São Sebastião

Ontem eu fui muito imprudente, era um dia muito especial pra mim que sou católico, afinal foi o dia do padroeiro da cidade e eu reclamando de falta de assunto pra escrever. Em dois momentos me senti sacudido, como se tivesse levado uma bronca. Quando sai de casa deparei-me com um garoto solitário, sentado na rua à beira da calçada, triste, parecia chorando. Quando passei, ele me encarou em silêncio, aquilo mexeu um pouco comigo, sei que os jovens tendem a superestimar seus momentos de angústia, já passei por isso tambem, mas isso não quer dizer que a dor seja menor ou irreal. Num segundo momento dando uma lida no blog de um amigo ele postou uma linda imagem de São Sebastião superposta à imagem da cidade, uma singela homenagem a essa data tão importante.

O culto ao santo mártir, que emprestou seu nome a Cidade Maravilhosa, data do início do século 4 da era Cristã e conta a história de um soldado romano que, tratando os prisioneiros, que seguiam a crença no Cristo, com bondade, após ser indagado pela sua atitude, declarou-se convertido e permaneceu fiel à sua crença, mesmo após a decretação de morte por flechadas e espancamentos, seu corpo foi resgatado secretamente por uma fiel seguidora e sepultado onde hoje existe uma basílica em sua homenagem, tornou-se o padroeiro dos soldados e um exemplo de fidelidade a Fé cristã. A relação com a Cidade Maravilhosa, tem início em 1502 quando navios portugueses, descendo a costa brasileira desde a Bahia, entram pela baía de Guanabara (óbvio que ainda não tinha esse nome), acreditando ser a foz de um rio, por isso batizaram o lugar com o nome de Rio de Janeiro, em 1565 com a chegada da armada portuguesa e liderada por Estácio de Sá, a cidade foi rebatizada com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro, por dois motivos: o primeiro em homenagem ao rei de Portugal D. Sebastião e o segundo pela data católica, assim como em muitos lugares do Brasil, os portugueses, muito ligados a sua religião oficial, tinham por costume eleger algum padroeiro para o local a ser habitado, logo um mártir da Fé bélica era o mais apropriado já que havia a iminência de uma invasão francesa. Sendo assim, apesar de nunca ler em lugar algum o nome do santo (que não seja num documento oficial do governo), apesar de poucos cariocas terem consciência da existência do mártir, atrelado ao nome da cidade (infelizmente a maior relevância é o feriado em si e não o porquê do feriado), estamos protegidos por esse Soldado de Cristo. A imagem 'limpinha' com algumas flechas cravadas no corpo, divulgada pelo fiéis devotos assim como a de Jesus Crucificado, não faz jus ao flagelo que esse santo sofreu pela sua devoção, é notório que os romanos não tinham qualquer clemência com os que professavam uma Fé maior do que a devoção ao César romano, logo é fácil imaginar os requintes de crueldade com que ele foi supliciado, sendo assim seu corpo, ao final dos linchamento e flechadas, coberto de sangue e hematomas, nu e arrastado em praça pública, serviu como modelo do fim reservado para os que pretendiam seguir tal Fé, era uma forma de mostrar a inutilidade dessa devoção, como se dissessem '- Onde esta o Deus dele?'.

Acho graça quando leio alguns artigos em que mencionam a inexistência dos grupos de Direitos Humanos pra limitar a violência contra os responsabilizados pelos crimes a época, mas, a contar que, geralmente esse 'direitos' só são aplicáveis quando o réu realmente é culpado, creio que São Sebastião não teria o privilégio de nenhuma voz levantada a seu favor.

Falando em mártires, a devoção aos santos, eleitos pela Igreja Católica, é uma importantíssima ferramenta para solidificação da Fé, apesar das propagação falaciosa de idolatrias, os exemplos deixados por esses amantes e fiéis na palavra do Filho de Deus, abrem caminhos e respondem a algumas perguntas que possam brotar nos corações em respeito as duras penas impostas por essa vida tão complicada pra se viver. Claro que nenhum exemplo é mais completo que o deixado pelo próprio Cristo, mas a devoção aos santos explica-se de forma muito simples. Uma empresa em que um trabalhador esteja necessitando, por um motivo qualquer, de umas férias em caráter de urgência, ele entra em contato com seu superior hierárquico solicitando o recurso, esse promete ver o que pode fazer por ele, ao final do dia o trabalhador recebe a notícia de que havia conseguido o benefício que tanto almejava. Com muita alegria este dirigi-se ao seu superior e cobre-lhe de agradecimentos e deixa o seu local de trabalho com o coração transbordando de alegria e sentimentos de que ali seja o seu lugar. Daquele momento em diante o superior contará com a cooperação de um subordinado fiel e prestativo, dado o favorecimento que conquistou para ele. Ora, é óbvio que não foi o superior que concedeu o tal benefício da forma como foi aconteceu. Toda empresa organizada tem um cronograma eventos e, geralmente, as férias de todos os funcionários obedecem ao planejamento anual previamente estabelecido e autorizado pelo dono da empresa, uma mudança no cronograma envolve um sem-número de pessoas disposta a trabalhar pra remanejar toda a programação e isso dá um trabalhão danado, mas nada seria possível se o próprio dono não aceitasse tal mudança. Inconscientemente o trabalhador sabe disso, mas ele não agradece ao dono, mesmo porque muitas das vezes o acesso tem alguns entraves diplomáticos que transgrediriam uma ordem de hierarquia na cadeia de comando, mesmo sabendo que o superior foi só um meio pra conseguir o fim desejado. Ele foi muito grato pela intercessão do superior ao seu favor. Guardadas as proporções, a analogia é simples e totalmente razoável, eu mesmo já percebi situação semelhante. E é, mais ou menos com esse espírito que cada católico elege seu 'padrinho' espiritual. Todos sabemos que a graça vem de Deus e não há nenhuma outra fonte além dessa. Porém a riqueza da Fé Católica não é estéril, temos um céu fervilhando de milícias de anjos e santos, além da Virgem Santíssima, Mãe de Deus, Rainha de todos os santos, que sempre olha por seus filhos amados. A 'aproximação' dessas almas com os favores de Deus é um dogma inefável que faz parte do credo católico: 'A comunhão dos Santos', todo o céu esta em comunicação direta com o Deus Pai. - "Aqueles que os receberem a mim receberão." - É Deus rebaixando-se ao nosso nível e elevando-nos em grau de perfeição. Mas os méritos dos que já passaram pelo crivo dessa vida, e permaneceram fiéis, são todos deles e não nossos. Mesmo porque temos muito o que aprender.

M P Cândido
Enviado por M P Cândido em 20/01/2017
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