O ENTORPECIMENTO NA FORMAÇÃO DOCENTE

O ENTORPECIMENTO NA FORMAÇÃO DOCENTE

Me.Renata Conceição Ferreira de Jesus Souza1

Dra. Rosângela Lemos da Silva2

RESUMO: O artigo científico em questão pretende por em reflexão a ação contínua da formação docente e seus contrapontos, trazendo possíveis causas e efeitos à estagnação surgida no profissional em questão, independente do segmento em que atua e o tempo de carreira, abordando embates que tornaram-se traços habituais deste universo. O documento não é um fim em si mesmo, sem a pretensão de trazer alcunhas que venham a classificar indivíduos ou grupos que venham a rotulá-los, desmerecendo múltiplos fatores e condições que o encaminhem à prostração relativa ao seu desempenho pessoal, intelectual e profissional; contudo, oferece hipóteses pela via de reflexões, encontros, saberes compartilhados, que poderão indicar a paralisia e possíveis conduções ao rompimento desta ação.

Palavras-chave: Formação continuada. Docente. Prática pedagógica. Reflexão.

1 INTRODUÇÃO

Perceber que a problemática formativa individual do docente acredita-se que é sinal de frustração profissional por parte de alguns educadores. O professor, como qualquer outro especialista, carece de atualizações contínuas que precisam ser fortemente compactadas em sua rotina, para que seja cumprido o compromisso master da educação no desenvolvimento do aluno em sua totalidade, inclusive pela pluralidade de contratempos que envolvem a atividade.

Contudo, o desprazer é notado quando se acredita que serão dias e noites a fio, em estudos maçantes, dentro e fora de sala de aula, assim como também se é feito com seus discentes, além do rito diurnal das andaduras habituais. Raciocínio errôneo e empobrecido. Temos a grande sorte de desfrutarmos de um número descomunal de indivíduos diariamente, os quais distribuem gratuitamente estudos de caso, novas teorias e receitas de bolo - por que não? Além dos alunos, responsáveis, professores e funcionários vão e vem pelos corredores, pairando pelas dependências da instituição. Ainda que de maneira disparada, entornam conteúdos de vida e de experiência, que em grande parte são desconsiderados ao fim da jornada diária.

Plaina o ranço histórico do processo estático pós curso, que se é presenteada logo ao dia seguinte à retirada do diploma. A estagnação provisória e devida pela sobrecarga dos períodos estudados é empuxada por meses, anos e até décadas. Tal arcaísmo é energizado com doses alopáticas de inverdades, injustiças e infidelidade. Melhor dizendo, que a profissão não é promissora, que a carreira é agraciada por uns e para alguns, e pela traição doada por aqueles que não compreendem a educação em sua essência e a utilizam como palco de seus próprios interesses.

Destarte, esta escrita tem como objetivo refletir sobre a letargia docente no que tange a investigação, aprofundamento e ampliação cognitiva pessoal às tendências e referências educacionais; caracterizar os entraves que limitam o progresso intelectual, alinhando-os aos teóricos que abordam o assunto, de modo que sejam dispostas recomendações para uma possível ressignificação neste contexto.

2 PRAGMÁTICA DOCENTE

Saber que a formação docente contínua é essencial ao indivíduo não é novidade. Contudo, decifrar esta confidência, transformando as horas-aula ou o folhear de uma revista em absorção de conhecimentos seguido de práticas inovadoras, é a controvérsia vivenciada pela esfera educacional.

Conforme cita André (2015) no periódico Nova Escola, "a docência é uma atividade complexa e desafiadora, o que exige do professor uma constante disposição para aprender, inovar, questionar e investigar sobre como e por que ensinar". Nota-se que existem dois lados de uma única moeda de alto valor chamada iniciativa: ambos as faces necessitam de buscar canais que tornem a educação mais atrativa e eficiente.

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1 Mestre em Ciências da Educação pela Universidad Iberoamericana, Asunción. Doutoranda em Ciências da Educação pela Universidad Columbia Del Paraguay.

2 Dra. em Ciências da Educação pela Universidad Autónoma de Asunción. Posdoutoranda em Direito pela Universidad Del Museo Social Argentino-UMSA, Buenos Aires.

Professores, seja individualmente ou em grupo, tem o débito de sanar diariamente angústias pela via do conhecimento e, por outro, secretaria de educação, equipe diretiva e outros setores ou pessoas envolvidas carecem de técnicas e meios que tornem suas formações e encontros mais encantadores ao docente. Mas, em se tratando do educador, como trazer à tona o desejo pelo próprio desenvolvimento intelectual, quando é provocado por uma anormalidade?

O estímulo ao verdadeiro profissional é automaticamente ativado quando se é vislumbrada um novo caso. A luta interna entre o pesquisar e agir e o estatizar e aceitar é ininterrupta. De acordo com Tardif (2002), a prática reflexiva pode ajudar o professor a responder às situações incertas e flutuantes, dando condições de criar soluções e novos modos de agir no mundo. Pelo "vai e vem" diário, o esquema mental é permeado por situações adversas sem que o mesmo tenha se programado a receber. E, então, os momentos de conversas informais e, melhor ainda, encontros de classe, reuniões pedagógicas e outros precisam ser vulcões em erupção, sendo sua lava a discussão, reflexão e planejamento para novas demandas.

Libâneo (1998) acredita que os momentos de formação continuada levam os professores a uma ação reflexiva. Permitir a exposição das ansiedades, escutando, absorvendo e trabalhando hipóteses é sobrepor à lógica ensino-aprendizagem de conteúdos básicos que, logicamente são essenciais, mas de quase nada valem quando não são associados às temporalidades escolares.

Gatti (2010), alerta que a formação de professores não pode ser pensada a partir das ciências e seus diversos campos disciplinares, como adendo destas áreas, mas a partir da função social própria à escolarização – ensinar às novas gerações o conhecimento acumulado e consolidar valores e práticas coerentes com nossa vida civil.

Behrens (1996), alerta que "a essência da formação continuada é a construção coletiva do saber e a discussão crítica reflexiva do saber fazer”, associando conteúdos à realidade social, não desmerecendo suas atribuições, mas trazendo nova figuração ao contexto escolar, um espaço de transformação social.

Por outro lado, Marin (2005), destaca que "a formação continuada consiste em propostas que visem à qualificação, à capacitação docente para uma melhoria de sua prática, por meio do domínio de conhecimentos e métodos do campo de trabalho em que atua. Refletir, perpassando seu lócus ou a acomodação provocada por anos na mesma cadeira, ainda que os ouvintes e colaboradores sejam outros e outros...

O aprendizado do professor não pode ser deteriorado, ou na pior das hipóteses, esquecido. O ciclo formativo, não se encerra, é contínuo, ininterrupto seja ele em qualquer amplitude, salvo que haja o infeliz adormecimento das intenções e boas práticas trazidas na bagagem do docente. Conforme Sabino, “de tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar; fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda em início de carreira, o espanto ou admiração são originados pela distorção teoria X realidade. Os antigos estudantes - hoje profissionais - deparam-se com o outro lado da moeda, percebendo que a ação fantasiosa dita nos institutos de educação ou ainda, na universidade, passa em distante escala ao que se é enxergado. Susto, revolta, são algumas das sensações provocadas pelo choque.

Neste contraponto, pesa ao profissional a responsabilidade pela reversão do quadro. Compreender e associar teoria e prática, sonho e realidade, querer e poder. Manobrando entre tais curvas educacionais, segue o professor que persiste, talvez mais aluno que professor, porque percebe ser longa a caminhada. Lê, relê; escreve, apaga. Reflete. E pensa que há saídas para determinadas questões que lhe são visualizadas em seu dia a dia.

Não se pode contemplar, tão somente na educação, a dificuldade de prosseguir debruçado nos livros, tablets e rascunhos. Outras esferas encontram-se nesta situação, com o agravante de compreender que a não atualização gera a não recolocação no mercado ou a adequação à uma nova função ofertada. Porque, então, deslizar entre os dedos e a mente a empobrecida intenção de que se é possível permanecer para sempre com a mesma qualificação, mesmo ciente estando de que o mundo evolui e as informações são, em grande parte, descartáveis? Para quê insistir na ideia retrógrada de giz, quadro negro, carteiras enfileiradas, e transcrição de lousa para o caderno de tudo o que foi ofertado em algumas horas? E, na pior das lembranças, memorizar tão somente o que foi transferido para que seja respondido em uma prova?

Como já mencionado, a responsabilidade do educador perpassa os recheios didáticos. O conjunto de conceitos e ideias de nada será validado se não for afiliado à prática da transformação social, a precisão urgente em trazer à tona o cidadão que sonhamos, o sujeito que transforma e multiplica. E cabe também a nós este papel.

REFERÊNCIAS

BEHRENS, Marilda Aparecida. Formação continuada dos professores e a prática pedagógica. Curitiba, PR: Champagnat,1996.

GATTI, Bernadete. Formação de professores no Brasil: características e problemas. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, out.-dez. 2010.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MARIN, Alda Junqueira. Didática e trabalho docente. Araraquara: Junqueira e Marin, 2005.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

rcdjsouza e Rosângela Lemos da Silva
Enviado por rcdjsouza em 21/01/2017
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