O VELHO E O NOVO... FELIZ NOVO (MAIS EDUCAÇÃO)!

Definição de NOVO: que nasceu recente, que substitui e supera o anterior; que apresenta novidade ou inovação; moderno.

Aí o governo apresenta “UM MAIS EDUCAÇÃO” com intencionalidade de velho, com tendências arcaicas e propostas empobrecidas, e o denomina de NOVO MAIS EDUCAÇÃO.

A proposta apresentada para o trabalho com o “NOVO” MAIS EDUCAÇÃO é uma curva fechada, um caminho já percorrido por tempos diversos; já se sabe até onde ele pode levar. É como a tarefa daquela criança cobrindo o pontilhado do coelhinho até chegar à toca. E ela, que já “acompanhou o voo da borboleta” tantas vezes, quase a levando com a ponta gasta de seu lápis de volta ao casulo; que já cobriu os “traços da chuva” das nuvens até o chão, quase pedindo aos Céus que não mais chovesse; que levou, tantas vezes, o cachorrinho até a sua casa, e só não o prendeu por gostar de ver o bichano livre, essa criança, antes de nascer o primeiro MAIS EDUCAÇÃO, O “velho” MAIS EDUCAÇÃO, ela já dissera: “De novo esse coelhinho, professora? Por que eu tenho que levá-lo tantas vezes para a toca?”.

O processo intelectual não está desvinculado do corpo nem dos campos de atuação do sujeito; a criança aprende com seu corpo inteiro, não apenas com olhos e mãos, necessitando, para isso, adentrar todo e qualquer espaço possível de interação. À escola não cabe mais um aprendizado baseado em simulações. A criança não quer mais acompanhar o voo da borboleta no papel; ela quer dançar os próprios movimentos da borboleta, porque isso lhe proporciona, além de aprendizados diversos, prazer, vida.

Ah... (VELHO) MAIS EDUCAÇÃO... Que surgiu quando a professora Jaqueline Moll ousadamente pensou numa ponte que conduzisse a escola à educação integral tão sonhada e pregada por Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Paulo Freire etc., criando um espaço que, pouco a pouco, deixava para trás uma escola sem vida e sem movimento; oportunizando o nascer de uma escola cujo currículo passou a dialogar com a cultura local, as artes, a tecnologia, o esporte, o lazer, a saúde... A proposta do Programa Mais Educação, que é a proposta da educação integral, da formação do sujeito como ser multidimensional, propõe a ampliação das dimensões educativas do estudante, oportunizando-lhe aprendizagens significativas e condições para o seu crescimento, não apenas intelectual, mas pessoal, cultural, social, ético e estético.

Sim! À escola não compete informações tão-somente escolarizantes; seus sujeitos precisam adentrar em espaços diversos, dialogar com a sociedade, tecendo e vivenciando um currículo vivo. A escola não pode mais continuar se escondendo de sua real função, que é devolver aos sujeitos sua dignidade e humanidade, muitas vezes roubada nos espaços e tempos. Para tanto, há que fazer um trabalho que contemple o sujeito como um ser social e o ajude a encontrar-se e a encontrar o outro; a depender dos saberes do outro, enquanto busca sua própria emancipação.

O “velho” MAIS EDUCAÇÃO forçou a escola à quebra de paradigmas, (re)significando os tempos e os espaços educativos, proporcionando aos seus sujeitos vivências diversificadas, experimentação e vida. A proposta do “velho” MAIS EDUCAÇÃO foi pensada considerando a formação integral do sujeito, ou seja, o seu desenvolvimento como um ser pleno; foi ancorada em estudos que evidenciam que ampliando as faces do ensino e aprendizagem é possível elevar o nível cultural e intelectual do educando e, consequentemente, lhe proporcionar aprendizados sólidos e duradouros. O NOVO MAIS EDUCAÇÃO traz essa proposta? Parece-nos que não; o “NOVO” MAIS EDUCAÇÃO quer trazer de volta a estagnação das práticas educacionais; pressupõe que a criança aprende a leitura e a escrita apenas lendo e escrevendo, ao imprimir larga redução dos tempos antes reservados para atividades culturais, artísticas e esportivas, entre outras, bem como dos recursos necessários ao desenvolvimento dessas atividades; sugere que a educação brasileira avançará em seus resultados apenas ampliando o tempo da criança na escola e aumentando as aulas de linguagem e matemática, numa espécie de reforço escolar. Por onde anda o compromisso do estado com as políticas públicas de consolidação da educação integral previstas na meta 6 do Plano Nacional de Educação e na LDB?

A educação integral pensada por Anísio Teixeira compreende a escola como um espaço capaz de atingir totalmente o sujeito, à medida que percebe no seu currículo, não apenas o científico; quando oportuniza que seus espaços comuniquem valores éticos e morais, em contato com os saberes populares e no aprendizado de ofícios diversos. Essa concepção de educação integral foi suavemente (por vezes intensamente) experimentada por escolas brasileiras através do “velho” MAIS EDUCAÇÃO.

Não nos curvemos a um sistema que nos orienta práticas retrógradas! Os nossos meninos e meninas merecem prosseguir no contato com diferentes oportunidades de aprendizado. Práticas pedagógicas diferenciadas, expressões artísticas e culturais diversas podem e devem ser trabalhadas também nas aulas de linguagem e matemática. Como alertou Moll, cuidemos para que o alargamento do tempo escolar da criança não contenha “mais do mesmo”. Tracemos um trabalho interdisciplinar que valorize o acesso aos diversos campos de aprendizado. Assim, podemos impedir que a chama do Mais Educação, do “velho” MAIS EDUCAÇÃO se apague, e, junto com ela, desapareça o brilho nos olhos de nossas crianças. Continuemos lutando para fazer valer seus direitos à educação integral, a um currículo vivo que lhes provoque uma educação plena e emancipadora, contribuindo, assim, para um mundo mais justo e com menos desigualdades sociais. Só uma escola que dialoga com campos diversificados de conhecimento pode vivenciar verdadeiramente o NOVO, e, como ressaltou Anísio Teixeira, pode ser considerado um lugar “onde se vive” e não “apenas se prepara para viver.”

Andréa Mascarenhas