudo-democráticas, egocêntricas e “estrelas”.
Esta semana, um estimado confrade, telefonou-me e avisou que haveria reunião (não sou convidado há um ano), naquele dia, na ALITA, que a presidente estava lhe responsabilizando pelo meu comportamento difícil. Respondi-lhe que sou de trato fácil, amigo, solidário, fiel, todavia, não gosto que me subestime, porque de energúmeno, de jeca, só tenho a aparência e o jeito de andar. Contudo, não denigro ninguém, não sou néscio para fazer ataques pessoais, eu expresso o meu descontentamento de ideias, não sou repositório da verdade, mas acredito que a verdade surge no contraditório, na boa discussão, não acredito no “magister dixt et dixt”.
A ciência surgiu da observação de Francis Bacon, do susto de Isaac Newton (a maçã caiu em sua cabeça e descobriu a Lei da Gravidade), da maiêutica de Sócrates, da curiosidade de Einstein, de Fermi, de Darwin, de tantos outros gênios da humanidade. A ciência assim como a literatura e a arte, evoluem pelo descontentamento, pela mudança, não pelo “status quo” permanente, não pela resistência ao novo e medo de mudança. Ideias centralizadoras, resquícios autoritários, nunca contribuíram para o desenvolvimento da humanidade.
Entrei na ALITA, graças ao espírito generoso de Dr. Marcos Bandeira (não nos conhecíamos, ele conhecia as bobagens que eu produzia e lhe enviava por e-mail e mais 5000 amigos virtuais). Não fui movido pelo desejo de “imortalidade”, mas fui movido pelo desejo de fazer parte do “nous aristotélico”, isto é, estar entre as inteligências mais reconhecidas da cidade. Todos nós somos mortais. A obra consistente, inspirada e diferente, permanecerá. Não é qualquer “obrinha” que ficará para posteridade, mas a obra diferente, o resto, irá pra o lixo da História. Não importa se o sujeito pertence a mais de uma academia de letras, de ciências, de artes, de Jurídicas, se pertence a clubes de poetas, de escritores, etc., importa, se ele não é um mero reprodutor de temas esgotados, de ideias conhecidas e ultrapassadas, mesmo que seja erudito e membro de muitas confrarias.

Sartre, Graciliano Ramos e Mário Quintana, não se notabilizaram como acadêmicos, este último, depois de tanto concorrer para ABL e ser rejeitado, brincou: “...eles passarão, eu, passarinho...” Não me satisfaz ser membro de uma academia, se o preço for balançar a cabeça como lagartixa, entretanto, honra-me pertencer ao mundo dos “imortais” se o meu pensamento for livre, independente, limitado, apenas, por princípios éticos e morais.
Enfim, estimado leitor, que conhece o site da ALITA e o compromisso daquele que não a conhece, conhecê-la: "Site literário ou obituário?..."


Rilvan Batista de Santana, Itabuna, 18.02.2017
Licença: Creative Commons.